Dia: 24 de Março, 2017
O Que Diz Que Disse?
Alguém leva isto a sério?
Fenprof ameaça com greve às avaliações
Ameaça feita ao Ministério da Educação não vincular até 1 de setembro os 67 professores do ensino artístico especializado público que reúnem condições para o efeito.
(…)
O líder da Fenprof recusou que este possa ser “um problema das Finanças”, porque “num universo de 110 mil professores não querer vincular 67 seria demasiado ridículo”, lembrando ainda que na vinculação extraordinária aprovada couberam cerca de 3.200 docentes.
“Demasiado ridículo” é ainda andarmos congelados e fingir-se que essa é uma questão menor, quando era dramática com o outro desgoverno, ou “corporativista”, como parece ter voltado a ser dito quando algum professor defende sem vergonha os direitos da sua profissão, sem pretensões a “elevar-se” sobre tais minudências.
Regresso ao Futuro – 5
Pensava não voltar ao assunto, mas a recente investida da equipa do ME no tema da “flexibilidade” curricular com os seus anexos relativos à forma como a coisa se pode fazer no terreno despertou-me de novo aquela irritação do tipo que anda nisto há tempo suficiente para não engolir as coisas e fingir que as não conhece, nunca ouviu falar e que precisa até de formação para fazer o que já fez há 25, 20 ou 15 anos. Entendo que há quem não se lembre ou mesmo que não saiba ou nunca tenha ouvido falar, até porque sei que há muitas profissionalizações de aviário que valem menos do que o preço do papel do diploma.
Então voltemos lá ao passado, à última década do século XX quando se tentou, em diversos momentos, antecipar o século XXI em que já estamos há quase 20 anos.
Comecemos por um dos melhores livros que existiam na altura sobre Pedagogia Diferenciada (Hachette, Paris, 1991) e de que só consegui fotocópias porque na altura não existia Amazon:
O livro não era extenso, não era nenhum cartapácio imenso, sendo, pelo contrário, uma espécie de manual conciso e objectivo na apresentação dos fundamentos teóricos (pp- 10-17) e das propostas de aplicação prática. Eis as páginas (18-21) em que se abordava a questão do trabalho em equipa e do que então se chamava “concertação” e já do que se considerava gestão flexível do currículo.
O que se tem publicitado por estes dias mais não é do que uma versão diluída de tudo isto, com a agravante daquelas propostas de gestão do horário ontem divulgadas serem tudo menos “flexíveis”. Eis como há mais de 25 anos já tudo isto era apresentado, de uma forma bem mais “aberta” ao nível da tipologia dos horários (centrado, variado, globalizado, móvel e flexível)
Mas depois de eu apresentar isto, já sei… dizem-me: mas cá nada disto se fez, mesmo depois do projecto de gestão flexível do currículo ter passado a legislação efectiva ali por volta de 2000.
Errado e passo a dar um exemplo concreto de um trabalho de projecto muito alargado – ao nível intermunicipal – com a participação de dezenas de escolas dos concelhos da Moita e Barreiro e a coordenação do Grupo de Trabalho do ME para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses durante a segunda metade dos anos 90 do século passado. O livro com o relato da experiência é da Edições Asa (2001).
Como é que sei isto? Passei a quase totalidade dos anos 90 em escolas destes concelhos (com a excepção de 1994-95 e 1999-2000) e fui desde 1991 colaborador do grupo de trabalho em causa, embora sem intervenção directa neste projecto que já aplicava então muitas das ideias que agora se apresentam como se constituíssem uma enorme novidade.
(pp. 10-11, 17-20)
Mas há mais do que isto para relembrar, sendo que uma parte é testemunho pessoal, mesmo ali do ano de 1999-2000 quando, curiosamente, fui leccionar para outro concelho. Fica para mais logo…
Um Dramático Duplo Inconseguimento
O primeiro é o dos professores que anos a fio, décadas a fio, inconseguem entender o brilhantismo e a genialidade de muitas das propostas políticas na área da Educação e de tantas medidas legisladas por preclaríssimos governantes, sendo sua (dos ditos professores, claro!) a única responsabilidade por tudo aquilo que não correu bem, que não foi devidamente implementando, tal como imaginado nas mentes iluminadas dos reformadores educacionais, ou que os alunos inconseguiram demonstrar.
O segundo inconseguimento é o dos governantes (e seu séquito de cortesãos especialistas de ocasião) que insistem em querer sempre mais e mais, sem se preocuparem em perceber as razões porque a motivação docente foi globalmente trucidada na última década (para ser caridoso), restando apenas o profissionalismo como tábua de salvação para o trabalho diário. Apesar de geniais no desenho de reformas inovadoras, as equipas ministeriais na área da Educação que se foram sucedendo este milénio aparentam inconseguir compreender, de forma bem consistente, os sucessivos factores de desmotivação e desânimo docente, já que se uniram quase todos os elementos da tertúlia em defesa da terraplanagem da carreira docente feita por Maria de Lurdes Rodrigues e mantida por Nuno Crato, sem reversão que se adivinhe, a menos que acreditemos em migalhas pré-eleitorais de 2018-19 como em tempo foram as do engenheiro em 2009-10. E inconseguem entender que a alegada animação e adesão de alguns interlocutores às sucessivas novidades recauchutadas tem uma relação directa com a sua distância em relação às salas de aula.
Onde Traçamos os Limites? – 2
Para o desrespeito verbal entre alunos na sala de aula? É vagamente aceitável que alunos (se) ofendam – e não, não digam que são simples brincadeiras de crianças, porque há quem já tenha idade para saber o que está a fazer – só porque se querem sentir superiores na sua arrogância medíocre, tantas vezes validada por iguais qualidades em quem os educou assim, a amesquinhar à primeira hipótese e a dar cobertura se alguém se queixa ou aparece a traçar os tais limites da razoabilidade?
Onde Traçamos os Limites? – 1
Para a irresponsabilização e incapacidade parental em relação aos seus educandos, em matéria de assiduidade e comportamento? Até que ponto se pode admitir que com (ainda) crianças de 10 ou pouco mais anos, os pais digam que já não sabem o que fazer, que são incapazes de exercer influência sobre os seus filhos/netos, que se limitam a observar os desmandos sucessivos que, mesmo quando acontecem inter-pares, têm sempre um sociólogo sebastião a relativizar e a contextualizar?