A Aritmética é um Mistério para Mim

Há quem diga por aí que as novas medidas vão reduzir o número de alunos que muitos professores têm, pois assim chegam a ter 11 turmas, quando a disciplina só tem 2 tempo lectivos semanais (90 ou 100 minutos, conforme a “autonomia”, ou seja 11×2=22 tempos), e é uma coisa impossível. Não podia estar mais de acordo.

Por isso, passariam a ter menos turmas com os semestres. E dão como exemplo a História e a Geografia do 3º ciclo.

Agora imaginemos que no novo modelo em vez de 90 ou 100 minutos, em cada semestre cada disciplina poderia passar a ter 3 tempos lectivos (135 ou 150 minutos, sendo que a diferença não é de desprezar com horários contados ao minuto). Cada professor poderia passar a ter “apenas” 7 turmas ao mesmo tempo (7×3=21 tempos e um para um apoio ou para devolver em actividades) em cada semestre. E no segundo semestre teria (para ter horário completo) “apenas” mais 7 turmas.

Ou seja, no total do ano, 14 turmas, embora menos de cada vez.

Quase parece um bom negócio, quando visto da perspectiva da miopia individual.

Mas se fizerem as contas bem, perceberão que serão necessários menos professores no total… certo?

Com 2 professores de Geografia e 2 de História já se “despacham” 28 turmas, enquanto antes, mesmo com aqueles horários que se dizem horríveis mas só existem porque o ME manda raspar tudo e algumas direcções colaboram, só “despachavam” 22. Nada mal pensado. Mais turmas com menos profes.

Já perceberam como querem fazer a poupança?

A menos que eu esteja errado e se mantenham os tempos todos e o currículo dos alunos emagreça por artes mágicas para as 28 ou 25 horas lectivas semanais como é “do interesse dos alunos”.

conta

E a mim parece que as coisas extraordinárias da vinculação ainda ficarão mais magras em vários grupos de recrutamento, atendendo a tais desnecessidades.

Tretas

Os professores só têm 11 turmas porque lhes fazem horários assim, com instruções superiores, e quem os faz raramente os tem ou nem sequer dá aulas. A ideia dos semestres é uma falácia e um barrete enorme porque – e já expliquei isso – o facto de se aumentar o número de horas semanais no semestre pode significar uma significativa redução do seu número anual, logo… a coisa do “menos alunos” não se transforma em menos tempos lectivos para os professores… é uma armadilha em que, infelizmente, vejo muita gente a cair, mesmo ao nível das associações de professores. Embora compreenda que quem ache que vai ganhar apoie a medida que lixa os parceiros. A vida é assim. Dizem que o einstein disse que há outra coisa infinita para além do universo. A essa eu ainda acrescentaria a vaidade de quem gosta de parecer bem.

O secretário de Estado anda em digressão em busca de apoios, com uma conversa doce que tem seduzido muita gente com incapacidade de raciocínio próprio. Mais gente do que eu esperaria, mesmo atendendo ao cansaço generalizado. Claro que não me espanta o apoio do pai confapiano, já do Filinto esperava que visse mais longe do que a questão das “gorduras”. O problema é que, por exemplo, eu li antes dele os livros em que ele aprendeu e ouvi antes dele as luminárias que ele segue e ainda não decidi fazer de cachorrinho béu-béu no vidro traseiro da banheira negra com chófer que no outro dia de manhãzinha me ia passando a ferro ao não parar no stop ali no cruzamento dos portais de quem vem da recta dos painéis solares.

Se ele (secretário de Estado que o ministro está perdido antes de entrar em qualquer destes combates, à procura do índice do memorando) quiser fazer alguma coisa de jeito – em vez de proclamar um “interesse dos alunos” que, a ser mesmo respeitado, acabaria com as aulas na escola – criaria áreas multidisciplinares com carga horária relevante e equipas pedagógicas para as assegurar verdadeiramente em trabalho de projecto. Ou lembrar-se-ia que apresentou um cronograma de provas de aferição que se afirmou serem “exigentes” e com base no qual as pessoas começaram este ano a planificar o seu trabalho. Que vai ser de novo demolido por nova reforma genial que terminará (desta é que é) com o insucesso e o abandono.

Mas isso seria pedir a ele e a quem o inspira uma capacidade política que escasseia, pois tudo se destina a poupar dinheiro e quem achar que não é esse o verdadeiro objectivo de uma “profunda” reforma curricular com “currículos essenciais” merece tudo o que lhe possa acontecer (a menos que lhe tenha saído no bolinho da sorte uma senha de kapo do novo sistema).
dog_sim

Ahhh… e esqueçam a redução dos alunos por turma (dividir turmas em turnos num par de disciplinas é outra coisa) ou qualquer alteração no modelo de gestão. Os lutadores façanhudos estão presos e bem presos pela fome de pizzas negociais e prontos para esquecerem toda a pouca vergonha que lhes restava nas distintas trombas. E, quando necessário, os estudos do quené já servem.

Se a prosa começa a ser um bocado menos subtil e mais abrutalhada? São os tempos…