Pelo Público Online – A Versão Menos Curta

TIMMS 2015: Os pais da criança

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O mais curioso é que, consultados os alunos, os portugueses são os que mais elogiam os seus professores e destacam o seu empenho e trabalho (88%, um detalhe que parece menor para os políticos em trânsito), pois conhecem-no em quotidiana e diária proximidade e, a menos que sofram quase todos de uma variante da síndrome de Estocolmo, são capazes de ser os que estão em melhor posição para fazer uma avaliação com conhecimento de causa. A menos que a opinião dos alunos só conte quando são convidados a declarar que acham os currículos e os programas muito extensos.

Os pais e mães do sucesso nos TIMMS 2015 são mais do que muitos quando chegamos ao campo da política e se trata de recolher os aplausos. E, como têm direito aos microfones e às câmaras, tratam de se congratular com a auto-satisfação típica de quem se vê ao espelho pela manhã sempre tão belo e responsável por todos os bens e por nenhum dos males. O decoro já não é o que era.

PG PB

Colaborações – Bird Magazine

Enquanto espero que uma versão mais longa possa aparecer pelo Público Online:

Andava o país educativo em raro repouso quando se soube, por via da divulgação dos dados dos testes internacionais TIMMS 2015, que os alunos portugueses de 4º ano estão entre os melhores em Matemática e que no Secundário o desempenho em Matemática Avançada e em Física também é completamente contrário aos discursos decadentistas sobre o nosso sistema de ensino e a sua inadequação ao século XXI. Mesmo em Ciências, área com resultados mais fracos, Portugal é apontado como um dos países com maiores progressos desde 1995, quando se iniciaram estes testes comparativos.
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São boas notícias, que deveriam ser acolhidas com júbilo, por certo, mas igualmente com um espírito de partilha pela responsabilidade por tais resultados. O que realmente aconteceu, mas como é habitual entre nós, numa lógica de circuito fechado da classe política. O actual secretário de Estado da Educação, na ausência quase permanente do ministro quando se trata de articular mais do que lugares-comuns, apareceu a reclamar que tais resultados comprovam, de forma prospectiva, a bondade das opções curriculares ainda por tomar e, num acto de veneração pela papisa educacional do PS, evocou Maria de Lurdes Rodrigues e o seu Plano de Acção da Matemática. Acrescentou ainda que esta é a prova de que foram desenvolvidas “políticas eficazes”. O PSD, por sua vez, surgiu a reclamar para si a paternidade desses mesmos resultados, por via da paixão de Nuno Crato pela Matemática, desconsiderando outras responsabilidades.
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Se dermos a palavra a mais alguns ex-governantes, mesmo que com algumas picardias político-partidárias pelo meio, encontraremos uma singular confluência quanto à conclusão que foram as políticas que todos delinearam em momento de iluminada inspiração e genialidade, mesmo que aos ziguezagues e de forma incoerente entre si na última década, que estiveram na origem dos bons resultados dos alunos portugueses. Em nenhum momento se vislumbra uma declaração que, de modo claro e – quiçá! – corajoso atribua numa prioridade cimeira a responsabilidade por tal desempenho a quem o teve (os alunos) ou a quem com eles trabalhou ao longo de anos (os professores), apesar dos revolteios curriculares, programáticos e de metas que se sucedem desde o madrugar deste milénio.
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Os pais e mães das crianças são mais do que muitos quando chega a altura de recolher os diplomas e elogios e, como têm direito aos microfones e às câmaras, tratam de se congratular com a auto-satisfação típica de quem se vê ao espelho pela manhã sempre tão belo e responsável por todos os bens e por nenhum dos males. O decoro já não é o que era.
PG Verde

Planificar

Um acto razoavelmente útil quando não se trata de grelhar tempo, naqueles modelos mais do que ultrapassados de encaixar tudo o que se pretende fazer, minuto a minuto, numa metodologia curiosamente muito cara às mesmas pessoas que defendem a criatividade e a espontaneidade no ensino. Parece paradoxal e até é, mas é uma realidade que sempre me fascinou, o cruzamento dos promotores do sucesso e do ensino centrado nos alunos com a defesa da grelhagem planificadora do tempo para essas mesmas aprendizagens, como se tudo fosse uma métrica perfeita. Aquilo a que se convencionou chamar eduquês, termo agora em desuso pois os seus grandes protagonistas na formação de professores nos anos 90 estão de novo na mó de cima, tem muitas destas incoerências. Assim como os seus agentes padecem de uma radical estagnação conceptual na forma como pretendem prever tudo, atribuir uma escala temporal a cada actividade, embora defendam muito a flexibilidade, as abordagens transversais e aquelas coisas dos raciocínios críticos complexos. Mas sempre com hora marcada e ai de quem não cumpra.

Já no meu caso, gosto de planificar um processo de ensino que tenha um conjunto de objectivos – até lhes posso chamar “metas”, que agora está na moda – e um leque de estratégias para lá chegar, mas as assaduras sempre incomodaram, porque me parece que a falta de imaginação, de verdadeira atenção aos “grupos-turma” ou a cada aluno na sua singularidade, se encobre muito no labor das tabelas e em conversa fiada.

Mas quando planifico, cumpro. O que estranho é quando os viciados em grelhas e planificações não o fazem, embora de dedo em riste, sempre em busca do desalinhamento alheio.

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