Dar o Exemplo

Sempre achei que a melhor forma de ensinar algo, ao nível das atitudes e comportamentos, passa por dar o exemplo do que é fazer bem. Para modificarmos as más práticas, nada como dar o exemplo das boas e, a partir daí, conseguir a mudança.

Ao nível das leis laborais o Estado foi entre nós, desde o 25 de Abril, como em outras paragens, em outros momentos, o principal impulsionador de leis destinadas a proteger os direitos dos trabalhadores, em múltiplos aspectos como o horário e condições de trabalho, a protecção social no desemprego ou da maternidade (e paternidade). O exemplo do sector público impulsionava as transformações no resto da sociedade e no sector privado. Desde o início deste milénio que as coisas começaram a mudar e mesmo a inverter-se. Com o último governo PSD-CDS as coisas atingiram mesmo o estado inaceitável de se defender que deveria ser o Estado a dar o mau exemplo com a desregulação dos horários de trabalho, a precarização dos vínculos laborais e a redução dos direitos sociais.

Embora exista quem diga que não pode ser revertido tudo o que foi feito de uma só vez – mas se foi feito dessa forma e se disse que estava mal, porque não se pode? – a verdade é que há áreas que permanecem cinzentas como se a cartilha dos outros não fosse para abandonar por completo, como se, afinal, tivessem parte da razão (a tese dos direitos insustentáveis do sebastiânico rio, assim mesmo, minúsculo). É o caso da manutenção, anos a fio, décadas, de trabalhadores em regime precário na função pública e, em particular, entre o corpo docente das escolas. Fala-se agora em – mais uma vez – combater a precarização do trabalho público. Resta saber se o Estado decide dar o exemplo das boas práticas, com transparência de procedimentos, se opta pela opacidade que impera em largos sectores do trabalho privado. Resta saber se a geringonça tem a coragem se assumir-se mesmo como uma coligação das esquerdas, se não passa de um governo ao centro com muletas do lado canhoto. Porque a malta das direitas não teve qualquer rebuço em assumir as suas opções que apresentou como inevitáveis. Será que conseguiram afirmar a sua narrativa mesmo aos que a ela se diziam opor à outrance, com toda a força das convicções mais fortes.

Quem defende a justiça da vinculação de quem a ela tem direito, dificilmente pode defender coisas extraordinárias, feitas à medida como se por um alfaiate, com ultrapassagens pela faixa de emergência (política? partidária?).

Magoo