Tal como tenho sido muito crítico de algumas intervenções do secretário de Estado João Costa, a apressar-se com conclusões sem fundamento empírico claro, cumpre-me elogiar bastante o artigo que hoje assina no Público, no qual afirma, por exemplo:
A dissemelhança de resultados a ciências entre o TIMMS e o PISA (com descida nos resultados do 4.º ano e subida nos resultados dos alunos com 15 anos) mostra que é preciso analisar estes dados de forma complementar. PISA, TIMSS, avaliação interna, exames, provas de aferição são instrumentos de análise que se complementam. Os resultados contraditórios devem alimentar reflexão sobre se se estão a avaliar as mesmas dimensões e sobre a robustez dos diferentes instrumentos. Para referir apenas um exemplo, quando vemos que há uma progressão consistente dos resultados do PISA, mas os alunos portugueses não exibem o mesmo nível de progressão nos exames nacionais de 9.º e 12.º ano, devemos questionar as razões para esta assimetria e até avaliar os nossos próprios instrumentos de avaliação externa — um desafio para o Conselho Científico do Iave.
Pista de análise… a avaliação em Portugal por via dos exames não é imune às conjunturas políticas e eleitorais. Quem afirmar o contrário, parece-me ingénuo. Porque há autonomias formais, mas também há vassalidades por telepatia.
Mas aplaudo ainda, em especial, a seguinte passagem, ao arrepio de outras declarações:
Além da afronta inerente, há alguma ingenuidade quando se acha que os sistemas educativos absorvem o impacto de políticas em dois ou três anos. Olhemos de novo para estes resultados: a melhoria é progressiva e consistente, resultado de políticas de muitos anos, de investimento direto e reforço em algumas áreas específicas do currículo, de planos de formação, de práticas locais constantemente melhoradas, de professores que investiram em si e nos seus alunos, de famílias mais motivadas para a educação face ao efeito transgeracional crescente e ao investimento na formação de adultos. Não há uma medida, há um compósito de contributos. E, por isso mesmo, o sucesso escolar não tem dono. Não é deste ou daquele governo, não é desta ou daquela escola. Sempre que temos menos alunos retidos, sempre que a escola combate injustiças sociais garantindo melhores aprendizagens para todos e em particular para aqueles que nascem em contextos em que tudo concorre para que a vida lhes corra mal, sempre que tal acontece, é o país que ganha. O sucesso escolar não tem dono, porque é um desígnio nacional e, por isso mesmo, é uma vitória para todo o país.
Já o artigo, mesmo ao lado, da Joana Mortágua, de tão maniqueísta na análise político-partidária, não passa de um texto panfletário e fica muito longe de qualquer utilidade real para um debate a sério sobre estas matérias, pois parece não ter entendido boa parte do que o SE já parece ter percebido.
O ministro, claro, está em parte incerta ou não leu o briefing no fim de semana.

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