Insisto

Sei que dificilmente com efeitos. As equipas que produzem as provas e exames do IAVE deveriam ser públicas, pois na opacidade tudo passa impune (desamigar é fácil nas redes sociais, mas difícil em sistemas de amiguismo enraízado). Não são admissíveis erros deste tipo (nem falo das alegadas fugas) ou que critérios de classificação/codificação de provas sejam alterados a menos de 48 horas da entrega das provas, como anda a acontecer por aí, para desespero de quem tem de alterar grelhas sucessivamente.

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Vou Contar Outra Vez Esta História

Pelo que peço desculpa aos amigos que já a ouviram e aos conhecidos que já a leram, Mas de vez em quando, quando ouço ou leio certas teorizações, lembro-me dela.

Então é assim.

Durante os anos 90 do século passado, colaborei com um grupo de trabalho do ME com um nome muito grande (tinha a ver com os Descobrimentos) como guia/monitor de de um programa chamado mais ou menos “Viagens do Interior para o Litoral” em grupos de alunos de diversos pontos do país iam até Lisboa para visitar a zona de Belém (Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém, Padrão dos Descobrimentos e em dado momento o Jardim Agrícola Tropical em vez do Padrão e a partir de outra altura com um passeio pelo Tejo  durante a hora de almoço),

O grupo de guias (o António e o Eduardo, colegas de curso e os que lá estiveram desde o primeiro ao último momento, embora muita gente tenha por lá passado, sob a coordenação inicial da Margarida) juntava-se ali defronte dos Jerónimos, em regra à 6^feira de manhã, até receber a folhinha com os grupos que lhe iam calhar (um ou dois de manhã e um ou dois à tarde) e depois esperava que chegassem e,a pós as apresentações iniciais, começava a faina de mostrar e explicar o que acima referi, seguindo-se a normal barragem de questões, tanto maior quanto mais pequenotes fossem os visitantes, pois podíamos ter miudagem dos 7 aos 17 anos (e ao fim de semana até mesmo aos 77 anos, mas essa era toda uma outra dinâmica).

E esse era o primeiro desafio… ter um reportório de apresentações para cada nível de escolaridade, de forma a conseguir ajustar a visita a cada público (houve quem lá aparecesse e aguentasse uma ou duas semanas, antes de cair para o lado e não voltar), desde os petizes que subiam a Torre de Belém de gatas aos malandrecos que queriam ir de walkman (sim, eram esses tempos) ou tijolo ligado para os Jerónimos.

Mas de vez em quando existiam uma espécie de brindes especiais, Visitas que ficariam marcadas para sempre na nossa memória. Tive várias, mas uma foi a que me ia deixando que sem respiração quando, com um sorriso, um colega me passou a folhinha uma certa manhã de meados dos tais anos 90.

Sem pré-aviso, tinha-me sido distribuído um grupo de uns 30 alunos entre os 10 e os 15 anos do Centro Hellen Keller que incluía (naturalmente) uma elevada proporção de invisuais e alunos com um défice visual de moderado (que serviam de “colegas-guia” de outros) a elevado, claro que acompanhados por alguns professores.

E foi necessário ali pensar em toda uma outra forma de “mostrar” os Jerónimos e o manuelino a quem, literalmente, o não conseguia “ver”. Mas que lhe conseguia tocar as formas e “ouvir” o espaço, quando em plena nave central, os sons se elevavam e reverberavam. Claro que contei a história das fases de construção, identifiquei os reis e familiares sepultados, descrevi como pude os elementos canónicos do manuelino. Mas a maior parte do tempo foi passada a percorrer e a dar o espaço a percepcionar, a tocar os materiais, a tentar satisfazer uma forma de curiosidade nascida de uma forma completamente diferente de viver aquela visita (e nem é bom falar da escalada da escadaria da Torre de Belém, insistência minha a raiar a imprudência, mas que correu às mil maravilhas, pelas risadas e gritos animados que despertou da parte da tarde).

Talvez tenha sido naquele dia que tive a experiência mais radical de reinventar algo previamente preparado, porque o mais importante é ajustar a nossa forma de “mostrar” às características daqueles que querem “ver”. Infelizmente, entre muita gente que se pretende inclusiva e flexível, o que mais encontro é formatação e padronização, incapacidade de adaptação na argumentação (sempre em posição de autoridade moral) e intolerância (não assumida).

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