Esta noite, no Sexta às 9, um dos temas será o dos manuais escolares e do negócio em seu redor. Mais tarde, na RTP3, pelas 23 horas, haverá um debate sobre o tema, a que irei pois é em horário pós-laboral e já quase em fim de semana. Sei que não terei sido um dos primeiros ou segundos a ser contactados para o efeito, mas parece que fui dos poucos sem receio de falar sobre o assunto. Parece que há demasiada gente patrocinada, apoiada, em parceria, etc, que se incomoda em passar do off para o on. Dos 5 livros que publiquei desde o início do velho Umbigo, o primeiro (do próprio blogue) foi publicado pela Porto e o último (o da manifestação dos professores de 8 de Março de 2008) pela Oficina do Livro, chancela do grupo Leya. Pelo que não tenho especiais razões de queixa pessoais quanto a qualquer dos grupos. Mas discordo de muitos dos mecanismos em torno da produção, adopção e certificação dos ditos cujos.
Para fugir um pouco à polémica óbvia do preço e da reutilização, vou tentar que se fale um pouquinho que seja sobre outros aspectos que nem sempre são lembrados, a saber:
- A pressão enorme sobre os representantes comerciais das editoras para que cumpram objectivos relacionados com as quotas de mercado dos seus manuais.
- O processo muito desigual e pouco coerente de certificação dos manuais, por instituições que nem sempre se percebe porque acabam escolhidas.
- A canibalização do trabalho dos autores, à conta do projecto gráfico ser propriedade das editoras, entre outros detalhes.
- A quase absoluta obrigatoriedade das escolas e grupos disciplinares escolherem manuais comerciais e não procederem à produção de materiais próprios, embora isso seja possível de acordo com o artigo 4º da portaria 81/2014 de 9 de Abril.
- Os efeitos perniciosos das pequenas e redundantes mudanças de metas, objectivos, programas, de diversas disciplinas, levando à necessidade de renovar todo o tipo de materiais auxiliares, não apenas manuais. Basta pensar, por exemplo, como o AOrtográfico conduziu à necessidade das bibliotecas escolares renovarem grande parte do seu acervo de obras de leitura do PNL.