O Casal Maravilha

Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato. Ambos reclamam a responsabilidade pelo trabalho alheio. O jovem especialista de serviço concorda e acha que ele é que pensa (há carreiras construídas assim, enfunando com todos os ventos, o rapaz chegará longe com esta forma de alisar todos os pelos). O Bloco esperneia sem sentido, quando os PISA demonstram que Portugal é dos países em que os alunos mais desfavorecidos têm melhores resultados. E depois há os que dizem que tudo melhorou, mas pode piorar. Até o Ramiro Marques ressuscitou (lembram-se, aquele gajo muito lutador que apagou tudo o que tinha escrito anos a fio quando lhe deram umas migalhas na 5 de Outubro para implementar a porcaria do vocacional?). A vergonha escasseia.

Voltando ao casal. Muitas vezes escrevi que eles tiveram mais pontos em comum do que profundas divergências. Por isso, levei pancada dos dois lados, mas mantenho. E volto a lamentar que tenhamos de ser por um ou por outra. Para mim, uma nunca poderá ser branqueada pela geringonça e o outro foi uma enorme desilusão, traindo muito do que afirmara antes de ser ministro.

Os ganhos são anteriores a ambos e provavelmente continuarão muito depois deles. Só que, infelizmente, o circo está instalado na cidade.

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O Farol Apagou-se?

As transversalidades e as avaliações holísticas nem sempre resultam. Os bons resultados educacionais finlandeses não se deveram, em termos históricos, a uma escola do século XXI no século XX. Muito pelo contrário. A entrada em velocidade de cruzeiro parece não estar a correr bem. por cá, os analistas do tubérculo ramudo é que decidiram que se a Finlândia tinha bons resultados é porque a escola, no presente, era de um determinado modo, ignorando que isso não acontece desse modo. Parece que os amanhãs que cantam vão perdendo a voz, mas por cá iremos ignorar isso, enquanto não se perceber que o trotskismo educacional não funciona e que as acelerações históricas, embora façam parte do húmus ideológico da juventude de muita gente, não se coadunam com a evolução de médio-longo prazo da Educação. Para chegarmos ao século XXI precisamos cumprir as fases anteriores, incluindo os séculos XIX e XX, mesmo que com um ritmo mais forte, o que vamos fazendo. Neste momento, com uma escola pública fustigada pelas tentações demagógicas de políticos passageiros, vamos cumprindo a fase final do século XX e com resultados muito satisfatórios. Já na Finlândia, a evolução é decepcionante. Não sei se por causa do alargamento curricular. Ou das transversalidades. Ou da ausência de avaliação até ao fim da puberdade. Como foi decepcionante na descentralizada Suécia, na privada Holanda, na vocacional Alemanha…

Que raios… será que é a nossa escola arcaica que ainda funciona melhor?

Eu nunca fui dos que desvalorizaram este tipo de testes e comparações… mesmo se acho que não são indicadores absolutos. Mas lá que até fazem algum sentido, lamento, mas fazem.

The survey shows that the number of poor performers in science is growing and the number of top performers is declining, especially among boys, and regional equity is deteriorating.

-The number of students who perform poorly in science has nearly trebled and the number of top performers has dropped by nearly one third. Altogether 65 per cent of students who performed poorly in science also did poorly in mathematics and reading. Of these, two thirds are boys, observes University Researcher Jouni Vettenranta.

The gap in performance between the genders is growing and was the biggest among the OECD countries – 19 score points in favour of girls. Relative to all the participating countries and economies, Finnish girls were second best after girls in Singapore. In the comparisons among boys, Finnish boys came in tenth place. Finland was the only country where majority of the top performers were girls. The decline in the performance of boys further increases the gender gap to the advantage of girls.

Report: Finland’s fourth graders’ maths and science skills in decline

Compared to students in other countries, the test scores of Finnish fourth graders’ math and science skills have seen a decline over the past four years. According to the Trends in International Mathematics and Science Study, fourth grade female students surpassed their male counterparts in all areas. Researchers say that parents’ attitudes toward schoolwork and studying are particularly important.

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(In)Variáveis

Desde 1995, quando se iniciou a participação nos TIMMS, e 2000, quando aderimos aos PISA contra a vontade de muita gente, quem são os que ainda permanecem inalteráveis no nossos sistema educativo?

Os políticos, que passaram pelo ME às pazadas em trânsito para outras paragens e prateleiras, se possível em lugares onde pudessem reescrever a História a seu gosto?

Os alunos? Sim, em parte… foram fazendo o seu trajecto, até que saíram, alguns até se tornaram professores, ou tentaram, até se depararem com as políticas de desemprego docente dos outros acima.

Mas quem é que lá tem estado durante esses 20 anos? Quase metade desse tempo sem progressão, sendo amesquinhados publicamente por gente medíocre? Cumprindo o seu dever, apresentando resultados e tendo dos alunos uma óptima classificação?

O que me embaraça e desgosta (para além das excepções à regra do profissionalismo, claro, que as há) é que exista gente mais fiel a conjunturas político-partidárias do que à sua profissão.

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Branqueamento

Foi instrutivo constatar que, da direita mais revanchista à esquerda mais progressista, houve logo que, conhecidos os traços gerais dos PISA 2015, tenha recuperado a figura de Maria de Lurdes Rodrigues como grande obreira do sucesso, acentuando como foi de 2006 para 2009 que se deram os maiores ganhos. O próprio ME prestou vassalagem (mas alguém no PS educacional terá vida se afrontar a herança rodriguista?) e depois, numa espécie de pirueta, atribuiu os ganhos alcançados ao pré-escolar de 2006, ignorando que a tendência vem desde 2006 e que ainda há poucos dias o seu secretário de Estado tinha spinado de forma completamente diferente os resultados dos TIMMS 2015.

A teoria, que na área política da geringonça começa a consolidar-se contra a memória que se quer trincar, é a mesma de há quase uma década: as políticas de MLR eram excelentes, apenas existiu um problema de comunicação com os professores. Ao que parece, em termos de resultados, essa teoria falhou. Quanto ao resto, já há quem na área da geringonça faça por apagar da memória colectiva o ECD de 2007 e a carreira dividida em titulares e não titulares, o modelo de gestão unipessoal de 2008 e o fim da democracia nas escolas, o encerramento de milhares de escolas no interior e a criação dos caixotes escolares, as aulas de substituição não pagas, a criação da PACC e de tantas outras coisas de que Crato lançou mão, pois já ali estavam preparadinhas. Mais grave do que isso, para não dizerem que sou apenas corporativo, há quem já apague o que foi a festa da Parque Escolar para empreiteiros e outros lenas, assim como os milhões enterrados em magalhães para a sucata. Milhões que foram desviados do capital humano das escolas para negociatas com contorno pouco claros e, no caso da Parque Escolar, para criar uma escola pública a duas ou três velocidades (a intervencionada de luxo, a intervencionada pela metade e o resto).

O branqueamento do mandato de MLR é a palavra de ordem para os adeptos da geringonça, como se a recusa da Direita passasse pela completa absolvição de todos os desmandos da papisa do PS educacional. Os seus prosélitos – e agentes de controle blogosférico como o ruisantos29 que aqui me aparece – atingem todas as áreas dos partidos que suportam o governo, sendo que em alguns casos é apenas mais um episódio numa longa carreira de entendimentos e pizzas ao luar, mas que em outros dá desgosto observar pela forma como voluntariamente se silenciam e colaboram com a mistificação do passado.

Sobre o que se passou com os PISA 2009, muito escrevi na altura e quase fiquei a falar sozinho com alguns jornalistas, a tentar perceber como a amostra teria sido cozinhada (nessa altura não se atribuíram responsabilidades a reformas com 10 anos, como agora fez o ministro Tiago, eram as reformas da véspera como o PAM de 2008 a ter efeitos logo). Só anos mais tarde, através do acesso aos dados de base foi possível perceber que algo realmente se passara de estranho e que o mais honesto seria recalcular os ganhos conseguidos, chegando-se assim a uma linha muito menos “sobressaltada”. As coisas foram feitas, estão divulgadas, mas a “honestidade” dos novos operacionais e aparaachicos da Situação não permite que a sua narrativa seja perturbada com factos e quem disser o contrário é laranjinha, Como parece que voltei a ser, de novo, Depois de ser esquerdista entre 2011 e 2015.

O estudo está aqui, como já antes divulguei por diversas vezes, e dificilmente se pode considerar que eu o esteja a citar por alguma razão de facção, mas apenas porque o conhecimento deve ser construído sem mistificações para aproveitamento político.

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