Mesmo a Sério?

Há algo em mim que hesita entre o sorriso condescendente e o pavor quando leio que o modelo da escola de massas “onde um professor ensina ao mesmo tempo e no mesmo lugar dezenas de alunos” que foi herdado da Revolução Industrial (nossassenhora, quanta treta histórica, pois a generalidade dos sistemas nacionais de ensino nascem dos projectos políticos liberais associados à criação dos Estados-Nação) precisa urgentemente de ser substituído por um outro mais progressista, mais avançado, adaptado aos novos tempos e novas tecnologias que, no fundo, permitirão que um professor ou mesmo uma máquina ensine à distância não dezenas mas centenas ou mesmo milhares de “alunos”. Ainda não consegui perceber se certos arautos do “futuro” e da “escola do século XXI” percebem exactamente as consequências práticas das suas excitações intelectuais. Porque me parece que ainda não entenderam que aquilo que, na generalidade dos casos, defendem é exactamente o caminho mais directo para o contrário do que proclamam. Porra, isto cansa!

brainwash

Entendamo-nos… eu também acho que precisamos de mudar, quiçá de “paradigma”, mas quer-me parecer que é no sentido contrário da despersonalização e do acréscimo de intermediações tecnológicas entre os elementos humanos nos processos e actos educativos.

A Sério?

Leio gente muito preocupada com os alunos deste país, com as discriminações, com as injustiças e iniquidades. Grande parte quer que sejam as escolas e em particular os professores a corrigir todos os males da sociedade, caso contrário são racistas, discriminadores, preconceituosos. E eles acham que sabem como se faz e tudo. Mas não fazem. Só chilreiam estudos a cada nova vaga de subsídios aos observatórios, não descontando alguns mediáticos vendedores de psicologia a rodos para consumo dos programas da manhã televisiva. Têm mesmo a certeza que sois vós que mais se preocupam com os alunos e as suas misérias quotidianas? Que não são aqueles que com eles diariamente convivem e testemunham as falhas gravíssimas que fora de portas da escola acontecem e que, delas para dentro, tudo se faz para minorar e ainda se é amesquinhado pelos doutores da ciência social do coitadinhismo? Quando será que vos leio a defender uma sociedade mais justa que dê condições a todas as crianças e jovens para chegarem à escola com uma vaga oportunidade de igualdade nas condições de partida do seu desempenho escolar? Ou será que isso seria morder as mãos políticas que vos alimentam e assinar a sentença de defunto ao vosso currículo de consultores quando o vento sopra do lado certo? Quando será que o estudo da nossa Educação deixa de se fazer, em grande parte, para consumo mediático de acordo com calendários justificativos das mudanças que a política  pequena agendou? Será que não embaraça a certos cientistas sociais serem uma espécie de avençados, mandato sim, mandato não, conforme os credos e fidelidades ideológico-académicas, das cliques políticas que lhes atiram umas migalhas do orçamento para observarem o que todos vemos?

Sim, por vezes arrependo-me mesmo de certas leituras.

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