O António Duarte denuncia a minha “profunda incompreensão do que é uma luta de trabalhadores quando se pensa que ela deve funcionar na base do tudo ou nada”. Tem a sua graça, embora seja trágico em alguém que, se forem outros a afirmar “vitória ou morte” aparece logo a dizer que é assim mesmo e muito bem. De acordo com o António “os professores terminaram a greve às avaliações de 2013 numa posição de força e quando a unidade na luta se mantinha intacta“. C’um escafandro… devo ter apanhado um ganda ataque de alzaima.
Os professores terminaram a luta porque deixaram de ter cobertura sindical que se baldou quando a coisa estava a começar a apertar. Uma comentadora fenprofiana, que tem os seus dias bons em anos bissextos da parte da tarde do dia 30 de Fevereiro confirma que “foram 2 semanas de uma boa organização e em que os professores se mostraram unidos e solidários. A continuação desta estratégia, sentia-se e sabia-se, tenderia a esmorecer”.
Pois claro. Em boa verdade, as sensações é que estão a dar em Educação. Quanto ao “sabia-se”, algo me escapou. Nem uma terceira semaninha se aguentaria, quando as coisas estavam prestes a ficar críticas? Somos, afinal, como alguém (curiosamente ex-sindicalista) como o “esparguete” que cede, ao que parece, ao fim de duas semanas?
Será que é isso que ensinam nas formações sindicais? As lutas, malta, ao fim de duas semanas – é sabido! – tendem a esmorecer. Como há muita permeabilidade entre sindicatos e poder político, já se viu que os governantes (em especial à esquerda) estão a par desta lei da luta sindical docente e, esperando duas semanas, a coisa morre por ali. Tipo iogurte que perde o prazo de validade e fica com uns gorgulhos a coalhar. 🙂
Mas, a bem da memória (há malta de História que a não tem ou não pratica, não sei se por falta de treino ou por conveniência), relembremos o que foi afirmado a 21 de Junho de 2013, um sábado:
Resumindo… a greve continuaria até dia 28. As razões apresentadas eram a alteração do horário de trabalho, a colocação em escolas distantes e o regime de requalificação. A FNE já tinha desertado antes, como é seu costume.
Vejamos agora o que se passou a 25 de Junho, 3ª feira seguinte:
(…)
As rondas de ontem e desta terça-feira com os sindicatos inseriram-se no período de negociação suplementar requerido pelos sindicatos. Mas alguns dos compromissos agora alcançados já tinham sido avançados pelo MEC na última ronda de negociações antes deste período, a 6 de Junho, nomeadamente no que respeita ao adiamento da mobilidade especial para 2015 e ao não aumento da componente lectiva dos docentes.
Vamos lá resumir as “conquistas”: nada, a não ser a promessa de um adiamento. Como bem nos lembramos, nada de verdadeiramente concreto (para além das horas para o dt que depois foi colocado em prática da forma que calhou) foi ganho para além do que já tinha sido proposto. Não foi uma questão de “tudo ou nada”. Foi a promessa de qualquer coisa, um dia destes, para não fizer mesmo nada. Sendo que a promessa já fora feita a 6 de Junho. Ou sejam, foram duas semanas para a fotografia. Quem andou pelas escolas, sabe que a organização da greve rotativa – inclusivamente com pagamento do dinheiro perdido pelos colegas, em especial os mais carenciados – foi da quase total responsabilidade de grupos de professores nas escolas e agrupamentos.
Que agora queiram reescrever a História e dizer que Nuno Crato (o Diabo em pessoa… que criou uma prova no 4º ano… digno do fascismo… agora imagina que era no 2º ano e para avaliar o trabalho das escolas e professores) está a falsear factos, em especial por causa da parvoeira da opinião sobre o heroísmo do Passos Coelho, não me espanta. Uma coisa são os factos relativos à greve de 2013, que podemos confirmar… outra opiniões que qualquer um pode ter, por idiotas que sejam. Há quem, por exemplo, ainda defenda regimes como a Coreia do Norte e se recuse a condenar a perseguição desenfreada de homossexuais na Rússia e seus satélites… embora por cá votem muitas coisas progressistas.
Mas isso é (ou deveria ser) com os políticos.
Os professores, António, muito em particular os de História, tem uma obrigação para com a honestidade histórica que deve (deveria?) estar acima de clubites organizacionais.
Estas coisas começam a fazer parte da História. É nossa obrigação não embarcar em mistificações. Apesar da minha “incompreensão” com o manual (cartilha?) da luta já sei que as lutas que recentemente foram acenadas para datas “sensíveis“ são para levar a sério apenas por duas semanas.
Porreiro, camaradas!
Peço desculpa aos dois mas há mesmo uma terceira via a que eu assisti e que é a versão do sindicato: os sindicalistas foram acompanhando o vigor da luta e foram consultando os professores. E, de facto, na segunda semana, já havia professores a chiar por todos os lados e já foi difícil manter a coisa. Para enorme desgosto meu. E eu estive na organização do protesto na minha escola.
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Subscrevo o 1º comentário e tb estive na organização do protesto na minha escola.
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Não escrevi que as lutas têm prazo de validade. Podem prolongar-se mais ou menos tempo, dependendo de vários factores, sendo o principal a determinação da maioria dos professores em continuar a luta.
Estive na altura num dos plenários alargados onde se discutiu a continuação da luta, organizado pelo meu sindicato. Não sei como foi noutras zonas do país, mas naquele em que participei falaram dezenas de professores, uns em nome individual, a maioria como delegados sindicais, dando conta do “sentir” das respectivas escolas. A posição largamente dominante foi aquela que veio a ser seguida.
Claro que pela parte que me toca estaria disponível para prolongar a greve mais uma semana ou duas. Mas seria, isso sim, distorcer a História, dizer que a grande maioria dos professores comungava dessa vontade.
E há outra coisa, e essa sim, podes acrescentar à cartilha sindical: não podes partir do princípio de que se fazia mais uma ou duas semanas de greve e o MEC ficava a assistir, impávido e sereno, como até aí. Fosse pela requisição civil, fosse pela imposição de novos procedimentos em relação aos conselhos de turma, algo seria feito quando as coisas começassem mesmo a doer. E aí é que poderíamos sofrer uma derrota em toda a linha.
De resto, não me custa concordar contigo na ideia de que aquela vitória nos soube a pouco e poderíamos ter ousado mais. Mas a verdade é que sou menos crente do que possa parecer nas potencialidades e nas virtudes da acção sindical. Sobretudo quando não é acompanhada noutras frentes e quando aqueles que poderiam ser os melhores representantes da classe nada querem com o sindicalismo.
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Ora bem… por alguns testemunhos percebo que – portantosss…. – o MN mentiu no dia 21 de Junho quando afirmou que a luta continuava em conformidade com a opinião da maioria dos professores. Afinal, a opinião dos professores era outra e às dezenas em plenário afirmaram isso. Fico confuso, porque não foi isso que foi afirmado.
Aliás, o que é dito na altura é que tinham sido feitas “conquistas” e alcançados objectivos.
Afinal, não foi nada disso. Afinal… caraças… não me digam que o Crato até tem razão e os sindicatos estavam atrapalhados com a evolução da coisa…
Quanto Ao ME avançar para a requisição civil… para mim isso significava uma “vitória” porque significava que não tinham conseguido desmobilizar a luta e só com medidas excepcionais era possível ultrapassá-la…
Mas isto sou eu a pensar… que sou um radical do “tudo ou nada”. Nos dias em que não sou acusado de ser um nostálgico e um colaboracionista com o Crato. Vá-se lá perceber o que certas mentes consideram coerência… 🙂
Factos são factos… “Impressões” são outra coisa. Embora eu perceba que à esquerda se vive muito disso nos partidos da geringonça… agora e antes.
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Ora bem, se vamos discutir pormenores, o que se discutiu nos plenários não era terminar de imediato a greve, mas o seu eventual prolongamento para além do que estava previsto, lançando novos pré-avisos e endurecendo a luta.
Seria tolo da parte do MN ou de qualquer sindicalista ir para uma reunião negocial com o MEC antecipando que a greve seria para terminar em breve.
E volto a dizer que tens razão numa coisa: se calhar precisamos de melhores sindicalistas, mas a verdade é que não há ninguém que se “achegue”…
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Qual vitória? Os professores do primeiro ciclo não foram convidados ao boicote às avaliações e à palhaçada de tornar a avaliação do quarto ano quantitativa para combinar com a dos exames. No final desta história apanharam com mais horas letivas e a baixa estima de nem servirem para a luta de professores.
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Essa dos professores “chiarem” e deitarem tudo a perder pode ser explicada pela simples razão de ser uma luta parcial à avaliação e não um plano com todos os professores incluindo os educadores e professores do primeiro ciclo. Muitos fazem diferença. Mas nessa altura as direções musculados já tinham começado a dar cartas e o controle dos mais fracos do sistema estava assegurado.
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O que é um facto é que passado ano e meio deste governo do PS, apoiado pelos partidos ditos de esquerda, praticamente NADA mudou em relação às condições de trabalho dos professores. Aquilo que tanto criticaram no governo anterior continua de pedra e cal e o que vemos são promessas e mais promessas dos sindicatos. As turmas continuam grandes (não vale falar do que se decidiu para as escolas TEIP, porque isso já foi explicado), as progressões continuam congeladas, os mais novos continuam precários e os mais velhos à espera da aposentação. Depois de tanta moção, discussão na assembleia, etc, o regime especial de aposentação para os docentes não avança e nem tenho fé que tal venha a acontecer. Seria de elementar justiça que aqueles que já trabalham há 40 anos (para não dizer 36) tivessem o direito de se aposentarem dignamente. Daria lugar aos mais novos. A componente não lectiva transformada habilmente em lectiva continua e vai continuar. O aumento da carga lectiva idem.Eu sei que alterar tudo isto faz parte das “propostas” dos sindicatos, mas não se vê mais do que isso.
Já agora, seria de bom tom lembrar que tudo isto, TODAS estas medidas apareceram no tempo de um governo do PS, do Sócrates e Mª de Lurdes Rodrigues, os destruidores da escola pública. Às vezes parece-me que a maioria tem memória curta e se esqueceu rapidamente. O Crato só apanhou a porta aberta e deixou-a estar, ainda mais porque lhe era conveniente pois tinham a TROIKA à perna. Portanto, sindicatos e partidos de esquerda têm a bola na mão, deixem-se de jogos e de conversas e passem à acção porque senão qualquer dia deixam de existir para os professores.
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Chiarem é expressão que se usa aqui na minha região equivalente a protestarem… ai os regionalismos… 😉
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Anabela… a implantação dos sindicatos que ainda defendiam a greve (ou da facção política que em conjunto se opunha àquelas medidas) é muito forte na minha zona. A partir da base. Na minha escola, a presença oficial do sindicato só não foi zero, porque andava lá um delegado sindical que colaborou com o resto do pessoal até acabar meses depois em director numa escola ao lado 🙂 .
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Os pormenores, António, estão longe de ser irrelevantes nestas matérias. E o que percebo é que, se calhar, o que o Crato afirmou tem toda a lógica, pelo que me é dito sobre o “estado d’alma” de muita gente. Ou seja, pelos vistos havia mesmo muita gente a querer acabar com aquela greve. Na altura, percebeu-se… assim como – ainda na altura – o Crato nem sequer abusou e nem disse logo o que agora revela e que, pelos testemunhos de gente mais informada do que eu, já afligia muit@s lutador@s de toda a hora (tipo, porta do MEC com uns cartazes).
Quanto a melhor sindicalismo e a quem se “achegue”, há milhares a pagar quotas… eu não, nem agora, nem nunca. Portanto… não posso ser candidato a nada… nada mesmo.
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Duílio… o 1º ciclo teve o seu tempo áureo de conquistas, quando isso coincidiu com o interesse específico de alguns negociadores melhorarem a sua situação profissional. A partir daí… nem por isso.
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Verdade!
Os que ficaram estão a ser muito mal tratados.
Só os quinze dias a mais de junho no calendário escolar justifica por si só a luta anunciada. Será uma forma de no próximo ano letivo, não se generalizar aos outros ciclos? Esta injustiça para o primeiro ciclo neste ano é irreversível.
A redução de alunos por turma não se confirmou e as turmas de diversos níveis vão continuar? Esperemos que a anunciada reposição da hora do intervalo como letiva não seja só uma promessa.
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Vou abrir uma excepção, pois prometi a mim mesmo não mais participar em discussões em que se procura encontrar/provar a boa intenção de sindicatos ou partidos políticos.
E vou abrir para realçar exactamente isso: é completamente falso que a agenda, no caso da FENPROF, seguisse ou siga as vontades, opiniões ou decisões dos professores.
Quem ainda hoje, depois de tudo o que vivemos ao longo destes anos, ainda acredita nisso, ou está enganado ou pretende enganar.
Fomos e somos pessimamente representados.
O resto é conversa para boi dormir.
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