Reformas, Paradigmas

A conversa em redor da Educação padece quase sempre de uma miopia mental disfarçada com retóricas gongóricas, normalmente relacionadas com a necessidade de “mudar o paradigma”, uma expressão que me provoca uma imensa complicação neurológica, despertando-me imensos e dolorosos tiques nervosos, de tão massacrado que já fui ao longo do tempo com a expressão por quem nem sequer sabe exactamente do que está a falar (e o Kuhn deve revolver-se onde quer que esteja). Então se vier associada ao “interesse dos alunos” fico com enorme vontade de me alistar na National Rifle Association.

Para mim, curiosamente, são mais importantes coisas bem mais práticas como melhorar o ambiente de escola para que os alunos se sintam seguros nas mais variadas dimensões para desenvolver as suas aprendizagens.

O ambiente de escola é algo que nem sempre é tido em consideração quando se analisam os factores de sucesso ou o que é importante “reformar” na Educação, a menos que seja na sequência de acontecimentos mediáticos ligados à violência nos espaços escolares. Ou então é associado de forma simplista apenas às condições das instalações escolares (tipo Parque Escolar para alguns).
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Mas o ambiente de escola é muito mais do que isso, em especial se nos preocuparmos com a segurança física, psicológica e mesmo social dos alunos  e com o que é necessário para que eles se sintam plenamente confiantes no espaço escolar e nas salas de aula para desenvolverem todo o seu potencial, chamemos-lhe conhecimentos ou competências. Quando se fala muito na necessidade de “mudar” ou “reformar” o funcionamento das escolas no “interesse dos alunos”, a minha prioridade passa sempre por pensar a escola e a sala de aula como um espaço seguro a todos os níveis.
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Um Azar dos Távoras

Estive a ler a justificação dada pela presidente da Associação de Professores de Geografia para o facto do documento subscrito por 14 associações de professores ter nas suas propriedades como autora uma pessoa que é da direcção da APG e adjunta do gabinete do secretário de Estado da Educação. A imagem abaixo é do Correio da Manhã:

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Após a leitura fiquei a saber o seguinte:

  • 4 associações de professores decidiram tomar, entre si, a iniciativa de fazer a carta aberta, contactando depois as restantes.
  • Em vez de criarem um documento de base (abrir o Word e clicar em “Novo”, um processo que garanto ser rápido), decidiram ir “buscar à Internet” um documento existente para apagar o que não interessava e escrever o que pretendiam.
  • O documento em causa tinha como autora uma pessoa que é em simultâneo adjunta do secretário de Estado e da direcção de uma dessas 4 associações, a mesma a que pertence quem presta estas declarações. Curiosamente, se formos consultar o documento em causa, na sua versão “na Internet”, não apresenta autoria e sendo um pdf não pode ser alterado sem alguma perda de tempo (superior a abrir um documento novo). Essa autoria aparece apenas na versão anterior ainda em formato .doc de dia 12 de Fevereiro (pelas 16.21), sendo que até aparece quem fez a última modificação e a data da última impressão daquele ficheiro específico (tenho um exemplar, que me chegou por comentador amigo). Esse documento circulou por mail, não sabendo eu se é mais fácil de encontrar do que o pdf.

Perante isto, eu tenho alguma dificuldade em fazer comentários… em especial se associar tudo o que é dito a outras declarações na peça (é falso que os programas em vigência, nomeadamente os de Matemática e Português, estejam em vigor desde 1990), ao facto da APEVT se ter envolvido neste documento que não faz uma referência ao corte radical da(s) sua(s) disciplina(s) ainda antes de Nuno Crato (que há quem anatemize pelas razões menos certas, porque ele continuou muita da obra anterior, o que é branqueado) ou de um mail que chegou às redacções dos jornais subscrito pela APP ir, ao que me contaram algumas pessoas que o receberam, marcado por diversos erros ortográficos.

Sinceramente, da presidente da APG esperava algo mais, até porque me recordo de uma boa entrevista que deu há anos ao Educare em que elogiava as medidas de Nuno Crato que reforçavam a sua disciplina e em que afirmou coisas como “no que diz respeito à Geografia do 3.º ciclo, o aumento da carga horário é, para nós, uma boa decisão” ou toda esta passagem:

E: A reorganização curricular, tal como está traçada, responde às necessidades da comunidade educativa?
ESL:
Essa resposta só pode ser dada por estudos científicos, levados a cabo pela comunidade científica. Contudo, considero que é importante que os jovens se concentrem no conjunto de disciplinas nucleares. Mas a escola deve propiciar também, por exemplo através das atividades extracurriculares, que as crianças e jovens contactem com situações de aprendizagem diferentes, menos formais, mas igualmente importantes num mundo que está em constante mudança.

E: Matemática e Português saem reforçadas nesta reforma. Uma boa opção?
ESL:
Sempre considerei a Matemática e o Português duas disciplinas fundamentais. Teremos que trabalhar mais em conjunto pois, como disse anteriormente, a Geografia, tal como as outras disciplinas, contribui também para a aprendizagem de conceitos matemáticos e para o aprofundamento do domínio da Língua Portuguesa.

E: Área de Projeto e Estudo Acompanhado desaparecem. Não farão falta?
ESL:
Penso que será sempre importante as crianças e os jovens aprenderem a traçar objetivos, a resolver problemas, a tomar decisões. Estas capacidades tanto se podem desenvolver no quadro das disciplinas formais como através das atividades extracurriculares.

E eu concordo bastante com ela nestas matérias (menos na paranóia total com o Português e a Matemática, mesmo se lecciono uma das disciplinas) e em quase todas as outras que aborda nas suas respostas.

Quanto a mim, repito que aponto coincidências e não imputo malfeitorias. Quanto muito, profundas inabilidades. E fui fielmente citado, para que não restem dúvidas.

Num outro dia, posso anotar as parte da carta aberta que me levantam muitas dúvidas e aquelas que acho particularmente mal pensadas e pior executadas. Não porque eu seja muito esperto… apenas porque há quem pareça ainda menos.

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Só para que conste, a tag que usei para este post foi “Arquivo Pitoresco”.

 

Metadados

Bom dia, que tal a imagem de um pequeno almoço, tirada com o meu arcaico tm, não esperto?

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Que vos diz? Que eu sou guloso? Que gosto de um pouco de cafeína e açúcar pela manhã, para me fazer disparar alguma experteza (antes que me avisem escrevi assim de propósito)?

Errado! Ou melhor, é certo aquilo tudo, mas esta imagem diz-vos muito mais coisas e, desde que eu queira aqui partilhá-la, não posso evitar que ela vos diga que comi um belo ninho a acompanhar o meu café mexido com pau de canela pelas 9.26 da manhã. Que tinha um tm Samsung de velhíssima geração comigo, que ele não tira fotos com grande definição, mas que já foram mais de 3000 as que captei com os seus préstimos.

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Como o meu tm é do tempo do granito como o dono, não tendo gps incorporado, não vos diz onde eu tirei a foto, apenas quando, com que câmara e definições, onde a armazenei, etc, etc. Mas a grande maioria das fotos que andam por aí dizem-me até se a pessoa tirou mesmo a foto onde diz que tirou ou se foi colhida na net ou se foi em outra altura ou se nunca esteve em Veneza, embora pareça que sim.

Infelizmente, a maioria das pessoas é realmente info-excluída e isso pode medir-se pela intensidade e regularidade de comentários nas redes sociais, não negando eu que é muito visível mesmo em grupos de professores, onde se pode constatar que se considera que ter um perfil cheio de coisinhas na dita rede social é sinal de adesão às novas tecnologias e domínio do digital.

Também não adianta ter um zingarelho de última geração, cheio de apps da última fornada, pois isso só me ajudaria (caso tivesse a paciência) para saber mais sobre quem se exibe em todo o seu esplendor na insegurança digital.

Portanto, por favor, quando arranjarem explicações sobre a forma como produziram imagens ou documentos, não façam figuras tristes. Porque se eu, um tipo de História que pouco recorre sequer a ferramentas da net e nem sabe encriptar o mal a menos que exista um botão para o efeito, consegue saber todas estas coisas, é porque é realmente fácil, muito fácil. E qualquer pessoa como eu poderá perceber que nem sequer tenho um computador registado em meu nome com grandes capacidades de tratamento de imagem.