Uma coisa que me irrita um pouquito neste discurso em torno das alegadas mudanças que se querem implementar em torno do currículo, dos programas, das metodologias, etc, é a absoluta mistificação que se faz em relação ao seu carácter “inovador” e à sua ligação com uma “escola para o século XXI” e a necessidade de dotar os alunos de “competências” e de um “perfil” compatível com o “futuro”, algo que só “professores do século XX” e “escolas do século XIX” não conseguem perceber.
Ora, toda essa parafernália retórica é enganadora, para não dizer voluntariamente falsa, apostando no desconhecimento de uns e na falta de memória de outros. Ou ainda… no cansaço da maioria em ir desencantar onde tudo isto já foi escrito e reescrito por alguns dos que ainda andam por aí a anunciar caminhos para o futuro e que anda a ser retomado pelos seus discípulos e alunos mais fiéis desses tempos que foram o final dos anos 80 e início dos anos 90 do século XX.
Na altura, era eu um simples contratado, mas já gostava de ler as novidades (que na altura ainda o eram em certa medida) e mais tarde fui completando por outras razões (profissionalização, doutoramento) a minha biblioteca com umas largas dezenas (se calhar centenas se incluir folhetos, publicações do ME para distribuição gratuita nas escolas, cópias de decretos, portarias e despachos) de publicações que andam por diversas estantes ou empilhadas pelos cantos do escritório.
Hoje, deu-me para ir buscar meia dúzia de livros onde 99% do que nos andam a querer enfiar pelas goelas abaixo já foi escrito, legislado, implementado, revogado no todo ou em parte por manifesta inadequação, novamente apresentado como novidade, de novo ignorado no todo ou em parte por falta de meios e agora mais uma vez despejado como se fosse a quinta essência da “mais recente investigação” (para citar quem já cá anda há mais tempo do que eu nisto e que poderia evitar chamar-nos estúpidos ou precocemente atingidos pela senilidade).
O que vou escrever nos próximos dias é baseado mais ou menos nos livros que apresento mais abaixo ou em outros que decida retirar do fundo da prateleira e tirar-lhe o pó sem risco de ficar intoxicado pela sua acumulação ao fim de 20-25 anos. As imagens não são as melhores porque não estou para gastar demasiado tempo nisto e para que se perceba que são mesmo coisas minhas e não sacadas da net ou citadas a partir de citações (o que acontece a muita boa gente).
Só para efeitos de aperitivo, deixarei aqui o perfil desejável dos alunos à saída do Ensino Básico e do Ensino Secundário no início dos anos 90, na sequência da implementação da chamada Reforma Roberto Carneiro. As páginas reproduzidas são as 58-60 da 2ª edição (1993) dapublicação da Texto Editora (então a preferida pelo ME para este tipo de edições) Reforma Curricular – Guia.
Apesar da qualidade não ser a melhor… quer-me parecer que – menos umas conversas sobre a sociedade da informação e anglicismos como soft skills – o século XXI já estava aqui.



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