Neo-Realismo

Uma família, em virtude dos seus horários de trabalho, revela-se incapaz de fazer o seu educando entrar no recinto escolar às horas adequadas. Entregue a si mesmo, o petiz entra na escola quando tem fome (hora do reforço, a meio da manhã), aparece nas aulas que entende, às horas que entende, a menos que alguém o procure pelos corredores e cantos da escola e o obrigue. Ao perceber isso, aprende a saltar a vedação da escola e ficar por conta própria durante quase toda a manhã, até voltar a ter fome (hora de almoço). A escola contacta a família, a família pede compreensão e ajuda, implora para que não se despertem as medidas extra-escolares legalmente exigíveis nestas situações. A escola continua a alimentar o aluno e, quando necessário, até lhe fornece a roupa que não tem para os frios invernais. A gratidão é momentânea. O apelo pela rua, pelas companhias mais velhas, pelo que se desconhece, é maior do que qualquer apelo sensível ou autoritário.

A culpa é da escola? Por não ser do século XXI?

Ou do falhanço social que a envolve, em que temos condições de vida e trabalho de acordo com o tal modelo de manchester, mas o fabril, exaltado pelos betos das padariasportuguesas?

São estas coisas que o sucesso verdascado não tem forma de remediar, a menos que o dêtê fique à porta de casa do petiz desde a matina com uma pulseira electrónica em punho.

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