Só votei nele uma vez, na segunda volta, em 1986, quando muita gente que agora é de Direita andava de ZAP ao peito e quem mandava Prá Frente Portugal agora é soarista. Por isso, dão-me um certo desarranjo gástrico-intestinal as declarações de amor ou ódio perpétuos que vou lendo por aí acerca do que parece inevitável, pois ninguém é imortal em corpo. Nem Mário Soares construiu a democracia portuguesa sozinho (tinha as costas bem quentes, se tinha…), nem foi o traidor que muitos pseudo-democratas de 26 de Abril declaram (se tivessem vergonha, ficavam na toca de onde o próprio Soares os fez sair). Quando desaparecer, perde-se um dos fundadores do regime que temos, alguém marcante na nossa vida política desde os anos 60 do século XX, sob cuja asa muito oportunista se acoitou e contra quem muito ser desprezível se insurgiu. Ele ziguezagueou como poucos, pois é da natureza do político profissional. O resto é fogo de artifício.