O Paulo Prudêncio insurge-se contra quem levanta dúvidas em relação às mudanças que se anunciam de forma adequadamente vaga e numa espécie de vamos ver no que isto dá em matéria de currículo e, de forma explícita, associa essa atitude a uma defesa das medidas de Nuno Crato.
Penso ser a primeira vez que discordo abertamente do Paulo, que me parece seduzido pelo discurso fofinho da geringonça educativa ao ponto de cometer algumas imprecisões quanto às matérias que foram preteridas ou preferidas ao longo dos últimos tempos no currículo do Ensino Básico (as Ciências viram o seu tempo reforçado como se pode perceber ao consultar a matriz do 3º ciclo, enquanto o Inglês não perdeu nada e as Ciências Sociais ficaram paradas… o Português e a Matemática reforçaram as suas horas à custa das ACND). Sei que o Paulo, se espreitar os dados, concordará com esta minha observação.
(já agora… a roda quadrada é um avanço em relação à roda triangular…)
Mas o principal não passa por aí, mas pelo facto de eu não concordar com a passagem de cheques em branco a ninguém nesta altura do campeonato. Ora nós não sabemos oficialmente NADA sobre o que se pretende alterar, pois o Perfil dos alunos para o século XXI é um documento do tipo algodão doce… sabe bem, é fofinho, mas não dá propriamente alimento por manifesta falta de substância e muito menos de orientações concretas sobre mudanças curriculares.
Diz-se que anda em discussão por aí, o secretário de Estado multiplica milhas pelas estradas deste país, a consultar imensa gente e a dialogar, mas… um documento, uma proposta concreta para debate aberto e público não existe. Ou melhor, existe em conversas privadas, em círculos desigualmente restritos, onde se dizem coisas que depois se desdizem publicamente quando os jornais as divulgam.
Ora, se conceptualmente, o Perfil é um documento com um discurso praticamente igual a tantos outros por esse mundo fora (já ontem aqui coloquei a ligação para um de 2007 que tem passagens quase iguais) e dificilmente se pode considerar um avanço civilizacional, o mais complicado é que nada de equivalente apareceu para debate público sobre as mudanças curriculares, excepto umas bocas sobre a necessidade de “emagrecer” o currículo para conteúdos “essenciais” (haverá algo mais cratiano do que isto? só falta dizer “conhecimentos estruturantes” que vai dar ao mesmo), para levar o desenvolvimento das “competências” para “fora da sala de aula” e que “está tudo em cima da mesa” incluindo a semestralização de algumas das disciplinas que mais cortes tiveram com a criação das ACND há 15 anos.
O que está em causa, Paulo, é que eu não posso dizer que concordo com o que desconheço oficialmente, sendo que discordo desta forma de fazer as coisas, em “diálogo” com alguns, com receio do “ruído” de um debate mais alargado. Se conheces mais do que eu sobre as mudanças previstas, por favor, divulga, nem que seja sob pseudónimo, se alguém te contou em confidência. Porque eu não gosto da mudança pela mudança, mas da mudança para melhor.
E para melhor, para mim, se é para levar isto a sério, é necessário ter a coragem de alterar mesmo as coisas, criar uma meia dúzia de áreas interdisciplinares, com carga horária adequada, com equipas pedagógicas responsáveis pela sua leccionação em verdadeiro trabalho colaborativo de projecto, sem minutos contados entre a entrada e a saída da porta, sem uma matriz semanal obrigatória, com liberdade pedagógica a sério. Sem a mesquinhez do regateio do que é lectivo ou não, mesmo sendo com alunos e turmas.
É isso que está a ser preparado, Paulo?
Por favor, diz-me que sim e eu converto-me já a seguir ao século XXI.
(diz-me que o mundo será libertado de grelhas de observação, registo e medição da mudança… e eu venerarei os novos senhores da geringonça educativa…)