O Regresso dos Tesourinhos Deprimentes

É bem verdade que estas coisas nunca desapareceram, que em todas as escolas é preciso enroupar documentos com palavreado para fazer o boi dormir, mas este documento com data de 17 de julho é um manancial imenso. As partes destacadas já me chegaram assim por quem me enviou. E estas nem são as melhores.

Só espero que isto não se generalize como incêndio em eucaliptal. Mas as esperanças são poucas porque anda a verdascar forte e tem a legitimação da católica lá de cima.

E lá voltam(os) aos PCT…

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E o que dizer das práticas pedagógicas “inovadoras” de que se espanejaram as teias de aranha?

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E agora a parte melhor, a da avaliação do “projecto” que até mete a OCDE e tudo, porque isto é em grande e o schleicher virá cá confirmar (ou o santiago, caso ele não possa).

Espanta-me a falta da variação “auto”.

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O PAFismo Curricular Aplicado ao 1º Ciclo

Repito que isto é retirado de um dos primeiros projectos aprovados para o próximo ano. Doze horas na escola por dia… cinco de aulas. O resto é enriquecimento e enchimento.

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Acho curioso que não se proponha a coadjuvância na parte da Expressão Plástica como o é na da Educação Física. Mas a APEVT nem parece preocupada com isso. Anda em outra onda. Adesivou de vezHá outros que o fizeram, mas com contrapartidas para os seus.

E os Contratos de Autonomia?

Cada rodada política tem o seu fetiche, o seu plano, a sua solução, a sua fórmula mágica. Este ano há 190 experiências-piloto “pafistas” (programas ou projectos de autonomia e flexibilidade); há 4 anos houve uma quantidade similar de contratos de autonomia. O arraial de propaganda em seu redor foi parecido. São “projectos” radicalmente diferentes? Nem por isso. A diferença é maior ao nível da conversa sobre as coisas, pois os objectivos eram semelhantes, apenas divergindo na tonalidade de alguns meios.

Pelas minhas bandas, fez-se o balanço de quatro anos de autonomia e apenas uma em trinta e duas medidas ficou por implementar (a que mais exigia uma participação activa e regular dos encarregados de educação) e só um dos indicadores de sucesso não foi ultrapassado.

No entanto, parece que a coisa está morta-defunta e não se fala na possibilidade de renovação do contrato, mesmo que com reformulação dos objectivos para novos patamares, porque a obrigação é sermos todos “paf”.

A mim isto não parece autonomia e muito menos flexibilidade. E muito menos estabilidade.

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Dissonância Completa

O secretário de Estado João Costa dá uma entrevista ao suplemento de Educação do JLetras na qual, com a previsibilidade esperada, elogia imenso o que tem feito e o que será feito, se seguirmos as suas iluminadas orientações que ele insiste muito em dizer que são assentes num enorme “diálogo” com as escolas, os directores e os professores. As palavras são bonitas, como sempre, mas eu concentro-me nos actos e é neles que não vejo correspondência com a retórica humanista.

Está em decurso uma não muito explícita guerra em torno do currículo (nomeadamente do Básico), com evidentes ganhos por parte de uma concepção utilitarista da Educação, que nega alguns dos elementos que ao longo dos tempos mais distinguem o ideal clássico da Paideia como educação integral do corpo, mas em especial do espírito.

Foi sobre isso que escrevi nesse mesmo suplemento e de que agora transcrevo um excerto.

Atenas vs Esparta?

A situação que vivemos de combate pelo domínio do currículo do Ensino Básico lembra uma espécie de luta entre o modelo educativo ateniense, baseado na Filosofia e no culto do Espírito (incluindo as Ciências e a Matemática, sem descurar o corpo e as áreas mais técnicas), e o modelo espartano, assente no culto do corpo, da força e do seu utilitarismo guerreiro.

A primeira disciplina a ser trucidada nestas “guerras do currículo” foi a Filosofia, menorizada no Ensino Secundário perante outras áreas que associo mais à promoção de estilos de vida do que a ensinar a pensar e muito menos criativamente. É para mim impensável que um aluno possa entrar num curso superior na área das Ciências Sociais e Humanas sem que a Filosofia faça parte do seu currículo obrigatório para esse acesso. Em boa verdade, a Filosofia, como disciplina estruturante do pensamento, crítico, criativo ou outro, deveria ser considerada obrigatória para qualquer candidato à Universidade, mas parece que isso é cada vez mais tido como arcaico.

O alvo seguinte, ao nível do Ensino Básico, tem tentado centrar-se na História, que se gosta de apresentar como coisa só de memorização e cheia de coisas inúteis para o presente. O cerco tem tido avanços e recuos, mas não tem parado, beneficiando de algumas inimizades de proximidade com posições chave na definição do chamado “desenvolvimento curricular”. Se perguntarem aos governantes se isto é assim, negarão e poderão mesmo dizer que eles são os maiores defensores das Humanidades e até devem ter alguma História do Círculo de Leitores nas estantes para confirmar a sua devoção. Filosofia e História são disciplinas “malditas” para os cultores do Agora, do Futuro, do Homem Novo Saudável e Tecnológico a quem não interessa como aqui chegámos e detestam que alguém lhes relembre que a fatiota agora desempoeirada é velha e, pior, que se tenha a capacidade para o demonstrar sem a wikipedia à mão.

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