Não Percebi

A irritação de Mário Nogueira na mini-entrevista dada ao Bernardo Esteves do Correio da Manhã e transcrita numa das últimas páginas da edição de hoje (não está online e eu não fotografei o cantinho da página) e na qual, a propósito da alteração de estratégia do ME em relação à flexibilização curricular, parte para acusações de cobardia, seguindo-se umas bojardas sobre a possível intervenção presidencial no processo. Ou estou muito enganado ou há qualquer coisa que me escapa que lhe anda a correr mal.

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Duas Breves Notas sobre a Flexibilidade

Em coerência, acho que se deveriam tornar facultativos os exames/provas finais do 9º ano. Facultativos para as escolas e para os próprios alunos. Não faz sentido andar-se a propor o fim do peso do exames do Secundário no acesso à Universidade e mantê-los no Básico. E reparem que isto sou eu a dizer, uma criatura arcaica a quem o “exame da 4ª classe” não provocava calafrios ideológicos.

Quanto à operacionalização dos projectos transdisciplinares, das semestralizações, trimestralizações e fundições de disciplinas, mais todo o resto de interessantes experiências pedagógicas que se abrem nesta nova fase da Educação em Portugal, aguardo com acrescido entusiasmo por toda a parafernália de documentos para as poder implementar, desde o impresso para apresentar a proposta planificada, calendarizada e grelhada aos registos de actividades relatórios de execução e auto-avaliação, não esquecendo as ferramentas e instrumentos para a monitorização intermédia do progresso verificado. Penso que é todo um novo campo que se abre para a burrocracia escolar.

(ou então substitui-se tudo com a garantia do sucesso pleno dos alunos… e não se fala mais nisso…)

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Há que Saber dar os Parabéns

Pelo hábil plano B da equipa do ME, a começar pelo SE João Costa, em relação à “flexibilização curricular” e pela capacidade de reagir às adversidades e tentar ocultar os problemas com a apresentação de uma versão completamente alternativa (e melhor, confesso) do que foi sendo anunciado, de forma mais oficiosa e a ver no que dá, nos últimos meses.

Recapitulemos brevemente o que se anunciava (para desdizer ou garantir que nunca fora dito quando apareciam obstáculos): uma reforma tendente a flexibilizar o currículo e reduzir os programas aos conteúdos considerados “essenciais” (de acordo com o Perfil coordenado por Guilherme de Oliveira Martins), com aplicação generalizada no próximo ano nos 1ºs anos dos vários ciclos do Ensino Básico, incluindo uma mudança da carga horária de várias disciplinas tradicionais, a reconfiguração do currículo e a redução da carga lectiva dos alunos. A aplicação ao Ensino Secundário seria feita mais tarde.

Recapitulemos brevemente o que se anunciou ontem (esperemos que para manter desta vez): uma reforma tendente a flexibilizar as estratégias pedagógicas de abordar o currículo, não alterando programas, com aplicação generalizada apenas nos 3º e 4º anos do 1º ciclo do Ensino Básico, sem reduzir a carga horária das disciplinas tradicionais. A aplicação no Ensino Secundário de uma maior permeabilidade na escolha das disciplinas pelos alunos. O avanço com uma experiência-piloto de reconfiguração curricular em cerca de 50 escolas com 2º e 3º ciclo, com autonomia das escolas para definirem áreas de trabalho comuns a diversas disciplinas.

Ou seja… avançou-se com algo razoável e que poderia ter sido proposto, desde o início, sem especial polémica, sem a necessidade de andar pelo país a arregimentar apoios ou de encenar vagas de fundo a apoiar as medidas. Se o primeiro projecto travou por razões eleitoralistas ou veto informal presidencial, em vez de ser por básico bom senso, não me interessa.

Se tudo tivesse sido apresentado assim desde o início, tudo teria sido muito melhor e mais pacífico. De qualquer modo, há sempre a hipótese do império contra-atacar porque o ladro negro tem muita força.