Leaks

Não deixa de ser interessante que, desta vez, o Expresso tenha divulgado logo uma boa quantidade de nomes portugueses envolvidos no Football Leaks ao contrário de todos os cuidados ético-deontológicos exibidos aquando de outras fugas de que compraram o exclusivo. ainda me lembro de uma qualquer justificação para não apresentar o nome de muita gente que estaria envolvida nos Panama Papers (até constava que umas largas dezenas de jornalistas) porque – escreveu-se – o que interessava era mudar as práticas…

Será que é porque, neste caso, não é o fisco português e os contribuintes portugueses a serem lesados?

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Esquerda/Direita

A leitura deste livro não poderia vir em melhor altura por muitas razões, uma das quais o facto de ter voltado a ser metralhado a partir das trincheiras escavadas no terreno político. Do lado da geringonça, aparece aqui um ruiqualquercoisa29 que me chama tudo e mais alguma coisa por ser um cripto-PSD e ferrenho cratista, enquanto do outro lado, reapareceu o Ramiro Marques com o seu profqualquercoisablogue a chamar-me esquerdopata (um esquerdista com patas? que convive com patas?), comuna, maoísta e a mandar-me fOd€r (sim, o homem é o que é e apenas isso, não podendo libertar-se da sua essência natural), por criticar as políticas de Nuno Crato.

Quando um tipo é obrigado a ler medíocres, é preciso banhar os neurónios em algo oposto e nada melhor do que ler o António Araújo a escrever um livro excelente, com muito de geracional, sobre as culturas de esquerda e direita desde os anos 80. O livro é, repito, excelente, pois o autor é um raríssimo exemplo de rigor e inteligência, algo que se percebe logo pela escrita, mas que se reforça com o conhecimento pessoal, por escasso que tenha sido o nosso. Sou suspeito pois, como coordenador da colecção de ensaios da FFMS, foi editor do meu pequeno livrinho vermelho sobre educação e liberdade de escolha e as observações e revisão que ele fez do meu texto foram de molde a ficar a admirá-lo por aquela combinação e não só.

Quanto ao livro, claro que um tipo vai ao índice ver se está lá e, estando, procura-se a página. No caso, por exemplo, a 97, em que ele me apresenta como um exemplo de autor de esquerda que prefere escrever sobre o conflito, por oposição à direita liberal que tem dificuldade em escrever sobre determinados momentos simbólicos da nossa História.

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Claro que o autor em causa própria tem outra interpretação do seu próprio livro, ou seja, que escrevi para manter a Memória de algo e fazer, de certa forma, a crónica de uma derrota. Sendo que o subtítulo do livro contém uma dose muito significativa, embora talvez não facilmente perceptível para muitos leitores, de ironia, quando se evoca a “Grande Marcha”. Mas compreendo que, de fora, é possível fazer um enquadramento mais amplo do que foi escrito, em especial o resultado final de negociações (pacíficas) quanto à dose de teoria e testemunho.

Quanto ao resto do livro, com as suas muito extensas e explicativas notas de final de texto, é um prazer ir lendo-o devagar e recordar como certos acontecimentos, tendências, personalidades, publicações, podem ser interpretadas quase da mesma forma por duas pessoas com posicionamentos políticos quase simétricos, provando uma tese que me parece central no discurso do autor e que se destaca na contra-capa… a de que há muito mais afinidades entre esquerda e direita do que parece, nem que seja por razões estéticas ou de gosto, mais ou menos assumidas de um lado e outro.

Não será por acaso que António Araújo nunca foi visto a escrever em colectivos de Direita, como eu não fui do lado contrário. A Liberdade de Pensamento e de acção está em primeiro lugar.ler

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