Os ajustamentos curriculares da última década tiveram sempre o mesmo sentido: reduzir a componente lectiva dos alunos, excepção feita ao Português e à Matemática, ao mesmo tempo que o conceito de componente lectiva dos professores se foi alargando, alargando… Para quem é distraído, o fim da disciplina de EVT e do par pedagógico proposto em tempos de Sócrates e depois confirmado com Passos Coelho continua em mandato de Costa. Nada mudou, muito menos se verificou um reforço da componente artística no currículo. No 3º ciclo só falta a Educação Visual passar obrigatoriamente a semestral.
Agora fala-se em “currículo essencial” e só uma pessoa muito ingénua não perceberá que a ideia é reduzir o tempo lectivo dos alunos (em torno dos 3o tempos de 45 minutos no 2º ciclo, mais os apoios, sendo um pouco mais no 3º ciclo). A dúvida (se é que existe) é onde irão cortar de novo. Nas “estruturantes”, que continuam a servir de base para todas as avaliações do sucesso? Nas expressões já não dá para cortar mais. Nas Ciências que também são avaliadas pelos PISA?
Já viram o que sobra?
Há mais de 5 anos eu tinha algumas suspeitas sobre a transformação da História numa disciplina aos solavancos, destruindo a própria lógica de sequência temporal que é a sua essência. Chegou a estar na agenda, mas Nuno Crato declarou-se contra de forma clara.
Sim, eu sei que uma “reforma” ou “ajustamento” curricular não se deve fazer a pensar em meros interesses disciplinares, mas ganharão os alunos em aprenderem História em pedacinhos cada vez mais desligados entre si?
Vai tudo para clubes, oficinas, diversões extra-curriculares, “projectos” a desenvolver fora da sala de aula?
Quero muito acreditar que as minhas actuais suspeitas sejam infundadas e que, depois da Filosofia (foi em 2007 que o exame de 11º ano desapareceu, voltando só vários anos mais tarde, quase em simultâneo com o fim da obrigatoriedade da disciplina no 12º ano), não seja a História a próxima vítima, logo no Ensino Básico, dos “humanistas”.