Cacofonia

Nuno Crato deu, talvez desnecessariamente, uma entrevista ao JN. Os comentários que por lá aparecem desta vez prenderam-me a tenção, não apenas por serem maus, pois isso é habitual quando se trata apenas de andar à pedrada, mas por ver lá pessoas que até conheço virtualmente, a dizer disparates imensos. Um dos casos – até de uma amiga “numa rede social” – até me fez doer tudo e mais alguma coisa quando escreveu que os alunos que fizeram o PISA 2015 estavam no 4º ano em 2008 (7 anos anos) e no 6º ano em 2010 (5 anos antes), sem se aperceber que, nesse caso, os alunos teriam de ter em 2015, 17 anos e não 15 como é a regra dos PISA. Nem vale a pena reproduzir o que, depois, por lá se passa em matéria de adjectivação.

Mas a adjectivação continua a ser o recurso mais usado, mesmo por quem surge, depressa, depressinha, a aplaudir ministro e secretário de Estado, numa confusa pressa que, como de costume prefere a enunciação de estudos do que a simples identificação de um ou dois, de forma clara e que não sejam pelos especialistas do costume para as encomendas.

Um grande caudal de investigação diz-nos que elas só trazem consigo consequências negativas, lesivas dos interesses e direitos dos alunos. De entre uma vasta gama de consequências posso citar, por exemplo: o sentimento de insucesso, muitas vezes percecionado pelo aluno, como punição; o stress contínuo que o aluno experimenta ao ter de conviver com colegas mais novos, mais imaturos fisicamente, não entendendo porque não acompanhou os seus colegas que passaram para o ano seguinte; a repetição de muitas das mesmas tarefas académicas, colocando-o, tantas vezes, numa situação de letargia constante, de tédio permanente; a diminuição da sua autoestima.

Por momentos pode parecer que eu sou um mata-mouros em matéria de negativas (estive a espreitar, até me admira ir dar 100% de positivas em algumas turmas…), mas quando leio estas coisas (a parte do “stress contínuo” pelo convívio com colegas mais novos só pode ser anedota…), repetidas como se fossem verdades inquestionáveis e não apenas algo um pouco acima do “acho que”, dá-me logo vontade desatar a disparatar.

papagaio

2 opiniões sobre “Cacofonia

  1. Nem 8 nem 80… Entre a examocracia cratiana de terraplanar tudo em nome de um ensino utilitário ao “serviço do mercado” (adestra-se e selecciona-se na escola para se chegar já “preparado” às empresas) e o facilitismo fofinho e paternalista com uma espécie de fixação na fase anal-retentiva (“ah, essa diabólica cultura da retenção!”) haverá seguramente um meio termo de bom senso, onde caberá um ensino humanizado(r) e de qualidade. Ou não?…

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  2. aplica-se que nem uma luva ao perfil do professor atual:
    – o sentimento de insucesso, percecionado pelo professor, como punição;
    – o stress continuo do professor ter de conviver com colegas mais novos, colocados no mesmo escalão que o seu, não entendendo como não está colocado nos escalões superiores de colegas da mesma idade.
    – a repetição de muitas tarefas burocráticas, a exposição à hostilidade de alunos e pais, que o coloca, tantas vezes, numa situação de letargia constante e tédio permanente.
    – a diminuição da sua auto-estima e processo de burn-out.

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