Schocking?

Ler a imprensa americana, mesmo alguma mais conservadora, a tentar compreender a vitória de Trump é um exercício algo estéril, pois parece que continua uma incompreensão fundamental: Trump venceu por causa da incapacidade da maioria dos que se lhe opunham entenderem que foram eles os causadores do fenómeno, ao deixarem-se atascar numa prática política em circuito fechado, endogâmica e cada vez mais presa por uma força centrípeta. Trump surge quando as opções disponíveis estão ao nível dos painéis de comentário político com rangéis&assis a serem apresentados como alternativas ou os rios a fazerem primeiras páginas como se fossem mais do que testas de ferro de balsemões, uma espécie de dupont para suceder ao dupond que temos. A principal causa da vitória de Trump chama-se Hillary Clinton e a sua incapacidade para perceber que os apoiantes de Bernie Sanders também conta(va)m.

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Jon Stewart

Estava a vê-lo, na SIC Radical, no Late Show do Stephen Colbert transmitido na véspera das eleições, assim como ao Stevie Wonder e o Don Cheadle. No programa do Jimmy Fallon estava o Bill Maher. Vê-los a apelar ao voto e em especial contra o Trump depois de sabermos os resultados é algo deprimente. Resta a esperança que ele (Jon Stewart) decida interromper o seu repouso agora que aconteceu o que para ele seria impensável quando, no arranque da campanha eleitoral, a candidatura de Trump parecia apenas uma iniciativa de entertainment vagamente político. Apesar do brilho de alguns outros restantes comediantes políticos (sendo que talvez o John Oliver seja o seu mais fiel herdeiro), parece-me que a América e mesmo o mundo precisam que ele regresse. Muito depressa.