Tutorias

Eu ainda sou do tempo em que ser tutor de um aluno não era ocupação minutada pelo ministério, servida em lotes, para que a poupança seja o critério essencial na simulação de uma função que deveria merecer mais respeito e menos preocupação com o alegado desperdício de recursos medido a regra, esquadro e compasso rombo.

Eu sei que sou antigo, ainda me lembro dos tempos em que as escolas eram aqueles cadinhos de cultura de retenção, em que os professores se rebolavam de gozo por chumbar alunos, fazendo tatuagens por cada um deitado abaixo, e em que subvertiam a eficácia com eleições abertas para os ocupantes dos cargos de chefia e até ousavam essas descoordenadas lideranças colegiais que tanto escapavam à trela tutelar.

Mas também sou do tempo em que um tutor não ficava à espera do aluno que dele precisava, indo em sua busca para o orientar. Em que não se esperava que o aluno não cumpridor cumprisse a obrigação de ir ter com quem deveria torná-lo cumpridor. Em que a prática de uma tutoria se aproximava do seu conceito original, pouco compatível com grelhas de horas marcadas de cálculos de custos per capita do sucesso. Em que não se simulava o sucesso com estratégia no papel.

Sim, claro, compreendo. Os modelos não são maus em si, podemos fazer maravilhas com um sistema de masmorras e grilhetas se tivermos imaginação. Claro que são as pessoas que as amarram a quem lhes desagrada ou a si mesmas, de forma a desculparem-se pelo imobilismo. E é bem verdade que há quem fogueteie por dentro quando o galfarro não aparece e se pode trocar a perna, consultar os social media em busca dos instagrams do momento e dos trending tuítes, quiçá mesmo dar um pulito lá fora e puxar umas fumaças, aspirando o calor e aroma de uma bica em chávena escaldada e pouco abatanada.

Mas nunca nos devemos medir pela mediocridade, por muita que seja a tentação e nos custe o desalinhamento, porventura a leitura desagradada da prosa.

tutor

Agradecido e Lisonjeado, Mas…

… o mais certo é ter de recusar. Porque, para este ME, como para os anteriores, receber ou dar formação não tem direito a dispensa de serviço (excepto para uma elite de escolhidos que pode ter apenas uma turma ou duas, no máximo, para ficarem ao serviço directo da tutela nas suas formações a stencil) e, por muito gosto que tenha, ter de faltar 2 ou 3 dias seguidos não dá. Não interessa se é algo promovido por vários centros de formação, destinado a colegas de profissão, mas ou gastamos os poucos dias de 102 ou não há hipótese, em especial com deslocações mais longas. Na última década, a formação dos docentes só passou a ser assegurada quase em exclusivo em horário pós-laboral ou, no caso dos formadores, por quem tenha uma situação superior, que lhe permita ausentar-se das aulas sem problemas. Para os rasos, os zecos, não há cá disso. E já lá vai o tempo em que eu gastava quase todos os meus dias por conta das férias a ir a outras escolas, conversar, conhecer, partilhar experiências. Agora, também é tempo de guardar algum só para mim e para a família. Que me desculpem se é egoísmo, mas é bem justificado.

Dizem por aí que querem o rejuvenescimento da classe docente, mas a própria formação contínua, essencial para a manutenção de alguma elasticidade intelectual, é quase sempre uma anedota, a contar os tostões, entregue sempre aos mesmos, a replicar os mesmos relambórios ou a cartilha superior, com os que podem, graças às suas circunstâncias ou o beneplácito oficial.

Haddock