Dia: 17 de Dezembro, 2016
Opiniões – Mário Silva
Ranking para quê?
O tema dos ‘ranking das escolas’ é um assunto anual cuja importância é relativa no contexto global da educação de um ser humano.
Como professor há várias décadas sempre detestei a atitude dos alunos em quererem saber a classificação de cada colega nos testes de avaliação sumativa. Revela um defeito horrível do carácter humano- a mesquinhez- e só contribui para a competição destrutiva, com as devidas consequências nefastas nas relações sociais (algo que a ADD na classe docente promoveu…). Portanto, será fácil deduzir o quanto detesto esta comparação anual entre escolas, cujo objetivo tende a ser comercial para favorecimento de negócios educativos, contribuindo para a tal competição destrutiva que promove o aparecimento de indivíduos sem valores éticos e morais, que posteriormente poderão ser os futuros corruptos e criminosos que afundam economias…!
Enquanto for professor sempre educarei os alunos neste principio: trabalho/estudo para melhorar o que sou e não para ser melhor do que o outro.
A escola privada cujo orçamento depende das mensalidades/propinas é um negócio comercial, e como tal, rege-se por princípios que têm de potenciar o lucro, que no caso concreto, depende da captação de alunos. Deste modo, o projeto educativo é delineado em função de um determinado público-alvo, procurando satisfazer os seus anseios e objetivos concretos. Por isso é tecnicamente errado comparar escolas públicas com escolas privadas porque o estatuto social é completamente diferente. Esse estatuto condiciona a atitude que o aluno terá perante a escola: quais são os pais que estarão dispostos a pagar centenas de euros mensais ou milhares de euros anuais em propinas, se os seus educandos não frequentarem a escola com total empenho e interesse em mostrar resultados? Portanto, a partir do momento que um educando é colocado numa escola dessas, será um jovem com um perfil psico-emocional totalmente motivado para aproveitar e usufruir da instituição onde estuda, uma condição potenciadora de obtenção de bons resultados quantitativos.
Se querem comparações, que as façam entre instituições com o mesmo estatuto social: privadas com privadas e públicas com públicas. Contudo, estas comparações apenas revelam UM parâmetro da atividade escolar, o que éextremamente redutor da função social da escola.
A avaliação sumativa tem sempre subjacente uma componente subjetiva pelo que deve ser relativizada e contextualizada num trabalho educativo mais complexo e global. A enorme multiplicidade de fatores que interferem no processo de ensino-aprendizagem- que se tornaria muito extenso elencá-los a todos- são incluídos nos seguintes parâmetros globais: formação profissional, biológicos, fisiológicos, sociais, económicos, culturais, nutricionais, pedagógicos, psicológicos, emocionais. Logo, é extremamente redutor julgar a qualidade de uma escola tanto a nivel profissional como pedagógico apenas com base nas classificações dos exames (que por si só, são instrumentos que não caracterizam todas as potencialidades e capacidades de um individuo), quando não estão devidamente quantificadas as influências de cada um dos fatores em cada aluno.
Portanto, considero que as escolas devem trabalhar em prol da formação global do individuo, nas suas múltiplas facetas, e não se reduzirem a serem centros de treino para resolução de exames nacionais, que apenas são UM dos muitos aspetos que as escolas têm de desenvolver nos seus alunos. Devemos desejar cidadãos com formação técnica, civica e ético-moral sólida para impedir o aparecimento de demagogos e imorais que promovem comportamentos desumanos no seio da sociedade.
Por último duas notas para reflexão:
1- Para quando uma avaliação pormenorizada do trabalho pedagógico que se promove nas universidades, os locais de formação dos futuros profissionais? Para quando a publicação das percentagens de retenção nas várias disciplinas e avaliação das suas causas? Para quando a divulgação do atavismo pedagógico que pontua em cursos universitários, com as potenciais consequências nefastas na formação profissional dos alunos? Para quando a divulgação das condições pedagógicas de apoio educativo e técnico aos alunos universitários? Para quando a divulgação das estratégias pedagógicas de apoio aos alunos com dificuldades de aprendizagem nos cursos universitários? Porque é que o ensino universitário, uma área fulcral na formação profissional dos cidadãos, nunca foi escrutinado no mesmo âmbito do ensino básico e secundário?
2- O facto dos jornais apostarem na divulgação dos rankings com suplementos exclusivos, onde pontuam anúncios publicitários de escolas privadas. Levanta-se a questão de saber quando é que existe um serviço de informação pública, o interesse necessário de gerar receitas e o aproveitamento mediático de empresas educativas em utilizar rankings para promover o seu negócio…
E muito, mas muito, ficou por dizer sobre este tema…
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Mário Silva

Interessante
A Renascença apresenta o ranking tradicional e um alternativo. Produz uma reordenação muito curiosa.
Um Prazer Para a Malta dos “Entas”?
Quem observar quem se aproxima dos expositores com o novo álbum do Blake e Mortimer, percebe que aquilo é tudo malta que, no mínimo, tem uns quarenta e tais ou, o mais certo, ter ultrapassado os cinquenta. Mas, pelo meio de tantos outros aproveitamentos, follow ups e spin offs, este até dos que têm tido melhores resultados.
Parcerias
O ministro da Educação aparece hoje no Expresso a elogiar a parceria que terá reestabelecido com os sindicatos. Permito-me discordar em parte, desmancha-prazeres que sou e com memória. Durante o mandato de Nuno Crato, a parceria do ME com a FNE foi mais do que evidente, ao ponto desta parecer mais uma direcção-geral da 5 de Outubro do que um sindicato de professores. Já no presente, com a geringonça a meter a trela bem apertada na Fenprof, a parceria é do tipo daquela que se tentou estabelecer nos tempos de Isabel Alçada, no sentido da maior federação sindical de professores colaborar activamente na prevenção de qualquer foco sério de contestação dos professores às decisões ministeriais. Mudam-se os ministros, mudam-se as parcerias, lixam-se os mesmos do costume, porque eu só acredito em certos cromos quando eles saírem de lá para darem aulas e arcarem com as decisões com que colaboraram, nem que seja por omissão. Se o clima de acalmia é um bem para as escolas? Depende. Eu acho que quem mais ganha com esta parceria é quem tem na mão as pontas da trela.
Expresso, 17 de Dezembro de 2016
O meu Problema com o Pessoal que se Aproveita dos Rankings
Quem me conhecer, já sabe ao que venho e a quem me dirijo, em primeiro lugar. Sim, acertaram, à sonsice do director da AEEP, o meu conhecido Rodrigo Queirozeze e Melo que – simbolicamente? – escreve, costas com costas comigo, na página 16 do caderno do Sol sobre este assunto o seguinte:
E esta é a inultrapassável vantagem dos rankings: dar informação pública e clara sobre o sistema. Os resultados dos alunos nos exames podem e devem ser complementados com outros indicadores. Isso só favorece a transparência.
Quer-se dizer… isto aplica-se apenas às escolas públicas, porque no caso das privadas, ao fim de todos estes anos, continuamos sem ter acesso aos dados de contexto socio-económico dos seus alunos ou a uma clara revelação do valor médio pago por cada família nestas instituições (muito diferente da mensalidade oficial, em tantos casos). Porque a transparência, quando nasce, não é para todos e o RQM faz parte do grupo de pressão que informação clara apenas para uns, enquanto os outros continuam a prosperar na opacidade. Justiça, justiça, era excluir as escolas privadas dos rankings enquanto não fornecessem todos os dados de contexto que as públicas facultam.
Porque para mim, inultrapassável mesmo, é a desfaçatez deste pessoal. Exigem aos outros, mas eles tá quieto! Como ele bem sabe, eu não apregoo em público uma coisa e pratico outra em privado… Ensinaram-me assim, mesmo sem ser em colégio de sucesso.
O meu Problema com o Pessoal que Abomina Rankings
É mais de um, mas este passa por uma questão de estruturação e coerência na argumentação. Claro que têm todo o direito de desgostar de rankings (bons, maus, assim-assim) e de testes comparativos internacionais. É uma questão fortemente ideológica que me passa ao lado. Eu sou dos que defende que mais informação, em especial informação primária, é sempre melhor do que menos informação ou mesmo a sua ocultação. O que se faz com ela, é outra coisa, mas quem critica os rankings por serem maus tem sempre a possibilidade de usar a informação da forma que acha correcta e não se sentar a perorar na esplanada contra os malefícios do ócio.
Agora o que me diverte numa das linhas de argumentação é quando se criticam rankings, exames e testes (nacionais ou internacionais, incluindo PISA, TIMMS e PIRLS – estes foram feitos este ano) por serem formas erradas de avaliar a qualidade de um sistema educativo, de formatarem os processos de ensino e de distorcerem o conhecimento da realidade “integral”. E, quase como por automatismo, destacam o exemplo da Finlândia que se tem revelado um dos sistemas de ensino com melhor desempenho e não tem exames até ao equivalente ao 9º ano e não fazem rankings (a verdade é que não sabemos… eu não leio finlandês e desconheço os jornais que por lá se publicam e acho que uma boa parte dos portugueses serão como eu).
O que eu não entendo mesmo é como sabemos que o sistema educativo finlandês é melhor do que os outros sem ser através… dos testes internacionais como os PISA, TIMMS ou PIRLS, exactamente aqueles que se abominam quando se trata de Portugal. Porque assim é muito cómodo. Quando esses testes demonstram o que queremos – a extrema qualidade de um exemplo externo (mesmo se os melhores desempenhos são de países do Extremo Oriente, daqueles em que se trabalha até saírem os neurónios com a transpiração) – podemos usar as suas conclusões, mas quando se aplicam à nossa realidade, ai-jesus que não pode ser, ai a formatação, a alienação, o fim das boas práticas e por aí abaixo.
Decidam-se. Não podem é ficar com todas as gentis pecadoras no remanso do Paraíso.
Rankings – Avaliar para Compreender
A peça principal do Sol destaca a recuperação de lugares das escolas públicas no top 100. O que se segue são os 3000 caracteres do meu texto de opinião que vem lá por dentro.
Avaliar para Compreender
Estas semanas têm sido de divulgação de muitos indicadores sobre a Educação, seja a partir de testes internacionais (TIMMS e PISA), em que os alunos portugueses consolidaram uma progressão de 15-20 anos que nos trouxe da cauda para a metade cimeira da amostra, contrariando os discursos catastrofistas dos reformadores permanentes, seja a partir de indicadores internos como as provas finais do Ensino Básico e os exames do Ensino Secundário, em que é mais difícil fazer uma análise das tendências de médio prazo, em virtude das alterações permanentes.
Sou favorável à realização destas avaliações, porque só assim podemos obter, por imperfeitos que sejam, elementos para fazer uma aferição das aprendizagens dos alunos e fazer análises que nos permitem conhecer melhor as diferentes realidades em confronto. Há diversos traços comuns às escolas que estão no topo dos rankings e que as diferenciam das que estão na base, para além do muito referido contexto socio-económico. Vou isolar apenas três indicadores que é possível verificar a partir dos dados deste ano: as escolas do topo tendem a ter um menor número de exames realizados, os alunos que os realizam são mais novos e o diferencial entre a classificação externa e interna é menor.
Se analisarmos as 20 escolas do topo do ranking do Ensino Secundário, constata-se que realizaram em média menos de 350 exames, as 20 seguintes mais de 370 e do 41º ao 60º lugar a média foi de 550 exames, tornando-se esta progressão menos significativa a partir daí.
No caso das idades, entre as 20 melhores escolas do Ensino Básico, os alunos tinham em média 14 anos à data da realização das provas finais, enquanto nas 20 últimas a idade média era de 14,8 anos. No caso do Ensino Secundário, os valores eram de 16,5 e 17 anos. O que se explica pela existência de maior insucesso nas últimas e, consequentemente, existirem alunos mais velhos.
No caso do diferencial, nas provas do 9º ano, nas 20 escolas melhor colocadas, a avaliação interna é superior à externa apenas em 0,21 (escala de 1 a 5), enquanto nas menos bem colocadas é de 0,87. No caso dos exames do Secundário, os diferenciais são de 1,4 contra 4,6 valores.
Uma das explicações para esta situação pode encontrar-se no modo como as escolas decidem lidar com alunos mais problemáticos, em que muito do trabalho quotidiano passa por transmitir regras de convivência, de empenho mínimo nas actividades e de respeito pelos restantes agentes educativos. A nível interno, há escolas que preferem enfatizar o peso destinado das atitudes na avaliação, dimensão não contemplada na avaliação externa. Uma escola que reserve 30-40% para este parâmetro quase certamente terá um diferencial maior do que outra que apenas o considere em 10-15% na avaliação final. Ou seja, o que pode parecer um sinal de insucesso é a consequência de uma estratégia destinada a promover o sucesso. Mas quem analisar uma simples tabela sem este tipo de enquadramento, tenderá a retirar conclusões erradas. É isso que devemos evitar a todo o custo.