À estupidez. Não falo de incompetência, porque essa é, muitas vezes, inconsciente e involuntária. E pode minorar-se com algum ou mesmo muito esforço. Já a estupidez é, também muitas vezes, o fruto de um longo processo de imbecilização dos agentes e,a partir de dado momento, não tem cura, em especial quando se une a falhas graves de carácter. Não é por ser corporativo (dizem) que vou negar a presença daquela estupidez definida (na terceira lei fundamental por ele enunciada) por Cipolla como o conjunto de actos que produzem dano em terceiros sem que a própria pessoa tenha qualquer ganho especial (excepto algum prazer azedo, acrescento eu, numa ligeira apostilha ao texto original).
“Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a uma outra pessoa ou grupo de pessoas, sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda.”
Já na sua segunda lei fundamental, Cipolla afirma que “A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica desta mesma pessoa”, por isso não é por se ser professor@ que se beneficia de imunidade. E o mais grave é que não há modelo de avaliação da performance que consiga detectar a má-função, a má-fé, a maldadezinha, mesquinha, daninha.
Não se esforcem @s mais assustadiç@s, que buscam entrelinhas em episódios de proximidade estas minhas diatribes. Fazem parte integrante do feitio aqui da criatura. Surgem assim, de repente, quando o aroma do perigo se pressente. Pode ter sido apenas uma história que se ouviu a funcionar como gatilho. Às vezes é preciso proceder a uma limpeza pré-natalícia da bílis.
Essencialmente, os estúpidos são perigosos e funestos porque as pessoas sensatas acham difícil imaginar e entender um comportamento estúpido. Uma pessoa inteligente pode entender a lógica de um bandido. As ações do bandido seguem um modelo de racionalidade: racionalidade perversa, caso queiram, mas sempre racionalidade. O bandido quer “algo mais” na sua conta. Dado que não é inteligente o bastante para inventar métodos para obter “algo mais” para si buscando ao mesmo tempo “algo mais” também para os outros, ele obterá o seu “algo mais” causando “algo menos” ao seu próximo. Tudo isso não é justo, mas é racional e, se é racional, pode ser previsto. Pode-se, em resumo, prever as ações de um bandido, as suas imundas manobras e as suas deploráveis aspirações e amiúde podem-se preparar as defesas oportunas.
Com uma pessoa estúpida tudo isso é absolutamente impossível. Como está implícito naTerceira Lei Fundamental, uma criatura estúpida perseguir-te-á sem razão, sem um plano preciso, nos momentos e nos locais mais improváveis e mais impensáveis. Não há nenhum método racional para prever se, quando, como e por que uma criatura estúpida levará adiante o seu ataque. Frente a um indivíduo estúpido, estamos completamente à sua mercê.