A CGD sempre foi uma prateleira dourada para políticos em pousio se transformarem em administradores, executivos ou não, de escassas qualidades no sector bancário. Muitos foram-no apenas para serem facilitadores ou transmissores de agendas políticas e para subsidiarem negócios das redes clientelares. A pouco e pouco vai-se sabendo a desgraça de uma gestão política do banco público, embora dificilmente eu veja a possibilidade de alguém ser responsabilizado criminalmente por uma série de crimes financeiros praticados contra o interesse público. Porque quem os fez deixou daqueles rastos ténues que se percebem, mas raramente se aguentam em tribunal por causa de umas tecnicalidades que a seu tempo foram introduzidas no nosso “ordenamento jurídico” por forma a complicar a vida a quem quisesse ir atrás desta maralha (e de outras, não sejamos pouco generosos, porque muita gente andou por ali a encher muitos bolsos directa ou indirectamente). O caso das conexões espanholas do engenheiro e do sapateiro interessa-me, porém, menos do que o sublinhado a vermelho e que se explica em poucas palavras: o BCP não faliu porque a CGD serviu de almofada à custa da sua própria instabilidade e agora vamos ter de pagar para a sua recapitalização porque, há uns anos, era uma carga de trabalhos o BCP ir de pantanas logo em cima do BPN, revelando até que ponto a nossa classe de eméritos gestores privados é globalmente um fiasco total. O resto é conversa.

Público, 2 de Novembro de 2016
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