Se há coisa que, como professor ou encarregado de educação, me irrita acima da média é todo o aparato ideológico-burocrático, com chancela teorizadora de uma sociologia de vão de escada, destinado a relativizar a gravidade dos comportamentos ditos disruptivos, que muita gente parece pronta a achar que são apenas não-conformistas, e a tentar atenuar as consequências para quem os pratica, querendo fazer-nos acreditar que são eles as verdadeiras vítimas do sistema. Não, não é verdade. As verdadeiras vítimas são aqueles que cumprem as regras, que não aldrabam, não agridem, não mentem, não tentam denegrir o trabalho alheio ou amesquinhar os colegas (já não sei se estou só a falar de alunos…), mas que depois são obrigados, em tantas situações, a conviver com a impunidade dos que os ofenderam ou maltrataram, porque há toda uma parafernália de mecanismos destinados a convencer-nos que não é a punir que se consegue alguma coisa. Resta saber se não punindo, não estaremos a desmoralizar mais do que aquilo que podemos marginalmente ganhar com as teorias da contextualização da agressão.
E isto faz-me lembrar o meu falecido professor Cordeiro Pereira quando dizia, com a sua subtil ironia, que apreciava muito bons historiadores marxistas só tendo pena que em Portugal apenas existissem de 2ª e 3ª ordem. Porque eu sou um grande apreciador de Sociologia da Educação e até tenho ali uma bela prateleira temática, só lamento é que entre nós tenhamos este campo académico-político ocupado por gente de 2ª e 3ª ordem, com uma preocupação maior em provar os seus preconceitos ideológicos do que em defender uma verdadeira justiça no tal sistema.
Se ser justo é apenas punir? Claro que não, porque é essencial prevenir. Mas isso os nossos sociólogos subsidiodependentes do artigo online replicado em éne revistas indexadas raramente se preocupam em afirmar, estendendo a responsabilidade pela prevenção às instituições que ficam do lado de fora do portão das escolas. Ou reconhecendo que as vítimas são na maioria das situações mesmo as vítimas e os agressores os reais agressores, bem como é importante que quem assiste a isto tudo não fique com a ideia de que o mundo é dos chico-espertos, malcriados e grunhos.
Essas luminárias vêem, quase invariavelmente, a disciplina pelo seu lado negativo, punitivo, inibidor, autoritário, quer dizer, pelo que ela não permite fazer, e esquecem de ver e realçar o que ela tem de positivo, o que ela produz ou permite produzir – melhor relacionamento dentro e fora da sala de aula, mais e melhor trabalho, crescimento moral e integral dos alunos como pessoas.
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Não posso concordar mais com o que descreve!
Atrevo-me a dizer que esses pseudo-educadores regrediram ao tempo do “laisser faire, laisser casser”….
Vivemos tempos de regressão…
Quem sabe oferecer chuchas aos prevaricadores possa ter o efeito de os acalmar…. Sei lá…
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Não diga tal coisa, Paulo Guinote… Você sempre a abater os rouxinóis que cantam no salgueiro e a ceifar as flores que crescem nos jardins… Ah!… e no meio do cardo rompe a linda corola violeta…
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