Contra a Coreografia…

… há o trabalho de casa, resultado do investimento em bases de dados fiáveis. O Arlindo consegue dar-nos um panorama da mistificação em curso na vinculação extraordinária e nas vagas a concurso, enquanto a Fenprof anda agora por aí com umas contas que deveria ter feito há muito tempo. Nada como informação rigorosa, em vez de propaganda, para que possamos formar opinião sobre as coisas. Há malta que ainda não se rendeu à situação com medo do bicho-papão.

Madeira

A Lógica em Todo o seu Estertor

Reparem que o que vou escrever é com base no discurso oficial sobre a realidade construída pelo poder político e por quem apoia as suas medidas. Ou parte delas. Depende um bocado do que conseguem perceber do panorama geral, claro. Que nem sempre lhes ocorre.

Por ocasião da realização das provas de aferição do 2º ano em Educação Física foi denunciada a “falta de condições” das escolas do 1º ciclo, nomeadamente a falta de material. Ora… a gestão do parque escolar do 1º ciclo e respectivo equipamento é da responsabilidade das autarquias.

Logo… a melhor maneira opção é alargar a gestão das escolas dos 2º e 3º ciclos e Secundário (excepto os palácios da Parque Escolar) a essas mesmas autarquias.

Vai ser bonito, vai… por muito que exista gente muito bem intencionada.

closeau

A Luz que Alumia Alguns Espíritos…

… chega por vezes tão tarde que já não dá para desculpar os fretes feitos e que, objectivamente, colaboraram com as situações que agora se criticam. Porque há barretes que só se enfiam quando se quer lá colocar a cabeça.

Sim, isto é quase em código mas os embarretados sabem que eu sei que eles sabem (só têm é vergonha em admitir).

Barrete

Apoios

“O relógio era o orgulho da cidade. Estava no alto da torre (…)”, começa o texto do António Torrado, o segundo destas mercadorias. E a primeira pergunta que o professor imaginou, na sua mania de achar que as coisas deve começar por ser simples: “Onde fora colocado o relógio que era o orgulho da cidade?” Linha em branco, 5-10 minutos, olhares para o relógio. Pergunta-se… “não entendes a primeira pergunta?” Ouve-se… “Não sei.” Desacredita-se e questiona-se “Mas percebeste o texto, pelo menos o início?” Silêncio, hesitação, balbuceio. Que não, que é muito complicado. Que não deu para perceber, muito menos o ferreiro, o bom gigante quem é ou deixa de ser. Estão a terminar os primeiros anos de escolaridade, quase onze anos de vida e parece aquela música do veloso. Nem dá bem para perceber se é desinteresse se é que leva a ficha “para a explicação depois das 5 horas e faço lá”. Mas porquê, para quê e como, se sou eu o professor e estou ali no apoio, com material para ajudar – deve ser o meu erro, devo estar a “treiná-lo” para perceber o que lê, é algo ultrapassado desde que saiba “comunicar” por via digital – mas não há qualquer empenho, “faço depois, agora não me apetece, o texto é difícil”. Teve sucesso até agora, um percurso sem retenções, mas não entende as letras, que se encaracolam no papel, sabe dizer as palavras medianamente, mas não sabe o que significam. Faladas alto, talvez. Incompetência minha que não desperto a motivação. Não dou a explicação que, sendo paga, talvez seja levada a sério. 45 minutos perdidos em duas vidas. Ou não. Porque os meus ainda são recuperados em parte com a colega que percebeu “um bocadinho do texto, mas é confuso, é muito grande”. Ainda tenta, percebe onde o relógio estava, não sei se chega para mais de 45 minutos de coisa quase nenhuma.

Ferreiro

E Depois Há os Filhos (Enteados, Primos, Sobrinhos, Netos, Conhecidos, Aparentados, Amigos de Amigos da Vizinha Jeitosa) dos Macários

Lembram-se do então célebre episódio “educativo” do grande anti-tabagista Macário (versão divertida aqui)? Agora imaginem que a criança de então está prestes a entrar para a Universidade e um papá assim tem a tutela das escola onde ele anda.

Excepção? 🙂 🙂 🙂 Talvez sim, talvez não.

O problema é que em tempos de rapidez tecnológica, a alegação das vantagens da proximidade ficam-se mais curtas do que no tempo das carroças, mas a contrapartida do caciquismo continua quase em estado puro em muito deste nosso país. O regime liberal ergueu-se exactamente contra os particularismos e os tratamentos de excepção como regra (se é que dá para entender). A Lei entendeu-se como de aplicação universal em vez da manta de retalhos dos privilégios e particularidades locais.

Os tempos são outros? São, mas a essência dos humanos mudou pouco e não me venham com as experiências dos finlandeses, neozelandeses ou canadianos, porque eles não precisaram de chegar ao “Homem Novo”, bastando-lhes uns séculos de prática da auto-responsabilização (Finlândia) ou apenas de moderação (Canadá). Os portugueses são o que são, maravilhosos a adorar Fátima e o Salvador, mas péssimos se o Zéquinha quiser ter 18 a Matemática sem saber a Matemática.

A distância do “centralismo” era a garantia de alguma neutralidade que agora cai pela base com decisores com interesses directos em algumas das decisões tomadas e nenhum pejo em esquecerem-se das incompatibilidades. Já imaginaram o shôr plesidente/vereador/téquenico a ter o poder de mando sobre a escolinha dos rebentos ou com a capacidade de seleccionar quem apoiar em casos de birras partidárias?

(já trabalhei numa câmara, sei em primeira mão o que são projectos chumbados ou “esquecidos nas gavetas” só porque o director da escola é de cor diferente… e ainda há um vereador em exercício na dita autarquia que se lembrará das minhas fúrias de então… porque me acompanhou nas visitas e entradas intempestivas num certo gabinete…)

Acreditam mesmo que isto vai melhorar a nossa Educação, torná-la mais solidária, permitir um desempenho global mais uniforme quando teremos autarcas que andaram a desfilar pelos colégios privados a decidir que apoio terão as escolas públicas? A sério? Ou que os amores e humores partidários ficarão de fora das decisões, quando sabemos o que os macários são capazes de fazer só porque o macárinho foi contra uma parede num jogo?

Não acredito na “descentralização” e nas suas imensas virtudes? Já sei que sou um anacrónico, incapaz de ver a luz que os isaltinos e afins lançam sobre a Educação (esquecendo por completo a rede pública de pré-escolar durante os anos em que fizeram o que puderam para promover a rede privada sem concorrência?). Mas ao menos não finjo que esta é a “boa” municipalização só porque há amigos na câmara do concelho onde trabalho (ocorre-me, por exemplo, o caso de Gaia, não sei porquê…).

Ou porque me prometeram um pavilhão se me calar ou colaborar nas catrapulices expressionistas. Ou o apoio aos “projectos pró sucesso”.

Porque há quem saiba que se sabe(rá) e é melhor ficarem avisados que há malta que não se cala(rá). Mesmo que atirem lama pelas costas.

Macario