Dramas de Verão – 1

Chega finalmente o tempo em que se pode colocar a leitura em dia (ou tentar), pelo que há que fazer opções.

Ler as coisas ditas sérias que o tempo de aulas desencorajava pela maior densidade? Terminar alguns clássicos interrompidos que dizem fazer parte de qualquer cultura geral que se queira decente (normalmente são russos ou franceses do século XIX)? Ou optar pela pura evasão e ler para descontrair, relaxar, evadir da triste sina de algum quotidiano?

Estará a solução no meio termo? É em regra o que acabo de fazer com banda desenhada para os momentos curtos de leitura (embora Os Ignorantes do Etienne Davodeau tenha quase 300 páginas e ainda leve umas horas), os policiais mais leves para a praia (sim, não tenho vergonha de confessar que papei três Baldacci’s na temporada de 2016) e as coisas mais “substanciais” para o pôr de sol e mais além.

 

 

Um Idiota é um Idiota e Apenas um Idiota

A menos que seja cachorrinho amestrado. Um dirigente sindical da Fenprof (Luís Lobo) colocou publicamente no seu mural “de uma rede social” um texto em que, basicamente, incita o ME e o Ministério Público a perseguirem o Arlindo por ter disponibilizado o acesso às listas do concurso de professores à medida que elas iam entrando na plataforma electrónica da DGAE. Os termos em que o faz são os seguintes:

Para quem não se apercebeu, embora hoje não se fale de outra coisa, ontem um senhor que é director do modelo de gestão que não é democrático (de nome Arlindo e que tem um blogue de que muita gente fala) e que é simultaneamente dirigente com redução da FNE, colocou online as listas de colocação do concurso interno de professores antes do próprio ME as ter divulgado oficialmente.

Há duas hipóteses, pelo menos, de análise do acontecido:
– o Arlindo tem quem faça pirataria por ele e sacou, indevidamente, as ditas cujas (desta forma com o número de visitas ao seu site, que é comercial, pois ganha dinheiro em publicidade com ele) e fez a sua publicação, fazendo subir a sua cotação e ganhando ainda mais com isso;
– o Arlindo não é apenas um corsário ao serviço de alguém, mas alguém de dentro do ME divulgou a uma entidade lucrativa privada as listas que deveriam ter sido postas online pelo governo, antes de qualquer outro.
Ora, se a pirataria sai de dentro ou se foi feita com recursos que desconhecemos, o que sabemos mesmo é que o senhor Arlindo está metido nisto.
Isto é absolutamente condenável!
Perguntas:
– Que vai fazer o ME em relação ao senhor director Arlindo?
– Que vai fazer o Ministério Público relativamente à pirataria que inegavelmente existiu?
– O reitor Arlindo tem um infiltrado no ME ou nos serviços da administração educativa da DGAE?
Uma coisa é certa, este senhor director Arlindo anda a viver à custa de quem visita o seu blogue, quem o divulga e quem o promove, participando em actos criminosos de forma negligente porque nem pensam em quem andam a dar a mão.

O Arlindo não precisa de defensor oficioso, mas como já passei por este tipo de ataques e sei até que ponto são feitos dossiers de publicações de blogues por certas organizações (um destes apára-chicos há anos abanou-me com um monte de folhas num debate enquanto dizia que tinha ali tudo o que eu tinha publicado sobre um dado assunto como se isso me assustasse), gostaria de replicar sobre um ou dois pontos em que, podendo divergir do Arlindo nas opções, acho que ele tem o mesmo direito do que outros em assumi-las.

  • O Arlindo decidiu ser director de um agrupamento, concorreu e ganhou. Como ele, há muita gente da fenprof ortodoxa que o fez e está lá no seu lugar de director@. Não li ainda nada acerca disso, excepto quem se justifica dizendo que mais valem eles do que outros.
  • Há muita gente que tem redução ao abrigo da mobilidade estatutária em muitos sindicatos que não faz 1% do trabalho do Arlindo e muito menos com interesse para a vida dos professores. Aliás, desconheço qualquer acto concreto – desconto a participação em marchas e romarias e a direcção de publicações pagas com o dinheiro dos professores quotizados – do autor do texto que mereça destaque fora do comité de avaliação da ortodoxia nogueirista.
  • O Arlindo optou por inserir publicidade no seu blogue, à imagem de muitos blogues lá fora e de alguns cá. Se ganha dinheiro é porque é visitado por muita gente que acha que vale a pena ir lá. Porque vale a pena ir lá? Não é pelas mesmas razões do Jornal do Incrível ou da Tertúlia Cor-de-Rosa. É porque a informação é considerada fidedigna e rigorosa e as pessoas voltam lá. Se ele decidiu facturar com isso? É uma opção que ele assumiu e quem se sente mal com isso pode sempre coçar-se.

Aliás – na ausência do defunto PageRank – há ferramentas para medir a “autoridade” de uma página na net que nos permitem aferir da relevância dessa página e do domínio em causa. E não deixa de ser curioso que a página da Fenprof tenha poucos pontos acima do blogue do Arlindo nessas matérias (e já agora sobre este próprio Quintal 🙂 apesar de bem novinho por comparação), apesar de todo o seu historial, de ser mantida por uma equipa e ser a página de um dos sindicatos mais poderosos do país, ou assim gostar de se afirmar. Quem quiser pode confirmar, mas sem pagar só têm direito a três tirinhos.

Mas podemos ainda fazer uma comparação global, a partir de uma outra ferramenta de medição, que não deixa de dar resultados curiosos:

PageRanFenprofPageRanArlindo

Talvez se o senhor sindicalista Luís Lobo pensasse um pouco sobre isto fosse mais útil e pudesse servir para ele próprio reconverter o seu tipo de intervenção pública, a qual só acontece quando é para ficar no rodapé da delegação ou preencher os espaços em branco nas férias de outros.

Por fim, mais estranha do que esta atitude de operacionais da fenprof ortodoxa e outras micro-organizações que poucos conhecem nas escolas, tenha sido a reacção de alguns professores que, antes de quaisquer outros clamaram por crime, atacaram objectivamente o Arlindo por ter prestado um serviço aos professores e desenvolveram tenebrosas teorias da conspiração. Mas… já pouco me admira.

Nota final: estou para perceber se estas reacções meio penosas resultam de info-exclusão (pouco credível em malta com anos de experiência em meios digitais) ou apenas de má-fé ou inveja. Porque o que se passou foi apenas um exemplo de pouca competência dos serviços do ME, não sendo necessário andar para aí a acenar com piratarias, até porque o putin está mais preocupado em manter o trump do que em deitar abaixo o nosso mec.

coice-da-jumenta

 

 

Basicamente, É Esperar que o Pessoal se Reforme…

… para colocarem em cena “a melhor geração de professores que já tivemos”. Passemos adiante o uso do pretérito perfeito para explicar o futuro. Acontece. Mais importante é perceber que Nuno Crato verbaliza algo que vem desde Maria de Lurdes Rodrigues e que passa por desesperar os docentes mais renitentes às “inovações” dos vários governantes, nomeadamente o congelamento ad eternum da carreira, o mais com menos ou as autonomias&flexibilidades.

Apesar de terem corrido com muito pessoal, do discurso sobre o envelhecimento docente (sendo que o facto em si é uma realidade) tem oscilado entre a tentativa de aumentar a desmoralização dos mais velhos (e caros) que andam pelas escolas e a esperança que um dia desapareçam. Crato, naquela sua forma menos subtil de colocar as coisas, explicita que o objectivo é a 10-15 anos ter a melhor geração de professores de sempre porque (ao que parece) estes não prestam.

«Daqui a dez anos, 25% dos professores estão reformados. Daqui a 15 anos, 40% dos professores estão reformados. É preciso formar a melhor geração de professores que já tivemos», propôs, em conclusão de discurso.

Como não estive lá, não sei se Guilherme de Oliveira Martins matizou a coisa se aderiu a esta visão e ajudou a explicar como pensam fazer isso e se acham que estão em condições de prometer a “melhor” ou apenas a “mais barata” geração de professores de sempre. Porque entram ali pela base, seja quantos anos tiverem de ensino e escalar a carreira é mais difícil do que o himalaia (já houve muito mais gente no topo do Evereste do que no 10º escalão da carreira docente).

Eu duvido muito do rejuvenescimento qualitativo da classe docente, no mínimo, por duas razões: uma é porque muitos dos que esperam para entrar são pouco mais novos do que aqueles que estão como se vê pelas vinculações “extraordinárias” e por muitos dos que continuam sem entrar e desesperam; a outra é porque me parece que a formação de professores não é neste momento melhor do que foi e, pelo contrário, a mim parece uma bela bosta* destinada a lavar os cérebros com teorizações apenas destinadas a justificar o sucesso a qualquer custo. Um tipo lê aqueles planos de estudos, feitos para caçar incautos. e só se pode rir quando se fala em “qualidade”. O que vão fazer? Colocar (mais) verdascas em cada departamento de formação de professores que há por aí? Ou apenas formadores certificados pela santa aliança eduquesa isczé/autónoma/católica do norte agora em alta?

Crato

* – Pensei usar termo mais contundente, mas este é aquele que foi ilibado de ser ofensivo, quando baseado em factos, em digressão jurídica com alguns anos por causa do jornalista xiita.

É a Liberdade de Escolha!

É interessante que queiram que as escolas públicas tenham práticas de gestão como as privadas de sucesso, mas depois se discorde quando isso acontece. Nas escolas públicas de topo, há muito que se pratica uma selecção de alunos encapotada, devido ao excesso da procura, usando alguns encarregados de educação truques diversos. Parece que este ano a coisa ou exacerbou ou tornou-se notícia. Na notícia sobre o Pedro Nunes o pessoal do Observador até pede que se partilhem histórias sobre o inconseguimento de matrículas perto de casa (mas não são eles que defendem a desregulação do sector e o power to the pupils and families?). Há umas semanas era o caso do Filipa de Lencastre.

Se acho bem? Não, não acho… mas eu sou um centralista imobilista 🙂

Mascote