Perfil de Competências do Professor para o Século XXI – #1

Organizar vistas de finalistas do Secundário, assegurando hotéis adequadamente compreensivos com a naturalidade dos comportamentos da jubentude, um serviço permanente de bricolage para remediar os danos causados e mestria na limpeza de vomitado, para descanso das mães e pais que, por 500 êrus, podem assim viver uma semana em descanso total.

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(foto do dijei que prestou declarações à rtp3, dizendo que esteve três dias sem sair do quarto por causa da má qualidade da comida…)

Deus lhe Perdoe!

Porque eu nem por isso.

Arrepia-me a forma como gente tão espiritual trata estes temas com uma agenda tão materialista. Apesar de muita asneira escrita a este respeito, digamos que a prosa do senhor padre Gonçalo Portocarrero de Almada me parece ganhar o prémio de maior (hipócrita) oportunista desta Páscoa.

Seria injusto julgar todo o ensino estatal por esta infeliz experiência, que se repete anualmente, ante a indiferença geral.

(…)

Milhares de alunos de várias escolas públicas do norte ao sul do país, rumaram em direcção às costas espanholas, com o intuito de aí anteciparem os festejos pela conclusão dos seus estudos liceais. São turbas de vândalos, que recebem o nome pomposo de finalistas e que, todos os anos, decidem fazer uma expedição punitiva por terras de Castela.

(…)

Seria injusto julgar todo o ensino estatal por esta infeliz experiência, que se repete anualmente, ante a indiferença dos pais, dos professores, das escolas públicas e do Ministério da Educação.

(…)

Todos os anos também, na mesma época das férias da Páscoa, milhares de jovens europeus aproveitam para ir a outros países, visitar museus e participar em actividades culturais. (…) Para além das actividades de natureza religiosa, a cargo dos capelães dos seus colégios, também realizam trabalhos de índole cultural e desportiva: por uma estranha mutação genética, as suas hormonas não os levam a atirar com televisões para banheiras, mas a ajudar os outros, sobretudo os mais necessitados. Se não fossem alunos de colégios privados, que contam com a assistência espiritual de padres da prelatura do Opus Dei, decerto que seriam notícia. Se houvesse mais hormonas, álcool e drogas, a cobertura mediática estaria decerto garantida.

Mateus2

 

Et Tu, David?

Embora as minhas críticas se tenham vindo a dirigir quase em exclusivo aos pais que tudo relativizam, sinto-me ligeiramente atingido pela argumentação “sei que vocês fizeram o mesmo em Verões passados”. Já expliquei porquê… desde logo porque não fiz. Em seguida, porque a missão da escola não é a de andar a substituir-se aos pais numa área da educação que, para mim, é antes de mais e acima de tudo, do foro familiar. Se a minha filha fizer algo deste género, será a mim que terá de se justificar em primeiro lugar.

E, já agora, por uma vez, deixemos de descarregar na escola toda e qualquer responsabilidade parental, em especial quando em outras matérias clamam pelo excesso de intervenção dos professores.

Não, David, esse tipo de argumentação para mim não colhe… a de que os erros do passado servem para legitimar, nem que seja de forma indirecta, os erros do presente. Se assim fosse, ainda andaríamos a aplicar o olho por olho (em especial na cobiça da mulher alheia), a cortar a língua aos que ousam criticar as majestades poderosas de cada momento, as mãos aos ladrões e outras coisas assim, quiçá mais dolorosas e importantes para a sobrevivência da espécie.

Estamos a um curto passo de dizer que os jovens ficaram traumatizados para a vida com o sucedido…

A ideia não é desresponsabilizar os jovens mesmo sabendo que o nosso sistema educativo não é muito eficaz nas estratégias que usa para os responsabilizar. O certo é que muitos destes jovens vivem em ambientes muito protegidos, frequentam uma escola que devia certamente encorajar e apoiar muito mais o desenvolvimento da sua responsabilidade. Apesar de tudo isto, acreditou-se que jovens de 16 ou 17 anos soubessem dizer não a fenómenos de grupo que os encorajam a ir demasiado longe. Se a ideia não é desresponsabilizar os jovens também não é desresponsabilizar os adultos que contemporizaram com situações manifestamente propiciadoras dos comportamentos relatados.

“Nós” e “eles”. Nós todos. Eles todos. Vamos pensar um pouco no que é que os inflamados críticos destes jovens teriam feito com 17 anos e com mais 1000 jovens numa praia de Espanha.

Não, David, não se combate uma generalização abusiva com outra generalização abusiva. Se foi uma minoria que fez porcaria, devem ser esses os responsabilizados e não lançado um anátema geral. Assim como, no passado, também terá sido uma minoria a fazer asneiras, pelo que me recuso a assumir “geracionalmente” as culpas alheias e a limitar a minha liberdade de expressão por causa disso.

 

Avestruz

A Sério?

Parece que anda por aí um relatório sobre segurança no espaço escolar em que se assinalam 33 casos de posse de droga registados oficialmente e 17 de posse de armas. Mais uma prova do envelhecimento docente é o agravamento da falta de vista (de audição… de olfacto…).

Magoo

(não me admira nada que a PSP e a Escola Segura reportem muito mais casos… do tipo 1 para 5 ou 10 em certos tipos de ocorrência…)

O Álibi da Ignorância Não Vale

É absolutamente inaceitável que um dirigente de uma confederação de pais e encarregados de Educação, para mais elemento do CNE, revele tão extensa ignorância acerca de tudo isto.

Só se estiver a gozar connosco. Só pode… então os pais acham que as escolas é que tratam de tudo… ? A sério… e ficam descansadinhos?

Do lado dos pais, Jorge Ascenção – presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) – defende que “as associações não se devem envolver, é uma questão turística, cada um faz o contrato com os promotores e as associações de pais estão lá para estar nos projetos educativos das escolas”. Já os pais isoladamente faz algum sentido que se possam envolver, o que não acontece com tanta frequência, sublinha Jorge Ascenção, porque “têm a ideia de que as escolas estão envolvidas e isso dá-lhes alguma segurança, por isso, é que apelamos a que participem na vida da escola, a estar mais atentos”.

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Já agora… eu nunca fui a nenhuma viagem de finalistas ou sequer a Torremolinos (em jovem ou adulto, por pelo menos duas razões de monta, num primeiro tempo de ordem financeira e num segundo por questões de gosto), muito menos nos anos 70. Nem sou da geração que o Vicente Jorge Silva qualificou de “rasca”, pelo que penso que estarei em condições de criticar livremente estas condutas, ao contrário do que escreve o inefável Daniel Oliveira a este respeito, sempre pronto para ser original na sua relativização de tudo. O facto de terem existido imbecis boçais no passado não justifica que a imbecilidade boçal tenha de ser um determinismo cultural ou razão para “tu também fizeste, portanto, cala-te” porque não, há quem não tenha feito, até porque o dinheiro que os meus pais tinham para aplicar na minha Educação (para mais no início dos anos 80 com a margem sul com salários em atraso) não era certamente em viagens para apanhar bezanas.