Hoje, na TVI

A peça jornalística foi muito mais equilibrada e completa do que a da RTP. Continuam por ali pontas soltas. Uma delas passa pela forma como uma situação de duopólio conduz a uma cartelização dos preços, pois a verdade é que não existe concorrência. Há coisas que não se investigam, documentos que aparecem de outros tempos, mas poucas coisas actuais. Foge-se do que queima. Ou então há demasiada dificuldade em ir além da superfície do problema. E temos as pessoas do costume a auto-branquearem-se, mesmo que em cenário sombrio. Ainda me lembro de quando começou a roda-vida das mudanças de programas.

Por exemplo, em 2008, foi-me enviado o mail abaixo que demonstra como o problema do preço dos manuais, descontos, etc, está longe de ser as ofertas aos professores. É legítimo, acreditem, até porque as supressões são minhas. Chegou-me acompanhado das seguintes observações “Este é um dos mais simples e que menos denuncia… Outros há!” Falei sobre o assunto a alguém próximo de uma das pessoas envolvidas. Desdramatizou. Disse que deveria ser invenção de alguém insatisfeito com a perda de algum lugar (leia-se “posto de trabalho”). Na altura a guerra era outra e muito complicada. Mas hoje lembrei-me e os meus arquivos mentais ainda funcionam de quando em vez com o devido suporte documental.

Sent: quinta-feira, 12 de Julho de 2007 (…)
To: (…)
Subject:

Caro (…)

Estive a estudar a questão do desconto da venda de livros escolares na nossa livraria virtual e teremos que manter os 10%, pelo menos em alguns dos títulos, por razões concorrenciais (referiremos descontos até 20%, mas nenhum manual ou caderno de actividades terá descontos superiores a 10%).

Em baixo pode ver a apresentação da campanha do (…) que, para além do desconto de 10%, dá crédito a 3 meses sem juros.

Aproveito a oportunidade para lhe solicitar a disponibilização da lista de produtos (manuais e cadernos de actividades) e preços da (…) e da (…) para actualização da nossa base, de preferência em formato electrónico.

Como é óbvio, se for útil, disponibilizámo-nos [sic] para vos fornecer a nossa base, com o mesmo fim.

Um abraço

(…)

Boato

 

Hoje

É a vez da TVI se atirar à questão dos manuais escolares. Na promoção encontramos uma ex-ministra (2005-2009) a dizer que há um défice de regulação e inspecção no sector. Curiosamente, foi em 2008 que um destes grandes grupos se constituiu, agrupando (entre outras) duas das mais importantes editoras de manuais. E foi logo em seguida que outro grupo, já dominante na altura, se consolidou ao nível da própria distribuição, com a aquisição da Direct Group no início de 2010.

Agora resta saber se a reportagem também vai ser feita em traço grosso e vai incluir aquelas vozes anónimas de quem parece ter-se vendido e arrependido.

O Sexta às 11 da RTP3 já está online.

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Linhas de Investigação

Folheava hoje um daqueles livros com artigos de sociologia da educação com estudos subsidiados pela efecêtê que muito, pouco ou nada contribuem seja exactamente para o que for quando, ao olhar para as estantes ao lado, curiosamente sobre comunicação social, tive um mini-epifania sobre linhas de investigação a desenvolver sobre o mercado das coisas educativas, políticas e mediáticas, aprofundando ideias já aqui afloradas.

  • Linha um – verificar as coincidências entre elementos de grupos de trabalhos ou aparentados do ministério da Educação (ou outros) e autores de obras sobre temas trabalhados por esses grupos de trabalho. Por estar na altura a fazer profissionalização, no final dos anos 90 comecei a verificar as confluências entre a legislação produzida então e as obras que saíam com as ditas leis anotadas e comentadas, nomeadamente sobre o estatuto da carreira docente e o regime de autonomia e administração escolar. De então para cá, as confluências não se reduziram.
  • Linha dois – ultrapassando o caso por demais paródico de Sócrates e o seu auto-top-seller, aprofundar o conhecimento sobre a origem (quem promoveu a ideia, quem financiou) e processos de produção de obras atribuídas a políticos em ascensão ou candidatos a qualquer coisa por cá. Lá fora é comum ler-se na capa ou no interior “fulano de tal com a colaboração de [nome de quem passou a escrito as ideias pretensamente da autoria de fulano de tal]”. Por cá, nem tanto. Há muito jornalista que sabe do que estou a falar e não é só daquelas biografias autorizadas, mais ou menos hagiográficas e pagas bem acima de qualquer retorno comercial em vendas.
  • Linha três – descobrir que viagens foram efectivamente pagas e por quem quando certas instituições da nossa economia empreendedora estavam em alta e alugavam páginas e páginas de jornais e revistas, quase patrocinando edições inteiras ou assegurando a sua sobrevivência, bem como patrocinando a produção de notícias agradáveis ao olhar dos anunciantes e pagantes. Se alguém falar em panamá papers eu nego que isso tenha sido escamoteado do conhecimento público, pois entre nós só há jornalismo ético e de qualidade, em especial na área económica. No caso da Educação, há sempre fládes.

Não sei é se a efecêtê reconheceria, com os seus júris multinacionais e distintos, valor a tais linhas de investigação sobre a realidade portuguesa.

Investigar isto no contexto actual da nossa comunicação social, só se for naquelas perspectivas de facção político-blogosférica.

Sei que, no meu caso, nem que seja de raspão, entrevi estes mundos e sorri. Até porque gosto de escrever tudo o que leva o meu nome e gosto que leve o meu nome tudo o que escrevo. Desde os velhos (em todos os sentidos) bancos da faculdade.

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