TIMMS 2015: Os pais da criança
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O mais curioso é que, consultados os alunos, os portugueses são os que mais elogiam os seus professores e destacam o seu empenho e trabalho (88%, um detalhe que parece menor para os políticos em trânsito), pois conhecem-no em quotidiana e diária proximidade e, a menos que sofram quase todos de uma variante da síndrome de Estocolmo, são capazes de ser os que estão em melhor posição para fazer uma avaliação com conhecimento de causa. A menos que a opinião dos alunos só conte quando são convidados a declarar que acham os currículos e os programas muito extensos.
Os pais e mães do sucesso nos TIMMS 2015 são mais do que muitos quando chegamos ao campo da política e se trata de recolher os aplausos. E, como têm direito aos microfones e às câmaras, tratam de se congratular com a auto-satisfação típica de quem se vê ao espelho pela manhã sempre tão belo e responsável por todos os bens e por nenhum dos males. O decoro já não é o que era.
Dia: 2 de Dezembro, 2016
Colaborações – Bird Magazine
Enquanto espero que uma versão mais longa possa aparecer pelo Público Online:

Planificar
Um acto razoavelmente útil quando não se trata de grelhar tempo, naqueles modelos mais do que ultrapassados de encaixar tudo o que se pretende fazer, minuto a minuto, numa metodologia curiosamente muito cara às mesmas pessoas que defendem a criatividade e a espontaneidade no ensino. Parece paradoxal e até é, mas é uma realidade que sempre me fascinou, o cruzamento dos promotores do sucesso e do ensino centrado nos alunos com a defesa da grelhagem planificadora do tempo para essas mesmas aprendizagens, como se tudo fosse uma métrica perfeita. Aquilo a que se convencionou chamar eduquês, termo agora em desuso pois os seus grandes protagonistas na formação de professores nos anos 90 estão de novo na mó de cima, tem muitas destas incoerências. Assim como os seus agentes padecem de uma radical estagnação conceptual na forma como pretendem prever tudo, atribuir uma escala temporal a cada actividade, embora defendam muito a flexibilidade, as abordagens transversais e aquelas coisas dos raciocínios críticos complexos. Mas sempre com hora marcada e ai de quem não cumpra.
Já no meu caso, gosto de planificar um processo de ensino que tenha um conjunto de objectivos – até lhes posso chamar “metas”, que agora está na moda – e um leque de estratégias para lá chegar, mas as assaduras sempre incomodaram, porque me parece que a falta de imaginação, de verdadeira atenção aos “grupos-turma” ou a cada aluno na sua singularidade, se encobre muito no labor das tabelas e em conversa fiada.
Mas quando planifico, cumpro. O que estranho é quando os viciados em grelhas e planificações não o fazem, embora de dedo em riste, sempre em busca do desalinhamento alheio.
Luto – Andrew Sachs (1930-2016)
Um pedaço absolutamente insubstituível do passado.
Not eventually.