O melhor é verem o resumo facultado pela própria organização, sem ser digerido pelo spin interno. Os resultados são muito animadores pois, mesmo em Ciências onde os resultados são menos bons, Portugal está entre os países que mais progrediu. Não se admirem se aparecer muito gente é dizer que é o pai (ou a mãe) da criança. Só entraram em salas de aula como vipes, mas certamente que o valor é todo del@s.
Dia: 29 de Novembro, 2016
Enviesamentos (TIMMS 2015)
Os resultados dos alunos portugueses do 4º ano nos testes TIMMS 2015 continuam a melhorar. O assunto merece uma análise séria, pois são progressos contínuos com duas décadas, e não uma abordagem política em que o bom é nosso e o mau é dos outros, como fez o actual SE da Educação, atribuindo um menos bom desempenho em Ciências ao estreitamento curricular de Nuno Crato, mas não lhe concedendo a responsabilidade pelos ganhos em Matemática (afinal, os alunos que foram examinados são uma espécie de “filhos do Crato”, salvo seja). O que os TIMMS 2015 não podem revelar é a acção do actual governo, visto que foram feitos ANTES da actual equipa ter tomado posse. Quase faz lembrar os tempos em que a MLR reclamava responsabilidade pelos bons resultados nos exames de 2008 no Secundário por causa do PAM aplicado no Básico dois anos antes. Se isto prova qualquer coisa é que certas medidas engatilhadas a priori por esta equipa ministerial não têm fundamentação empírica sem ser com estudos encomendados à medida.
Os bons resultados nos TIMMS 2015 devem-se ao bom trabalho dos alunos e professores portugueses em contexto de sala de aula, apesar de todos os que os apedrejam (em especial aos professores) na opinião pública e dos que pretendem que estamos ainda no século XIX em termos de organização do trabalho nas escolas. Mas que, quando necessário, aparecem a apanhar as canas e a aplaudir os foguetes da festa, encavalitando-se no trabalho alheio.
Afinal, estamos acima dos States, da Finlândia, da Polónia, da Alemanha, da Suécia e da generalidade das nações que nos apresentam como faróis educacionais. Em Português apatecia-me mandá-los amarem-se a si mesmos, como o Bieber naquela canção, mas parece mal e as crianças podem perceber.
(já agora… parece que o rai’s parta dos exames do 4º ano não fizeram assim tão mal às criancinhas…)
Fases
Devo ser estranho, pois acredito que aprender não é apenas decorar/empinar por aí fora, Ensino Básico à desfilada e quiçá o Secundário, nem é desenvolver pensamento crítico desde os cueiros. Há tempos para tudo. Há uma fase de aprendizagem que necessita muito de práticas de inculcação de rotinas pela repetição (sim, sou um professor velhadas), seja “cantar” os verbos ou a tabuada (dispenso os rios e as linhas de caminho de ferro, até porque são poucas e cada vez menos) e uma outra que, após transição mais ou menos demorada, deve incentivar a análise crítica da informação que já se aprendeu ou que se vai pesquisar. Essa fase de transição é, no meu entendimento quintaleiro, o 3º ciclo, ali pelos 13-14 anos, quando já se torna possível ir mais além do que a repetição papagueante ou a criatividade pouco estruturada. É a altura em que me arrepia que ainda se tenha como modo de vida avaliar o mero decalque da ficha formativa feita uns dias antes. Mas pode ser apenas feitio meu, pois aborrece-me muito estar a classificar as mesmas coisas à dezena, setinhas, cruzinhas e coisinhas se acordo com a sebenta. Então em História é meio caminho andado para eles acharem que, mais do que morta, ela passa duas mil vezes pelo mesmo caminho.
Imaginem Só…
… as consequências de uma nova alteração de algumas dezenas de palavras nas edições de livros escolares (manuais, livros de apoio às “mudanças”, leituras previstas para o Português no âmbito do PNL, etc, etc, etc, etc, etc, etc) e em tudo o que deixará de poder ser “reutilizado” nos próprios materiais das bibliotecas escolares, tal como aconteceu há menos de um punhado de anos.
Significa isso que defendo a permanência do Desacordo Ortográfico? Nada disso, pois acho-o, como alguém disse ou parecido, uma espécie de Português depilado à metrossexual, muito pós-moderno.
O que acho é que as edições escolares e as de textos para leitura mais ou menos obrigatória pelos alunos devem ter uma versão fixada de acordo com o original e que deve estar imune a humores linguísticos passageiros de capelinhas académicas e que a diferença ortográfica deve ser explicada na sua relação com a evolução histórica do Português. Ler Gil Vicente na versão do AO90 é um exercício deprimente que nos devolve uma versão demasiado amputada do original e de tudo que pode ensinar a sua leitura sem as excessivas modernizações actuais. Se é para ler as cantigas d’amigo como foram escritas? Não, de modo algum. Mas a fixação do seu texto deveria ter algum prazo de validade para além do lustro ocasional.
Mas acho que esta minha ideia é pouco comercial e preocupa-se demasiado com o quotidiano escolar, o interesse dos alunos, de professores (a maioria, pois sei que há quem salive a cada nova rodada de mudanças) e até do próprio Orçamento de Estado (porque a cada nova mudança há que reequipar bibliotecas, subsidiar edições, alunos carenciados e tudo isso).