Estive a ler a estratégica entrevista do SE Costa à Visão desta semana (João Costa Visao -1261 p 51-54) e sou obrigado a reconhecer mais uma vez que o homem tem uma retórica sedutora e, se nos mantivermos à superfície das coisas e não quisermos sujar as mãos na realidade, tudo aquilo faz bastante sentido. Claro que não vamos seguir nenhum país, mas apresentam-se quatro exemplos de países com boas práticas; pena é que nenhum dele seja vagamente aparentado com o nosso em tanta coisa (Finlândia, Canadá, Singapura e Nova Zelândia), desde os níveis de desigualdade sócio-económica aos traços culturais, passando pela História da sua Educação.
(e aquela do saber enciclopédico dos alunos dá vontade de rir, embora seja uma forma quase hábil de criticar os professores que ele acha antiquados se não alinharem em provas de cambalhotas no 2º ano para desenvolver o pensamento crítico num corpo esbelto e são…)
Se fosse para aceitar tudo pelo valor facial do que é declarado, estaríamos por fim no Paraíso Pedagógico, desde que aceitássemos como boas e incontestáveis (quiçá irrevogáveis) todas as convicções do SE e fizéssemos vista grossa a tanta pressa e ziguezagues (para não entrarmos naquelas dos apoios encenados e outras alavancagens). O que é afirmado é, se quisermos resumir a mensagem a uma definição rapidinha, uma espécie de troca: façam como entenderem, desde que os passem a todos.
O problema menor é que se percebe que é tudo muito pensado em torno de si mesmo (ele é novo grande reformador, num país em que os passos manuéis e rodrigues sampaios fracassaram) e da sua iluminada razão, com o olho no calendário eleitoral e a defesa assegurada por dois tipos de especialistas: os que defendem estas coisas desde o tempo dos afonsinhos e os que chegaram agora e parecem que nada aconteceu antes deles (mesmo quando já dão aulas há tempo suficiente para se lembrarem de alguma coisa e não atirarem as culpas apenas para os outros).
O problema maior é que este é um modelo de pretensa “escola emancipadora”, em que se quer fazer acreditar que saber a tabuada não interessa desde que se tenha “espírito crítico”. Com os nossos meios, é um modelo de escola pública terceiro-mundista, porque não somos o Canadá. É uma interessante alternativa, mas como norma pode ser um pontapé na cabeça. É a continuidade da lógica da “escola a tempo inteiro” e do espírito “novas oportunidades”. Há quem seja fã e crente. Eu gosto de umas partes e sublinho o carácter de modelo possível, mas nunca exclusivo ou obrigatório. Não me importo nada de o praticar, mas estou contra a sua imposição generalizada.
E sem sabermos se andará por cá quando/se o castelo de cartas desabar. Vamos dar-lhe o benefício da dúvida, se assumir o cargo de ministro num eventual próximo governo de maioria do PS.
Ou não.

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