O corpo docente está envelhecido, é verdade. Mas em tempos já fomos mais jovens. E lemos as coisas que nos mandaram. E fizemos os possíveis por aplicar. Há excepções, gente que maltrata a profissão que exerce? Há sim, mas não gostamos que sejam as pessoas que formaram e qualificaram para a docência essas mesmas pessoas que nos apareçam a fazer acusações. Tiveram a vossa oportunidade de impedir essas pessoas de serem professores em devido tempo. Era mais fácil dar a notinha, garantir o sucesso, se possível inflacionando as classificações para que a ese ou o rfe da vossa faculdade não ficasse sem alunos? Claro que era e foi quase sempre o que muita gente fez. Acabei o curso em 1987, lembro-me do nascimento disto tudo com que não colaborei desde o primeiro momento, por não acreditar no modelo de profissionalização de aviário, assegurado (do lado dos professores dos futuros professores) por gente em fuga da docência não-superior ou por recrutamento algo ad hoc entre amizades próximas.
Mas lá por não ter embarcado na coisa, não quer dizer que não tivesse lido, nem que fosse como acto recreativo (ou masoquista) o que então se produziu em catadupas sobre a “nova avaliação das aprendizagens”. Quando quem concebia a burrrocracia da avaliação aparecia depois a vender livrinhos a explicar o que ajudara a legislar e fazendo pela vidinha, pois eram tempos de vacas bem gordas para esse tipo de habilideza. É só fazer o cruzamento dos nomes em documentos oficiais e em publicações comerciais. Tudo legítimo e legal, entenda-se, porque a deontologia é algo que só quem exerce a docência básica ou secundária deve ter quando recebe canetas das editoras.

Mas passemos à frente com os maus fígados. Concentremo-nos nas diversas “dimensões” da avaliação das aprendizagens realizadas pelos alunos, pois as não realizadas só poderiam ser responsabilidade dos professores, incapazes de motivar os alunos para as suas aulas e actividades. Uma conversa com décadas, importada lá de fora e descarregada sem dó nem piedade pelos gurus menores de umas ciências da educação que entre nós têm gente muito boa e outra muito má, incapaz de praticar o que professas para os outros. Muita gente passou pelas vossas aulas, sabe do que escrevo. Gente que professa a flexibilidade mas que é rígida como um bacalhau seco, que professa o carácter formativo interactivo da avaliação mas a exerce de forma automática e fechada, sem admitir contestações, que professa a criatividade e a inovação mas é incapaz de sair do espartilho das aulas mais convencionais que se possam imaginar, apenas substituindo os acetatos (tecnologia de ponta nos anos 70) pelos pauerpóintes (o último grito da inovação pedagógica nos anos 90).
Raios, lá me veio a bílis outra vez.
Concentra-te, homem, não te disperses. Mostra lá as coisas com menos verborreia. Para isso chega este exemplo maior de tudo o que se podia (e pode) entender por “avaliação”.




Roland Albrecht (1994), A Avaliação Formativa. Rio Tinto, Edições Asa, pp 83-86.
Ao nível do ensino tínhamos então as seguintes etapas/dimensões/ modalidades de avaliação:
Como se traduzia isto depois no guia de apoio à reforma curricular que citei uns posts atrás? Assim:

E como era a distribuição dos papéis em todo o processo que começava a ter mecanismos labirínticos, a ver se – para os evitar – o pessoal enveredava por assegurar o sucesso em linha recta?

Já aqui estava o essencial do que nos andam a dizer de novo, 25 anos depois, como se fossemos todos uns empedernidos agentes da “cultura da retenção” que décadas de iluminada pregação não conseguiu converter à Luz da Razão do Sucesso. Há quem ainda dê “formação” exactamente nos moldes dessa altura e, mais espantoso, leio gente a afirmar que adorou (com direito a fotos em “redes sociais” a comprovar a presença nos eventos com o dr. tal e a drª tal e coisa) e que parece nunca ter ouvido falar em tal coisa até ao dia de antes de anteontem à tarde..
Realmente, estamos envelhecidos. Só o velho alzheimer pode explicar certas amnésias… ou então, voltamos ao início, há quem tenha feito cursos de formação de professores e ramos de formação educacional na base do copianço e direito ao sucesso, sem ler nada destas coisas e limitando-se a reproduzir como professor o que terá experimentado como aluno. Mas costuma ser esta gente que faz imensas acções de formação, carrega créditos como se fossem berlindes e gosta de exibir sapiência em alta voz em algumas salas de professores a espalhar a Palavra dos tempos dos apóstolos originais.
Tudo isto é passado. Podem dizer que esse passado é melhor do que outros, mas não nos queiram fazer acreditar que o Marty McFly vai para 2035, mas não vai… é mais 1985.

Gostar disto:
Gosto Carregando...