Se repararem com alguma atenção o ilustre documento elaborado pela Comissão de Sábios sobre Competências não traz qualquer referência explícita (e muito poucas implícitas) ao ensino do passado humano ou, num sentido mais restrito, à História. Ao longo da última década esta tendência verificou-se mais de uma vez (em tempos de Nuno Crato também e nem vale a pena recuar mais longe para não me chamarem obsessivo). A maior parte dos teorizadores de uma “Educação Nova” ou “moderna” – em última instância do futuro “Homem Novo” – prescinde com facilidade do estudo da História ou recorre a ele apenas de forma instrumental, truncada e viciada. Tudo deve ser aprendido no contexto da actualidade, como que cortada do seu passado, pois assim é mais fácil (ao ignorar o passado como desinteressante e inútil) dar a entender que o velho é novo e ignorar o que já aprendemos com os disparates anteriormente feitos e agora repetidos (valerá a pena eu lembrar-me que em 1999-2000 já fiz um documento de flexibilização curricular dos conteúdos transversais às disciplinas do 5º ano que não deu em nada? se me lembrar disso terei tendência a mandar passear quem agora apresenta isto como sendo a novidade do século XXI…).
O horror à História (e o seu progressivo esvaziamento no currículo) é feito por quase todos, sendo muito pior quando aparece na acção de quem se afirma “humanista”, desde que o “humano” se restrinja ao seu tempo de vida no poder. Este “perfil do aluno” é tão humanista que só parece preocupado com o futuro científico e tecnológico, com uns pózinhos de estética e criatividade para dar um ar de sensibilidade, mas a História é palavra maldita e o passado algo que nunca existiu.
O “novo paradigma” (o SE já não se refere assim à coisa, por ter percebido o ridículo, mas a lógica é essa) está contido nesta passagem da página 17 “Abordar os conteúdos de cada área do saber associando-os a situações e problemas presentes no quotidiano da vida do aluno ou presentes no meio sociocultural e geográfico em que se insere, recorrendo a materiais e recursos diversificados.”
Em suma, isto é aquela teoria da sociologia boaventurista da educação, em que os alunos apenas precisam de se interessar pelos que os rodeia no tempo e no espaço, serem “criativos” e “críticos” mas com palas nos olhos e no pensamento, prisioneiros da “localização do saber” como as escolas serão prisioneiras da “localização das políticas educativas”.
Isto é triste, não apenas por eu ser de História, mas por ser uma trágica amputação intelectual da Educação que lamento seja subscrita por um punhado de pessoas associadas a este projecto, que eu tenho a certeza conseguirem ir além disto.
O império do aqui e agora voltou (em boa verdade a tentação pelo isolamento dos indivíduos em relação passado nunca desapareceu e é toda uma linha de pensamento e acção política) e vai beneficiar da colaboração activa ou da apatia condescendente de todos os que dirão que isto sempre é melhor do o que tivemos (leia-se “Crato”, “exames da 4ª classe”, etc, etc, etc).
Ah… claro que maior ofensa que acham poder dirigir a um crítico destas “modernidades” é que está parado no passado, pensa a escola como no século XIX e essas patacoadas do costume nos viciados na última tecnologia de passagem.
Também não gosto do documento, mas não acho o comentário justo. Já ouvi duas vezes o SE a referir a importância da História para o ensino e para o perfil do aluno.
E até gostei bastante. Falou da memória e relacionou a História como crítico para desenvolver pensamento crítico.
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O que aqui escrevi restringe-se ao documento. Presumo que não foi o SE a escrevê-lo, correcto?
Acredito em toda a bondade das intenções dele, mas duvido imenso da aplicação disto. E será isto que acabará por transformar-se num normativo qualquer e não uma qualquer entrevista de um governante.
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Já agora… está a Filomena em condições de garantir que a História e outras Ciências Sociais não vão “ganhar” estatuto de 3ª no currículo (de 2ª ordem já é)?
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Sei lá! Lol, como dizem eles. Se dependesse de mim era de primeira escolha.
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Pois… o problema é esse… já em tempos de Crato passámos por isto e foi evitado praticamente in extremis. Desta vez a “geringonça” vai permitir tudo e mais alguma coisa e ainda dirão que é bom e que quem diz mal é corporativista e só vê o seu quintal :-).
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Leia-se a Lei de Bases e… … … em poucos artigos, maior objectividade e com muito menos gasto de papel está todo este recente palavreado pomposo!
…o que tem isto de novo?….para quê a inutilidade disto?
Desejo de mostrar que se continua a cavalgar na crista da onda? Desejo de mostrar “obra feita”?
Eu estou aqui -vejam-me? Necessidade de justificar perpetuações?
Este país não sai da cepa torta… como os “milhõezitos” que se gastaram a melhorar escolas, depois mais uns milhõezitos a deitá-las abaixo e serem reconstruidas pela parque escolar, depois os milhõezitos a cobrar pela parque escolar às escolas e depois sem “milhõezitos” à vista avista-se a degradação/falta de conservação/manutenção/funcionamento…
Onde estará a diferença entre o antes e depois???
Acredito que, tão só, na intenção: hoje, não como antes (assim o creio) – não havendo “milhõezitos”, haverão (pelo menos) “milharzitos” e janelas de oportunidades, clusters, empreendedorismos e tudo o mais para competências que vimos o presente século desenvolver e intensificar no país: clientelismos, partidarismos, facilitismos, influências e corrupções…
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