Concursos

Leio com desatenção as actualizações noticiosas ou propagandísticas em torno das negociações acerca dos concursos de professores para o próximo ano. A razão é porque me fazem lembrar aquelas séries da Netflix, em que tudo já foi gravado, incluindo o desfecho, mesmo se o último episódio ainda não foi transmitido. Por vezes, até nos podem agarrar pelas peripécias e imaginação do enredo. O único problema é que, neste caso, o argumento é mais ao nível das séries da Hallmark.

prognosticos

 

Férias de Natal

Espero que fique definitivamente enterrada a necessidade do eufemismo “interrupção lectiva” para que os do costume não apareçam a gritar que os professores têm muitas férias – os tais mesmos que dizem, tanta vez, em contrapartida, que os alunos têm demasiadas aulas – e que são uns privilegiados. A partir de 2006-07 fomos achincalhados publicamente por uma larga coligação em torno do rodriguismo educacional no sentido de se qualificarem os professores como uns madraços com férias sem fim (perguntem quantos dias estão paradas as escolas em mais de metade da Europa nesta altura), o que nos levou a ter de usar, quase inconscientemente, de véus para designar aquilo que sempre foi um direito de todos os que andam pelas escolas, alunos, funcionários e professorres: uma pausa natalícia para descansar, retemperar forças e iniciar um novo ano.

As críticas, de outrora mas também de hoje, são particularmente hipócritas quando partem de gente que se diz muito defensora dos valores familiares mas que, na prática, votam em tudo o que é desregulação dos horários laborais e quase fogem só de pensar em ter de conviver uma ou duas semanas com a sua petizada. Phosga-se que a criançada quando não está agarrada aos zingarelhos electrónicos dá trabalho, mexe-se, fala, pergunta coisas, quer companhia, nem sempre se consegue alienar por completo nos pretextos tecnológicos: mas também são bastante hipócritas os que, de sinal ideológico contrário, acham que a escola deve ser um imenso infantário em todas as estações e em vez de defenderem horários de trabalho decentes (perguntem a que horas saem as mamãs e papás do emprego na Finlândia, na Noruega ou mesmo na Alemanha), preferem transformar as escolas no recurso mais conveniente para que os proletas possam fazer dois turnos até à meia noite nos centros do consumismo que dizem abominar. São os bem-pensantes das petições e manifestos que, quando a coisa aperta e têm mesmo de assumir uma posição concreta além das palavras., se abstêm ou desaparecem no nevoeiro.

Seja como for, o Natal é a época em que fazemos por fingir que todos andamos por cá de boa vontade e que todos merecem os mesmos votos, por igual. Por isso, a tod@s um Feliz Natal e, mesmo que sejam daqueles ateus empedernidos (eu sou um agnóstico suave 🙂 ), deixem-se de tretas e tentem, nem que seja por uns momentos, ser apenas humanos, por muito que vos custe. O resto do pessoal agradece.

Dia 3 podemos recomeçar à pedrada, combinado?

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