Dia: 9 de Dezembro, 2016
A Família Alargada da Criança
A Bárbara Wong faz o balanço mais generoso de todos acerca dos ganhos conseguidos nos PISA 2015. Não estou a ser irónico ou sarcástico. É verdade, no seu texto faz a distribuição mais completa de méritos pelo sucesso. Felizmente, não chega a Couto dos Santos, pois nesse caso eu teria mesmo de ser jocoso. Só acho que ignora o papel dos pais, pois em 20 anos a diferença de habilitações das famílias é muito sensível e a importância dada à Educação é, apesar de todos os problemas e desânimos, muito maior.
Quanto ao resto, vou permitir-me uma discordância respeitosa em dois pontos, para não me alongar muito:
Os ganhos dos TIMMS e PISA não provam nada de particular sobre a concentração da rede escolar e os eventuais ganhos da integração dos alunos em centros (caixotes, para mim) escolares, a menos que me tenha passado algum detalhe nos relatórios, onde se identifique a tipologia das escolas envolvidas ou se faça alguma comparação entre pequenas e grandes escolas, Integro-me no grupo daqueles (não me reclamando de “pedagogo”) que acha que a deslocação de miúdos de 5-6 anos para dezenas de quilómetros do domicílio todos os dias é mais traumática do que a transição do 4º para o 5º ano, que tanta vezes se apresenta como causa (nunca comprovada empiricamente) de insucesso. Também desconheço estudos que demonstrem que os alunos assim deslocados (e não a média das escolas, pois 2 em 20 representam muito mais peso relativo do que 20 em 600) obtêm um sucesso em média superior do que o que era alcançado em escolas mais pequenas. Há dados que o ME pode usar para fazer essa comparação. Posso estar errado, mas, neste momento, não se sabe.
Quando se faz um rol de governantes que desenvolveram políticas “eficazes” ao longo destes 20 anos e que devem ser parabenizados pelos resultados, devemos ter também a mesma atitude quando algo corre menos bem. E existe aí um desequilíbrio recorrente nas análises, uma assimetria nas auto e hetero-avaliações. Como aqueles treinadores que aparecem quando é conseguida uma vitória, que apresentam como sendo da sua estratégia que os jogadores souberam aplicar, mas que na derrota responsabilizam os erros do árbitro, falhas individuais, o azar da bola da barra, mas nunca as suas opções erradas. E em Portugal existe este mal crónico… nos dias bons, todos aparecem ao sol… mas nos dias de chuvas só se molham os pobrezinhos.
E é assim. Eu sei que a Bárbara quis envolver todos na festa dos dias que passam. O problema é que nem sempre isso acontece quando aparecem más notícias. E todos sabemos que é assim.
A excepção é no dia dos rankings, em que se visitam três ou quatro escolas do topo e outras da base. É para a semana, certo?
(Outra Forma de) Sentir
Este (aparente? real? encenado?) permanente maravilhamento com a vida quotidiana tal como ela é ainda parece mais pimba quando se quer sofisticado. Pobrezinhos a dez minutos de casa? Frankly, my dear. Cruzes, credo. Shocking! Sociologia quase-jonê. It’s all about location, location, location.
Banha da Cobra
Cansado, mas bem cansado, de ver anunciar descontos daqueles que são em cartão, para usar só se comprarmos o dobro do valor, daqui a 15 dias, se formos com peúgas amarelas às riscas azuis à loja, se fizermos o pino com uma foca equilibrada no dedo mindinho, se isto, aquilo ou aqueloutro, mais os telefonemas a qualquer hora a prometer consumo que a crise acabou. Isto é uma black friday permanente, mas em modo de fancaria.
No que mais mo interessa, as nossas livrarias online continuam a padecer de males de amadorismo ou de falta de economia de escala. Do que adiante encomendar uma coisa, mesmo nacional, se é preciso ficar mais de duas semanas à espera depois de ela aparecer à venda em qualquer fnaque?