E Quem nos Defende?

Um dos desportos favoritos sempre que certos sectores chegam ao poder na Educação é o do tiro aos professores, de forma mais directa ou enviesada, mesmo quando parece que não, que até querem ser amigos. Mas a verdade é que sempre que as coisas não lhes correm completamente bem, percebe-se que surgem estudos, recomendações internacionais, constatações diversas sobre a inadequação dos professores aos novos tempos, fruto do seu envelhecimento e inadaptação ao século onde já vivem há quase duas décadas, e a reclamação da necessidade de “formação” para ultrapassar as alegadas lacunas. Em defesa dos professores aparecem, conforme o interesse ocasional da agenda autorizada, alguns sindicatos que batem mais latas do que mordem os poderes de que, em primeira e última instância, dependem para ter o seu papel negocial. Mas pouco mais, porque parece mal e conseguiram inculcar em muita gente uma espécie de complexo de culpa que não atinge outros grupos profissionais qualificados.  A defesa dos professores é uma espécie de anátema e a acusação de “corporativismo” parte tantas vezes de dentro dos próprios docentes, em particular do que acham que, demarcando-se das “más práticas”, podem elevar-se acima do vulgo. Eu prefiro assumir as falhas próprias de qualquer grupo profissional, não me envergonhando da globalidade dos colegas que tenho (mesmo se há claramente alguns que são embaraçosos na sua inépcia) e não desistindo, por causa disso, de reclamar o respeito que nos é devido, em termos simbólicos e materiais. E não pretendo ser cooptado pelos querem formar o “Professor Novo” que, como regra, gostam de o ver à sua imagem ou pelos que acham que a formação dos professores foi uma desgraça, mesmo quando foram eles a fazê-la, pelo que é preciso reformá-los nas suas mais variadas, incluindo a da reformatação.

Resumindo… era bom que os próprios professores deixassem de ter vergonha de o serem e de não necessitar de uma validação “externa” para se sentirem bem consigo mesmos, devendo bastar-lhes a dos seus alunos reais e não a representação que dela é feita por especialistas do regime ou por discursos políticos que manipulam a realidade diária. Eu sei que o processo de inculcação da culpa tem sido longo, intenso e insidioso e que muita gente já se rendeu a isso e já só tenta sobreviver a cada nova vaga de disparate. E que ver o crescimento do lado negro da força desanima qualquer um.

Porque escrevo isto? A que pretexto? Talvez por estar em decurso mais uma ampla tentativa de lavagem ao cérebro da opinião pública e dos próprios professores?

Brain

Fifty/Fifty?

Num estudo da Universidade do Minho sobre violência e bullying nas escolas, baseado nos distritos de Braga e Faro, aparece a referência a que metade dos alunos se sentem discriminados, só se adiantando na peça que isso é referido por alunos que dizem que os professores preferem os bons alunos.

Já houve tempos em que me apeteceria comentar isto de forma sarcástica, mas depois ainda dizem que eu sou pouco construtivo e muito “corporativista”, que é uma palavra que continua na moda entre as pessoas que nada ou ninguém discriminam, excepto (a)os professores.

scratchingani

Andamos a Salvar Bancos para Isto?

À aproximação do fim de uma semana muito desgastante e de umas quantas semanas pouco animadoras, soube que um grande amigo de adolescência (afinal foi ele que me emprestou a 1ª edição do Sem Penas do Woody Allen) e companheiro de dezenas, centenas de viagens para Lisboa (comboio e barco da CP, mais Baixa acima e metro, eu para a Faculdade, ele para o emprego) ali por meio dos anos 80, morreu com 52 anos, 2 meses fulminantes após a descoberta de um cancro. Há muitos anos que só nos víamos virtualmente, mas há muito boas memórias comuns.

E um tipo não pode deixar de pensar… mas é para isto que esta cambada de sociopatas e cleptocratas nos anda a espremer em vida e nós ainda somos encorajados a achar que este é o melhor dos mundos? Ou, para os mais coitados, que há um qualquer lugar onde seremos recompensados pela nossa idiotice?

E é então que me apetece lembrar o Paulo (raios… ainda para mais um homónimo) à saída dos barcos do Barreiro (1983? 1984?), ali no Terreiro do Paço perante aquele mar de gente a desaguar para o trabalhinho de cabeça mal levantada e ele a dizer bem alto “carneirada… se tivesse aqui uma metralhadora matava-os todos e eles nem davam por isso”. E sei que ele seria o primeiro a rir-se com esta memória em forma de epitáfio alucinado.

PGil

Aquele Cansaço

Típico dos últimos dias de período e que não resulta das aulas ou só das aulas. Que se acumula a um período longo de aulas mas que se instala perante a pilha de burrocracia administrativa que cada governo aumenta com as suas inovações. Este ano é o que resulta dos planos de melhoria e sucesso com que nos verdascaram. A tudo o que existia adicionou-me mais uma aberrante camada de grelhas e relatórios demonstrativos de tudo o que fez ou faria ou teria feito ou fez mesmo, objectivos intermédios, comuns, transversais, paralelas e perpendiculares. Quando será que os grandes apologistas da flexibilidade alargam o seu entusiasmo a aligeirar toda a desconfiança que existe quanto ao trabalho docente, que necessita justificar o mais mindinho dos dedos mexidos? Sim, eu sei que falam sobre isso, por vezes linhas seguidas, declarações de compreensão. O problema é o ZERO absoluto dos actos.

Quando ouço e leio críticas inflamadas contra o peso do Estado, será que essas criaturas doutas já pensaram quem são as suas primeiras vítimas? Quem é soterrado antes que lhes chegue a coisa?

Papel

Pingue-Pongue

Isto não é maneira de tratar assuntos sérios, brincando aos putos reguilas dos dois lados a convidar os amigos para a disputa. É assim que a credibilidade destes debates evapora num instante.

O BE pediu nesta terça-feira a audição parlamentar de mais de 11 entidades “com pensamento estruturado na área da Educação e, nomeadamente, na área do currículo” a propósito do Perfil do Aluno. Na segunda-feira, o PSD já tinha pedido a audição parlamentar do Conselho de Escolas, Sociedade Portuguesa de Matemática e da Associação Nacional de Professores de Português, sobre o mesmo tema.

(…)

O BE quer assim que, na Comissão de Educação e Ciência, sejam ouvidas: Fenprof; FNE; Associação de Professores de Geografia; Associação de Professores de Matemática; Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente (APCP); Conselho Nacional de Associações de Professores e Profissionais de Educação Física (CNAPEF); Movimento Escola Moderna; Observatório das Políticas de Educação, Formação e Ciência, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, e Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra; Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial; Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE) e Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática.

pingue pongue