Só lhe dei atenção a partir da leitura tardia do Stuff I’ve Been Reading do Nick Hornby (pois comprar a Believer onde ele foi escrevendo as suas crónicas seria um vício caro). Ele descobriu-o em Setembro de 2007, eu a finalizar 2016, apesar de ter um bom lote de obras traduzidas entre nós, na Presença, na mesma colecção dos livros do Harry Potter, dos livros da série Terramar da Ursula Le Guin ou das obras da série Luzes do Norte do Phillip Pullman. Talvez isso explique que tenha dado menor atenção aos pequenos livrinhos do David Almond, com a ajuda das inenarráveis traduções dos títulos (o muito justamente premiado Skellig transformado em O Segredo do Senhor Ninguém, Kit’s Wilderness em O Grande Jogo e Heavens’s Eyes em Um Cantinho no Paraíso). As capas nacionais também não foram grande ajuda e só recentemente começaram a ser mais apelativas, assim como os resumos davam a sensação de ser mesmo só histórias para quase pré-adolescentes.
Nada de mais errado, mesmo se a miudagem viciada na Rowling é capaz de aguentar aquelas histórias em que o real e o fantástico são igualmente aterrorizadores, pois o contexto social é o de pequenas cidades ou vilas socialmente deprimidas, parentes pobres do desenvolvimento da thatcher, com miúdos que perderam pais, a quem as irmãs ou avôs estão hospitalizados ou quase a morrer, em que há gente louca, bêbeda ou perdida pelas ruas, em que o fantástico recorda as crianças mortas em explosões de minas e as famílias raramente não são o que chamamos disfuncionais.
São livros curtos, mas perturbadores para quem ache que o Paulo Coelho é o máximo da literatura espiritual, o Rodrigues dos Santos um mestre do romanesco ou que sintam como a Cristina. Tentei lê-los por ordem cronológica, mas por cá a publicação não tem sido muito fiel nos últimos anos, pelo que despachei estes e aguardo uns quantos repescados pela betterworld.
Altamente recomendável, em especial para pessoas com curta imaginação e que não gostam destas coisas.

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