Mês: Abril 2017
Mas Porque Ainda te Ralas?
É a pergunta que pessoas amigas me fazem quando dão de caras com alguns textos meus para o longo ou a meter-me onde claramente não me querem chamado. E têm alguma (muita? mesmo muita?) razão quando acrescentam “não percas tempo e energia que eles estão-se nas tintas, fazem o que querem e estão a borrar para o que a malta possa escrever”. E eu penso que fechei o Umbigo farto de confusões e abri este quintal meio por brincadeira e lá vou eu de vez em quando de cabeça contra a parede. Porquê? Em poucas palavras, porque continua por aí uma bela corja cuja missão na vida parece ser aldrabar o próximo, usando malabarismos de linguagem e a truncagem da informação para encobrir a verdade, sacar o que podem (tudo bem que se desenrasquem, desde que não seja à conta de enterrar os outros) e ainda passar por salvadores da Pátria, em geral, e da Educação, em particular. E eu gosto de lhes dizer o que penso disso (como antes destes disse a outros), mesmo que não seja o dono de nenhuma razão. Mesmo que, desta vez, estejam quase todos os canhotos muito unidos e juntinhos a pedalar pró sucesso, porque à direita não há criatura que perceba disto, a não ser os especialistas do cné e os espertalhões dos quirozezes, benzósdeus.
É muita pretensão, a minha? Quiçá… mas o quintal é pequeno e só salta a vedação quem quer.
Querem Ver que Vamos ser “Extraordinários”?
Porque o que vejo escrito a respeito do descongelamento de carreiras não se aplica à carreira docente, que não funciona com pontos… porque se fosse para aplicar as regras aprovadas por estes mesmos senhores do PS sobre a progressão quase todos nós subiríamos dois (ou mesmo três para quem estiver no final do 4º escalão) escalões.
A Luta como Iogurte (com ou sem Sabores)
O António Duarte denuncia a minha “profunda incompreensão do que é uma luta de trabalhadores quando se pensa que ela deve funcionar na base do tudo ou nada”. Tem a sua graça, embora seja trágico em alguém que, se forem outros a afirmar “vitória ou morte” aparece logo a dizer que é assim mesmo e muito bem. De acordo com o António “os professores terminaram a greve às avaliações de 2013 numa posição de força e quando a unidade na luta se mantinha intacta“. C’um escafandro… devo ter apanhado um ganda ataque de alzaima.
Os professores terminaram a luta porque deixaram de ter cobertura sindical que se baldou quando a coisa estava a começar a apertar. Uma comentadora fenprofiana, que tem os seus dias bons em anos bissextos da parte da tarde do dia 30 de Fevereiro confirma que “foram 2 semanas de uma boa organização e em que os professores se mostraram unidos e solidários. A continuação desta estratégia, sentia-se e sabia-se, tenderia a esmorecer”.
Pois claro. Em boa verdade, as sensações é que estão a dar em Educação. Quanto ao “sabia-se”, algo me escapou. Nem uma terceira semaninha se aguentaria, quando as coisas estavam prestes a ficar críticas? Somos, afinal, como alguém (curiosamente ex-sindicalista) como o “esparguete” que cede, ao que parece, ao fim de duas semanas?
Será que é isso que ensinam nas formações sindicais? As lutas, malta, ao fim de duas semanas – é sabido! – tendem a esmorecer. Como há muita permeabilidade entre sindicatos e poder político, já se viu que os governantes (em especial à esquerda) estão a par desta lei da luta sindical docente e, esperando duas semanas, a coisa morre por ali. Tipo iogurte que perde o prazo de validade e fica com uns gorgulhos a coalhar. 🙂
Mas, a bem da memória (há malta de História que a não tem ou não pratica, não sei se por falta de treino ou por conveniência), relembremos o que foi afirmado a 21 de Junho de 2013, um sábado:
Resumindo… a greve continuaria até dia 28. As razões apresentadas eram a alteração do horário de trabalho, a colocação em escolas distantes e o regime de requalificação. A FNE já tinha desertado antes, como é seu costume.
Vejamos agora o que se passou a 25 de Junho, 3ª feira seguinte:
(…)
As rondas de ontem e desta terça-feira com os sindicatos inseriram-se no período de negociação suplementar requerido pelos sindicatos. Mas alguns dos compromissos agora alcançados já tinham sido avançados pelo MEC na última ronda de negociações antes deste período, a 6 de Junho, nomeadamente no que respeita ao adiamento da mobilidade especial para 2015 e ao não aumento da componente lectiva dos docentes.
Vamos lá resumir as “conquistas”: nada, a não ser a promessa de um adiamento. Como bem nos lembramos, nada de verdadeiramente concreto (para além das horas para o dt que depois foi colocado em prática da forma que calhou) foi ganho para além do que já tinha sido proposto. Não foi uma questão de “tudo ou nada”. Foi a promessa de qualquer coisa, um dia destes, para não fizer mesmo nada. Sendo que a promessa já fora feita a 6 de Junho. Ou sejam, foram duas semanas para a fotografia. Quem andou pelas escolas, sabe que a organização da greve rotativa – inclusivamente com pagamento do dinheiro perdido pelos colegas, em especial os mais carenciados – foi da quase total responsabilidade de grupos de professores nas escolas e agrupamentos.
Que agora queiram reescrever a História e dizer que Nuno Crato (o Diabo em pessoa… que criou uma prova no 4º ano… digno do fascismo… agora imagina que era no 2º ano e para avaliar o trabalho das escolas e professores) está a falsear factos, em especial por causa da parvoeira da opinião sobre o heroísmo do Passos Coelho, não me espanta. Uma coisa são os factos relativos à greve de 2013, que podemos confirmar… outra opiniões que qualquer um pode ter, por idiotas que sejam. Há quem, por exemplo, ainda defenda regimes como a Coreia do Norte e se recuse a condenar a perseguição desenfreada de homossexuais na Rússia e seus satélites… embora por cá votem muitas coisas progressistas.
Mas isso é (ou deveria ser) com os políticos.
Os professores, António, muito em particular os de História, tem uma obrigação para com a honestidade histórica que deve (deveria?) estar acima de clubites organizacionais.
Estas coisas começam a fazer parte da História. É nossa obrigação não embarcar em mistificações. Apesar da minha “incompreensão” com o manual (cartilha?) da luta já sei que as lutas que recentemente foram acenadas para datas “sensíveis“ são para levar a sério apenas por duas semanas.
Porreiro, camaradas!
Só nos Saem Duques
Agora que há receitas electrónicas, que os cartões de utente estão todos informatizados, as escolas é que devem comunicar as falhas na vacinação. Claro, nem poderia ser de outra forma. Será que os outros serviços públicos estão obrigados a comunicar às escolas os casos de analfabetismo, funcional ou outro?
Importa-se de Repetir?
A greve não era “estúpida” e até estava a funcionar muito bem para susto geral, mas agora percebe-se porque acabou daquela maneira e porque há gente no sindicalismo que anda a mais por lá e de “professor” só gosta de ser “representante”. Por isso mesmo é que dificilmente entrarei em qualquer acção de “luta” que tenha a promovê-la vira-casacas e gajos instalados em gabinetes que só vão às escolas como se fossem vipes.
Claro que haverá quem venha dizer que como é Nuno Crato a dizer isto só pode ser mentira. Só que… quem estava pelas escolas naquela altura sabe bem que a explicação dada pelos sindicatos – que os professores não tinham capacidade para se manterem mobilizados muito tempo – foi uma coisa destinada a enganar pategos e satisfazer os crédulos.
De Regresso aos Clássicos
Alguns até podem estar por aí numa edição da Argonauta (o Valis está, salvo erro, na colecção da Europa-América), mas esta recuperação de alguns autores da FC dos tempos dourados é irresistível.
Impressões
A mim parece, por testemunhos próximos, que pelo menos na minha zona foram abertas vagas no quadro de escolas/agrupamentos que ninguém pediu para um determinado grupo disciplinar (foi mais desse que me falaram, até por causa de umas associações que foram estabelecidas). E as direcções, pelo menos algumas, ao que parece, já o terão comunicado ao ME sem receberem qualquer explicação ou resposta.
Há várias explicações para este fenómeno (não inédito), mas nenhuma delas é boa. A menos má parece-me ser a da incompetência.
Mas isto é tudo uma impressão. Mais tarde, sistematizarei os dados para a fotografia da coisa em si, após concretização.
Música no Coreto
Do Impressionismo Educacional
Imaginemos que, em outros tempos, um governante decidia a realização de provas para alunos de 7 anos que não existem em qualquer outro lado da Europa com base numas “impressões” (a expressão é atribuída com aspas ao governante em causa, não é resultado de nenhuma cabala bloguística) recolhidas em conversas com professores amigos e visitas a escolas seleccionadas… o que isto não levantaria de protestos entre muita gente bem pensante e crítica do stress causado nos alunos por provas em que vão ser observados no seu desempenho por dois professores classificadores, para mais em algo que tem uma expressão física e pública imediata. Não estamos a falar numa prova escrita que é depois classificada, mas em algo feito em público e que exige destreza física e que implica um embaraço imediato aos menos dotados para certos exercícios.
Já estava para aí a ver mortáguas a elevar a fasquia em consulta parlamentar. Oliveiras a esbracejar nas televisões contra o fascismo pedagógico. Representantes associativos e sindicais progressistas a apontar o dedo a torturadores de criancinhas e a destacar o que este tipo de exposição pode causar de negativo à auto-estima da miudagem.
Só que a hipocrisia tornou-se a regra e é dominante nestas matérias. Se a prova é “nossa” é boa (como se os miúdos do 2º ano entendessem muito bem o que é “aferição”), se é dos “outros” é má. Esta não conta para nada? A mim parece que uma prova que se diz destinada a recolher dados “sistemáticos” para determinar futuras políticas curriculares é algo com muito mais responsabilidade para a Educação do que uma prova com 30% de peso numa classificação individual.
Mas já se sabe que eu sou pouco iluminado e, quiçá por dar mais exercício ao estômago do que aos tríceps (quer-se dizer… eu carrego com frequência muitos sacos com livros…) e por prezar mais o neurónio do que o pino sou um ignorante na ciência da vida saudável. Nem sequer fui escuteiro, nem nada, devo abominar a própria natureza natural.
Mas voltemos ao que é mesmo importante: se um governante na área da Educação pretende obter uma “fotografia” do funcionamento das escolas, claro que as pode visitar e falar com amigos, vizinhos, primos distantes. Mas tem um recurso que faz parte do próprio ME e que se chama avaliação externa das escolas e é feita todos os anos pela IGEC. Se nos dermos ao trabalho de fazer contas de somar (competência básica que até eu domino com alguma mestria) verificaremos que desde 2011-12, no segundo ciclo de avaliação, as equipas da IGEC visitaram (se incluirmos este ano) 664 agrupamentos e 148 escolas não agrupadas. Desde 2014-14, foram, respectivamente, 280 e 20. Até ao ano passado, os relatórios estão todos disponíveis online.
E ainda há a imensidão de dados disponíveis na plataforma MISI@ para a qual são exportadas todas as informações sobre a caracterização e funcionamento das escolas.
Tudo materiais recolhidos e sistematizados (ou sistematizáveis) que irão algo além de “impressões” trocadas a beberricar uns cafézitos enquanto se congeminam reformas educacionais maravilhosas com um punhado de amizades mais antigas ou mais ocasionais e instrumentais. E materiais que não implicariam quase paralisar as escolas do 1º ciclo durante uma semana e mobilizar dezenas de professores para a sua realização, incluindo vastos secretariados para recolher e processar os dados das provas. Mas, parece que só “a partir de agora vamos ter dados sistemáticos sobre o que existe”.
A mim – que, como se sabe, sou um gajo antiquado e conservador – parece-me algo abstruso que se produzam provas deste tipo com base em impressões ou sequer em comichões que são sensações que todos sabemos serem terríveis. Aliás, a bem da clareza acho que nada disto é exactamente o que se diz ser publicamente. Acho que é algo que é feito dentro de um quadro muito definido e pré-estabelecido nas fases de simulação e coreografia mediática (aquelas notícias da falta de condições das escolas do 1º ciclo para as provas foram apenas uma peça destinada a justificar uma intervenção e não a lamentar seja o que for), ditado a partir de alguns grupos específicos de interesses que estão a desenvolver um processo pouco transparente de apropriação do currículo do Ensino Básico (mas não só) para redistribuição de prebendas em causa própria com a máscara do “interesse dos alunos” ou mesmo da “saúde pública” com formas mais ou menos sofisticadas de disfarçar uma certa e determinada ganância.
Não… não estou a desenvolver qualquer teoria da conspiração. Antes estivesse. O que lamento é a quase completa demissão de quem deveria funcionar como watchdog do spin político e já desistiu com medo que lhes continue a acontecer, individualmente e como grupo, o que aconteceu aos professores: a terraplanagem profissional.
Seurat, estudo para Uma tarde de Domingo… (1884)