Neutralização

De forma directa nesta última agitada década e de modo mais indirecto em tempos menos frenéticos, tive a possibilidade de verificar os processos de “sedução” do poder em relação aos que considera serem permeáveis à sua influência nas fileiras “adversárias” ou em zonas de fronteira. A metodologia é multicolorida e não exclusiva destes ou daqueles, apenas variando os meios ao dispor em dado momento para neutralizar oposições chatas, mas tipo esparguete.

O primeiro esforço é o do contacto e o da chamada para “conversas” ou “iniciativas” que envolvam os alvos em grupos mais alargados, assim quase que como quando as vaquinhas entram na arena para levar o touro para os curros.

Conversando… há diversas hipóteses e/ou fases do “diálogo”:

A garantia da importância da nossa opinião sobre os problemas em apreço e a elevada estima em que têm a nossa estimadíssima pessoa e o nosso saber específico.

A promessa de ouvirem todos os “contributos” e estarem “abertos” a todas as ideias, numa perspectiva de inclusão de diferentes perspectivas.

A promessa adicional de irem fazer algo na área que sabem ser do nosso interesse, pelo que nada melhor do que colaborarmos nesse “esforço conjunto” para “melhorar” a situação existente e que “como sabemos” precisa de “urgente mudança”.

A garantia de termos excelentes ideias, que é necessário “operacionalizar” e nada melhor do que formar-se um grupo para discutir o que pode ser feito, em forma de “estudo” ou coisa afim.

A aceitação daquilo que já pensavam fazer, mas dando a sensação que fomos nós a convencê-los da justeza imensa dessa posição particular.

A diluição progressiva, de forma mais ou menos subtil, de todas as propostas que nunca consideraram verdadeiramente úteis para a sua agenda, mas garantindo – mal se levante a questão – que “oportunamente” entrara na “nossa” agenda.

Em casos mais duros de ouvido – ou como forma de encurtar estas fases – adianta-se logo um convite para participar numa “formação”, dependendo depois as condições da retribuição pela colaboração. Mas isso será tema para outra prosa suave acerca da forma como as convicções se transformam em conveniências por um processo que eu diria quase inconsciente 🙂 .

O segredo, sempre, é não nos deixarmos agarrar pela gosma.

sereias

Memória – 8 de Março de 2001

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Já lá vão muitos anos… o lançamento do catálogo de uma exposição no Arquivo Fotográfico da C. M. Lisboa baseada no texto da minha tese de mestrado. A propósito do Dia da Mulher. Eram os tempos de João Soares e, pelas bases, uma espécie de pré-geringonça autárquica com a qual ainda dei umas cabeçadas na parede. Curiosamente, em algumas partes do livro, devido ao puritanismo de quem não queria a inclusão de fotos de nus femininos da época, sem ser em modelo de mini-bilhete postal.

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Memória

Há um ano (embora o lançamento tenha sido a 2 de Março) tentava fazer a crónica de 2008, sabendo que era um livro para cortar de vez os laços com a classe de políticos de aviário e pacotilha que desgovernam a Educação e escolhendo com clareza o lado de cá, para que não existissem dúvidas que não estou para esquecer ou perdoar, pois faltam-me faces para ser cristão, de tanto tabefe que levámos. Enjoam-me (enojam-me) aqueles que nem sequer se sabem respeitar e se vendem por dez méreis de mel mal coado.

LivroManif

A foto é da Armanda Sousa e capta uma imagem interessante e quase irrepetível que foi ver o cartapácio em destaque num expositor de uma livraria. Porque foi interessante o tratamento que lhe foi dado em alguns espaços que tinham montes de exemplares em armazém sem os colocarem à vista.