Há muitos muitos anos, lixei por completo uma entrevista para uma posição académica ao explicar ao meu entrevistador de então (especialista numa dada fortaleza do Império Português durante uma década do século XVI, enquanto eu andava a fazer unvestigações em equipa sobre a Carreira da Índia entre os séculos XVI e XVIII) que a mim interessa compreender os fenómenos históricos numa perspectiva alargada de sincronia e diacronia e não especializar-me em detalhes do tipo ponta da asa da mosca, perdendo completamente de vista todo o enquadramento dos insectos no reino animal e deste em toda a biosfera.
Vem isto a propósito das “aprendizagens essenciais” para a disciplina de História da Cultura e das Artes para o 10º ano, uma das mais interessante do currículo do Ensino Secundário. O documento faz lembrar (como os restantes desta vaga) até no grafismo o antigo Currículo Nacional do Ensino Básico. E há passagens que me fazem realmente pensar que a ideia é mesmo que tudo fique pelo “essencial”. Extraí o exemplo abaixo do módulo 4 (A Cultura da Catedral) porque sempre gostei da Idade Média, do seu simbolismo, das suas contradições, do seu imaginário (sim, muito Bloch, Duby, Le Goff, Pernoud, Pirenne, Huizinga, algum Bakhtine, claro que O Nome da Rosa na parte da ficção), das suas manifestações artísticas.
E sempre que tenho a (feliz) oportunidade de voltar a leccionar 7º ano e o Gótico, gosto que os meus alunos experimentem um pouco desse meu maravilhamento. Ora… ainda bem que não tenho de me guiar por isto, pois, digam-me o que disserem, isto é que uma abordagem de tudo ao molho e o portal de Amiens é que é importante. Por outro lado, não sei se devo pedir desculpa aos meus alunos do 8º ano por lhes ter dado umas belas ensaboadelas visuais sobre a transição do Gótico para a Arte do Renascimento.
Sim, exagero, faço caricatura, estou a ser redutor, mas é o que isto merece com os “casos práticos como produtos e agentes do processo histórico-cultural”. A sério. Mais um pouco e voltamos ao modo de produção feudal e à arte como exemplo da “super-estrutura” resultante das condições materiais da sociedade e da infra-estrutura económica.
E depois o radical e esquerdista sou eu…