Com a Floresta a Arder, Discutimos a Marca das Mangueiras?

Eu gosto mesmo da intensidade e inteligência que o Luís Braga coloca nas suas argumentações, o que é muito raro por estes dias acerca destes temas. Falo do desenterrar do tema do artigo 79º do ECD. O Luís atira-se ao tema com toda a força, mas comete uma falha original que é achar que só existem circulares a comandar-nos e não decisões judiciais. Que existem e são todas no mesmo sentido. Mas claro que podemos recomeçar um processo que ambos conhecemos e já discutimos há bons anos (temos um longo historial epistolar de troca de ideias e informação) como se fossemos novos de novo e estivéssemos a descobrir a pólvora da luta jurídica contra o ME pela primeira vez (eu também tenho o meu currículo nessa matéria, mas agora não tem qualquer interesse).

Mas nem isso me interessa muito e que bom que era que ele tivesse razão. Eu sou um pouco mais velho do que ele, somos do mesmo grupo, ficaríamos ambos a ganhar se a posição que ele defende (e eu defendi outrora… fazendo-me isto lembrar aquilo dos serviços mínimos que muita gente insistia que não existiam, estando na lei há anos e tendo essas pessoas obrigação de o saber e não de ampliar a mistificação) fosse a que “fizesse lei”.

Só que… sinceramente, eu dediquei dois posts ao tema do 79 exactamente porque o acho perfeitamente secundário no contexto actual em que as duas horas de redução acabam por passar da componente lectiva para a não lectiva e, em tantos sítios, trata-se exactamente da mesma coisa… não é Apoio ao Estudo é um Apoio Pedagógico Acrescido ou uma Tutoria para 10 ou…

Vamos lá tentar manter isto dentro de alguma sanidade, de acordo com a que me resta. Eu estou muito mais preocupado em voltar a ter uma carreira, com progressões, com actualização salarial, assim como um modelo de gestão escolar que não seja monolítico, hierarquizado, baseado em “unidades de gestão” descaracterizadas, prestes a ser canibalizadas pelo poder local em muitas zonas do país. Estou mais preocupado em ver os meus colegas exercer a sua profissão com dignidade e poderem, quando não mantêm condições para o fazer, dela sair com a mesma dignidade. E isso, sinceramente, não se resolve com menos 2 horas semanais na CL. Podem achar que sim, mas não é. Há coisas muito mais importantes a minar o trabalho docente, desde logo a sua desautorização com um discurso da tutela que culpabiliza os educadores e professores como únicos responsáveis pelo insucesso escolar. Discurso que vai tendo ancoragem em alguma blogosfera que parece viver bem com muita coisa que me incomoda.

Incomoda-me, por exemplo, que se promovam “formações” para “reeducar” a classe docente nas teorias de antanho que os senhores de agora querem recuperar. “Formações” que não passam de acções de propaganda a que muita gente adere por convicção, para ficar bem na fotografia ou porque encarneira com o poder por vocação. Já me incomodou – mas agora nem isso – ver algumas pessoas ansiosas por serem “formadores” na domesticação dos colegas. Já me habituei. Faço apenas por não frequentar tais ambientes tóxicos de adestramento.

A realidade é o que é, a menos que sejamos muito pós-modernos ou solipsistas. Eu tento ser muito objectivo nestas coisas e não são as micro-causas que me fazem esquecer o que realmente me aflige. Se o meu horário vai ter 26 ou 27 horas lá inscritas para trabalhar, sinceramente não é em que caixinha colocam mais 2 que me ocupa muito o neurónio.

Tomara eu que voltássemos a lutar pelo essencial e não andarmos em circuito fechado a “polemizar” por causa de formalidades. E estas nem são daquelas que simbolizam o fim do Estado de Direito. Não é por aqui que o Mal se vai instalar. Ele já está entre nós há uma década e isto já não vai lá com alfinetes.

Frank

 

 

Eu Ia Comentar…

… que as conclusões eram, em grande parte, óbvias e conhecidas (em especial as mais timidamente críticas) há muito até que dei com esta parte:

A distância entre estabelecimentos de ensino que integram um mesmo agrupamento foi a principal dificuldade apontada ao processo de agregação de escolas, que foi dado como concluído em 2013/2014, segundo revela um estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE), que tem na base uma amostra de 25 agrupamentos dos 713 existentes.

Se o CNE, com os meios ao seu dispor, se contenta com estudos e conclusões generalizantes a partir de uma amostra de 3,5% dos agrupamentos, que poderei eu obstar do buraco da minha insuficiência metodológica?

Já sei… são 3,5% significativos e representativos do todo. Aqui as partes mais próximas de mim nem vê-las, nem sequer outras bem mais singulares, mas isso agora não interessa nada e eu só sei ser má-língua porque, basicamente, acho que tudo está bem quando as pessoas que interessam acham que tudo acabou em bem.

De qualquer modo, fica aqui o estudo sobre a organização escolar e os agrupamentos, porque é grande e tem uma boa introdução teórica com interesse.

CNEAgrupa

Pedrógão, Um Mês Depois

Tudo normal e de acordo com os nossos costumes.

  • Muita conversa sobre o tema e horas de emissão televisiva a propósito.
  • Nada de concreto ou definitivo sobre as causas do sucedido.
  • Nada de concreto ou definitivo em relação a responsabilidades a apurar.
  • Dinheiro e apoios para os necessitados estacionados algures no trajecto (a ver se ainda não acaba tudo num qualquer montepio).

(e parece que o siresp já patinou hoje mais uma vez por Alijó…)

fire