E que passa na televisão. Ainda a petiza nem percebia bem aquilo e o pai é que se ria como um perdido. Parece que agora há por aí uma milícia a dizer que faz mal, como em tempos profetizaram o fim do mundo por causa do Dragon Ball.
Dia: 16 de Maio, 2017
Aulas Digitais
Temos hoje ao dispor um manancial de recursos que permitem tornar as aulas algo completamente do que foi em tempos e esse “em tempos” é tantas vezes apenas 15-20 anos. Embora nem sempre as redes ajudem e os bloqueios ministeriais e locais sejam por vezes de bradar aos céus (é impensável, por exemplo, que me bloqueiem o acesso a sites destinados a criar banda desenhada online como o Pixton quando ouço governantes a clamar por inovação e utilização das tiques), temos agora possibilidade de mostrar com bastante qualidade e detalhe muito do que antes era apenas transmitido pela palavra. Acho que já por aqui escrevi o prazer que dá leccionar certas matérias relacionadas, por exemplo, com a Arte e poder mostrar quase todas as obras imagináveis sob os mais diversos ângulos, entrar nas grutas de Lascaux ou na Capela Sistina em 360º, analisar pormenores a cores de pinturas que eu aprendi a apreciar a preto e branco ou em cores meio-coiso em edições de outros tempos (a História da Arte do Janson editada pela Gulbenkian nos anos 70 do século passado é um bom exemplo de um grande livro que agora é visualmente arcaico).
Claro que isto só funciona se existir o gosto e o prazer por partilhar esse mesmo gosto e prazer. Claro que um calhau será sempre um calhau, pelo que quem antes não conseguia encontrar transmitir grande coisa a preto e branco dificilmente se tornará um diamante da comunicação a cores. Mas esse é um outro problema, A tecnologia é um poderoso meio para melhorar e expandir o que antes era limitado. Mas não a parte humana da coisa. Pessoal e profissionalmente, as tiques têm-me facilitado muito o trabalho. Na parte técnica. Que vai muito para além de inserir o cd (antes) ou a pen (agora, enquanto as dão) da editora x.
Ainda as Aulas Analógicas
Não é uma questão de conservadorismo. Eu uso computadores desde que me foi economicamente possível comprá-los. Sou do tempo do Euro-PC da Schneider (mas não dos ataris ou amstrads só para jogos), coisa absolutamente estranha para muita gente que anda por aí a elogiar as imensas potencialidades do digital nas aulas. Há quase 25 anos participei – não como assistente passivo, mas com um projecto de trabalho em equipa sobre a Carreira da Índia – n@ CHC 93 – Computers in the History Classroom, pelo que me ofende ligeiramente ver cristãos novos aparecerem a dar-me lições sobre inovação e merdas dessas que eles não saberiam distinguir nem que chocassem de fronha nelas (sim, ando um bocadito agressivo com palermas).
Mas sempre consegui fazer a distinção entre os meios técnicos de aceder e usar informação e a capacidade para fazer a triagem, tratamento, análise e síntese da informação para a sua utilização útil, porque esclarecida e capaz de filtrar o válido e essencial do acessório e inválido.
Infelizmente, quando vejo algumas pessoas muito premiadas ou certificadas pelos poderes como inovadores a defender coisas que apenas trocam os “velhos” mecanismos de acesso à informação por outros mais novos e rápidos, nem sempre me parece que tenham como primeira preocupação um uso crítico da massa de informação disponível. É verdade que os vejo preocupados com a “segurança” na rede, mas isso é no sentido restrito (mesmo se importante) de defender as redes de ataques e os dados pessoais de contaminação ou furto. Mas nem sempre encontro uma preocupação equivalente com o cuidado no uso de informação adequada, completa, fiável, não manipulada.
Infelizmente (de novo), os tempos são de acesso imediato e pletórico à informação, mas esse é apenas um dos caminhos para baralhar as maiorias, dando-lhes a sensação de que os algoritmos dos motores de pesquisa lhes dão informação exacta e rigorosa sobre o que procuram, sendo que isso está muito longe da realidade. A informação abundante é algo que deve ser gerido, não para a amputar, mas para a seleccionar de uma forma que a expurgue das fraudes e manipulações, ideológicas, culturais e/ou políticas.
E isso só pode ser feito pelo algoritmo humano que tenha a capacidade de contornar dois obstáculos ao desenvolvimento de um verdadeiro pensamento crítico informado: o do automatismo mecanicista das tecnologias e a truncagem com origem humana desses automatismos aparentemente neutros.
E a mim não parece que esse elemento humano imprescindível seja muito acarinhado pelos poderes que vão estando, sejam eles quais forem, em especial quando se acham portadores da Verdade primeira e última, da Razão esclarecida fundamental. Pelo contrário, pretendem que a sedução pelas tecnologias do momento se sobreponha à memória e que o imediatismo e não a reflexão seja a regra na acção. Um ignorante rodeado de computadores e zingarelhos diversos é muito mais inútil (e perigoso) do que alguém com uma massa de conhecimento que lhe permita explorar devidamente uma “velha” biblioteca ou um único computador, mesmo que arcaico.
Porque quanto mais dependermos de “máquinas” que consideramos neutras, esquecendo que só fazem aquilo par que são programadas (ainda faltam uns bons passos para uma verdadeira inteligência criativa e crítica artificial, por muito que eu seja fanático da boa fc), mais estaremos vulneráveis a contaminações e fraudes em larga escala que tomaremos pelo valor facial.
Os professores humanos, aqueles que sabem qual o lugar das tecnologias na ordem de prioridades no trabalho em sala de aula, são um problema para todos os que querem impor Verdades absolutas, inquestionáveis e quanta vezes com certificação e legitimação também tida como inquestionável (seja ontem o fmi, seja agora a ocde, porque as diferenças nem chegam a ser os hotéis e restaurantes pagos pelos encomendadores dos estudos).