João Costa Über Alles

O secretário de Estado da Educação parece ter assumido como uma questão de orgulho pessoal a sua reforma curricular, no sentido de uma muito anunciada “flexibilização”, assim como de um conjunto de “aprendizagens essenciais”. A reforma é, em meu entender, apressada, ideológica e pouco coerente com muito do que a deveria envolver.

Perante diversos sinais vindos do alto no sentido de ponderar melhor as coisas, de não confundir diálogo com os amigos com diálogo com as escolas e os professores e de perceber que é mais outro a querer mudar tudo num par de anos, João Costa decidiu forçar as coisas, fazer uma fuga para a frente, pedindo aos seus apoiantes para se manifestarem através de uma clássica carta aberta de que tive conhecimento pelo Alexandre (o grande apoiante desta “mudança” na blogosfera) e no Acção Socialista, desculpem, Diário de Notícias.

Ao ler ali uma lista de tantas associações de professores no documento, tanta gente ao lado, atrás, ao redor do secretário de Estado a manifestar o seu apoio ia ficando comovido. Mas depois… lembrei-me o quanto sou velho nisto e o quanto sou calejado nestas artes de cartas abertas de apoio a governantes.

E descarreguei o documento (carta-aberta-das-Associacoes-Professores) e fui ver as suas propriedades e a sua autoria. E deu isto:

CArtaAssoc

E é agora que vocêses todos me perguntam… e quem é, Matusalém Arcaico, a senhora (drª) Luísa Ucha?

É Luísa Maria Ucha Silva, adjunta do Gabinete do Secretário de Estado da Educação. Com um currículo interessante na Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular.

Eu penso que não é preciso fazer um desenho para vos explicar o resto…

(a hora da modificação do documento é a hora em que fiz o download…)

Espremendo a Malta…

… e conseguindo manter a regulação à distância é fácil fazer negócios da China e ter grandes lucros.

A imagem é de 2014 mas continua mais do que actual.

Mas ele é que está bem… o resto da maralha é que não descobriu o segredo da máquina de fazer aumentar a conta bancária, porque eu até acredito que ele já nem mexe em notas.

António Mexia-factura

Esquizofrenia

Mas afinal quem é que tem a tutela sobre a IGEC e o poder de produzir um novo tipo de legislação não directiva? Confesso que por esta justificação não esperava para legitimar a tentativa de impor uma visão particular do que deve ser uma “reforma curricular”. Seria interessante fazer saber ao SE que pode sempre dar indicações à IGEC para alterar alguns procedimentos…

Mas eu percebo que é uma curiosa tentativa (talvez a terceira estratégia para avançar com a coisa) de demonstrar que o seu objectivo é “libertar” as escolas… .-) 🙂 🙂 . Que tal ter começado por aí e por fazer isso ao nível dos procedimentos internos?

O secretário de Estado da Educação, João Costa, afirmou hoje que as “melhores práticas” pedagógicas aplicadas por algumas escolas “vivem sob a espada de uma inspeção”, porque a legislação não legitima estas práticas.

Há uns anos, na sequência de um comentário muito mais benigno, assisti a uma reacção bem furiosa do representante da IGE neste seminário do CNE (cf. pp 202-204). Aguardo agora o que tem a IGEC a dizer desta acusação do senhor SE de estado que a considera uma espécie de cavaleiro castrador (já não são só os professores arcaicos e imobilistas).

Para que conste, em 2012 eu já falava no meu quintal 🙂 . Premonições.

closeau

Um Ano Depois…

… as estórias do perfil multiusos e do currículo “essencial” só me reforçam a ideia de que isto é uma Educação Simplex a fingir de modernaça.

Reparem que se eu tirar apenas a parte muito específica a que se aplicava o texto de então, tudo permanece válido.

Isto é demasiado mau. Revela impreparação, ausência de rumo, experimentalismo no mau sentido, alijamento de responsabilidades e um modo simplex e desleixado de tratar questões sérias, desrespeitando em primeiro lugar os alunos e em seguida as escolas e os professores. Já sei que haverá quem venha defender esta solução e achá-la a melhor dentro do possível. Não é verdade. Esta é uma má solução, que vai usar a “autonomia” como pretexto para transferir as responsabilidades pela decisão [inserir “flexibilidade curricular”, por exemplo] para as escolas, numa perspectiva de decisão quase unipessoal, sem qualquer verdadeiro espaço e tempo para debate interno. O que está profundamente errado.

PG 4