De forma directa nesta última agitada década e de modo mais indirecto em tempos menos frenéticos, tive a possibilidade de verificar os processos de “sedução” do poder em relação aos que considera serem permeáveis à sua influência nas fileiras “adversárias” ou em zonas de fronteira. A metodologia é multicolorida e não exclusiva destes ou daqueles, apenas variando os meios ao dispor em dado momento para neutralizar oposições chatas, mas tipo esparguete.
O primeiro esforço é o do contacto e o da chamada para “conversas” ou “iniciativas” que envolvam os alvos em grupos mais alargados, assim quase que como quando as vaquinhas entram na arena para levar o touro para os curros.
Conversando… há diversas hipóteses e/ou fases do “diálogo”:
A garantia da importância da nossa opinião sobre os problemas em apreço e a elevada estima em que têm a nossa estimadíssima pessoa e o nosso saber específico.
A promessa de ouvirem todos os “contributos” e estarem “abertos” a todas as ideias, numa perspectiva de inclusão de diferentes perspectivas.
A promessa adicional de irem fazer algo na área que sabem ser do nosso interesse, pelo que nada melhor do que colaborarmos nesse “esforço conjunto” para “melhorar” a situação existente e que “como sabemos” precisa de “urgente mudança”.
A garantia de termos excelentes ideias, que é necessário “operacionalizar” e nada melhor do que formar-se um grupo para discutir o que pode ser feito, em forma de “estudo” ou coisa afim.
A aceitação daquilo que já pensavam fazer, mas dando a sensação que fomos nós a convencê-los da justeza imensa dessa posição particular.
A diluição progressiva, de forma mais ou menos subtil, de todas as propostas que nunca consideraram verdadeiramente úteis para a sua agenda, mas garantindo – mal se levante a questão – que “oportunamente” entrara na “nossa” agenda.
Em casos mais duros de ouvido – ou como forma de encurtar estas fases – adianta-se logo um convite para participar numa “formação”, dependendo depois as condições da retribuição pela colaboração. Mas isso será tema para outra prosa suave acerca da forma como as convicções se transformam em conveniências por um processo que eu diria quase inconsciente 🙂 .
O segredo, sempre, é não nos deixarmos agarrar pela gosma.
Interessante a caracterização da abordagem sedutora, que funciona com alguns, pelo menos até o verniz começar a estalar.
Mas o discurso do João Costa começa já meter menos “diálogo” e mais a querer “meter-nos na cabeça” a ideia dele.
Vão por mau caminho e comigo não contam: https://escolapt.wordpress.com/2017/03/08/o-preconceito-contra-o-ensino-profissional/
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Há verniz sindical que nunca estala… 🙂 a fidelidade é praticamente pavloviana.
Aliás, a leitura deste post não deve ser redutora (como o A..Duarte já fez de outro texto meu, virando-o apenas para os seus alvos particulares), porque assisti exactamente ao mesmo em ambientes sindicais. A estratégia é igual, igual, igual.
E eu posso assegurar que é porque assisti na primeira pessoa ao que afirmo, desde a fundação mais católica ao sindicato mais ortodoxo. Há dias, lugares, horas e testemunhas. Não é de “ouvir dizer”.
Assinalo, no entanto, com satisfação, a descolagem do A. Duarte em relação ao discurso da geringonça educativa.
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Mas é que é exactamente essa a “missa”.
Já o tentaram comigo, a nível mais local. É nessas alturas que um manguito bem feito me sabe melhor que ginjas.
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Parabéns, Paulo!
É este o miolo da minha deceção mais recente.
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Muito bom!
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