Testemunhos – Hernâni Pereira

O ME, os sindicatos e as direções amigas

É sabido da existência de muitos docentes de QA, grupo 530, presentemente com horário zero, i.e., sem componente letiva, mercê das sucessivas reformulações curriculares, as quais fizeram quase desaparecer a disciplina de Educação Tecnológica do 3º CEB. Nesta ordem de ideias, a esmagadora maioria dos professores deste grupo apenas consegue componente letiva em escolas que têm cursos profissionais ou cursos de educação e formação.

Se, de acordo com o exposto, pode dizer-se “é a vida” e esta tem corrido com alguma normalidade, o caso mudou de figura no ano letivo que agora iniciou, uma vez que muitas – atrevo-me a dizer a maioria – das escolas secundárias com cursos profissionais optaram, pela primeira vez, por renovar contrato com técnicos especializados, mesmo que ao lado existam professores com habilitações próprias e/ou suficientes para suprir tais necessidades.

É evidente que o ME, por pressão dos sindicatos e com o aplauso das direções das escolas, autorizou em julho p.p. tal renovação, apesar de todos saberem da existência de centenas e centenas de professores nas condições referidas anteriormente. Resultado: o ME paga a dobrar.

Aliás, mesmo agora quando é solicitado às escolas a indicação dos horários que ainda têm por ocupar, escolas existem – algumas até cujo diretor é do aludido 530 – que iniciaram procedimentos para a contratação de novos técnicos especializados, recusando, deste modo, indicar as suas necessidades nesta área. Sei dos nomes e não temerei em apontá-los em próximo texto.

Hernâni de J. Pereira

Macacos

Comunicado – Movimento por Concursos de Professores mais Justos

Eu sei que a estratégia do ME perante este tipo de polémicas é fingir que não existem, exibir indiferença, praticar a estratégia do facto consumado (como com MLR) e desqualificar os contestatários nos bastidores como estando ao serviço de interesses ocultos, mas a verdade é que as coisas não podem, nem devem, ser escondidas. E eu, mesmo não estando envolvido directamente na questão, publicarei sempre o que me for pedido contra este tipo de abuso que alguns já parecem achar normal.

Interesse Público dos Professores

Imagine que ia a um rodízio e que o preço, por pessoa, era de 20 euros. Suponha que tinha chegado às 20 horas, para jantar, e apercebeu-se que havia 4 tipos diferentes de carne (digamos fillet mignon, cupim, picanha com alho e entrecosto). Jantou, pagou o que estava estipulado e quando já ia sair, por volta das 21 horas, viu chegar novos clientes e, para eles, havia 8 tipos de carne (mais quatro!) sendo alguns dos quais os seus preferidos (picanha, alcatra, maminha e presunto) mantendo-se o preço nos mesmos 20 euros.

O relato acima é uma analogia grosseira, mas a mesma ilustra o sucedido a 25 de agosto, dia em que milhares de Professores ficaram em choque com as colocações divulgadas.

Como costumava acontecer, antes desse dia as escolas indicaram ao Ministério da Educação os horários “completos” e “incompletos” que, supostamente, deveriam ter sido considerados nesses concursos. Todos eles são disponibilizados não só para os professores dos quadros, como para os professores contratados. Entenda-se que um horário completo de um professor, perfaz 35 horas semanais, entre as quais se incluem, por norma, 22 horas a dar aulas e as restantes horas em serviços tão variados como preparação de aulas, apoios, coordenações, atendimento aos encarregados de educação, etc., etc,. já que a lista é infindável.

Há Professores que, devido à idade e ao tempo de serviço prestado, têm uma componente letiva (dar aulas) mais reduzida. Assim, não se pode invocar horários “completos” ou “incompletos” para Professores do Quadro, uma vez que todos trabalham, de uma forma ou outra, auferindo o seu salário consoante o seu escalão e o seu índice laboral.

Em agosto, milhares de professores, quer do quadro, quer contratados, concorrem a várias escolas, sendo ordenados com base em critérios como o seu tipo de vínculo, a sua classificação profissional e de tempo de serviço, obtendo, por esta via, um determinado número de ordem.

Ora o que sucedeu no dia 25 de agosto foi que, após a divulgação das listas de colocação, se pôde constatar que, em variadíssimas disciplinas, apenas os professores com os números de ordem mais favoráveis obtiveram uma colocação. De igual modo se constatou que a estes professores só foram atribuídos o número de horas habitualmente considerados como completo.

Facto estranho, uma vez que se sabia que, em várias escolas, havia necessidade de professores para cobrir um menor número de horas. Aliás, refira-se neste momento que as escolas já haviam até comunicado essa necessidade ao Ministério.

Perante a estupefação dos professores naquele dia colocados, todos se questionaram sobre o que teria acontecido aos milhares de horários “incompletos” que, todos os anos, aparecem em agosto.

Dias depois tivemos oportunidade de ouvir a senhora Secretária de Estado da Educação explicar que decidiram apenas colocar os professores do quadro em horários “completos”, uma vez que não o fazer seria uma gestão danosa para o Estado, já que sendo professores do quadro teriam que cumprir essas horas de aulas. Ora tudo isso faria sentido, caso no dia 6 de setembro não tivéssemos constatado, com incredulidade, que, afinal centenas de professores dos quadros que, porque menos graduados, apenas nesse dia obtiveram colocação, foram colocados nos horários incompletos que já existiam em agosto mas que, e de acordo com as declarações da senhora Secretária de Estado dias antes, não serviam para os professores do quadro.

Por estes motivos, e a partir de um conjunto de professores que participam em redes sociais, organizamos um grupo, no Facebook, que rapidamente juntou vontades e determinações, “Luta por concursos de professores mais justos” https://www.facebook.com/groups/127233277900374/ e uma página https://www.facebook.com/umconcursojusto/, onde se publicam as notícias mais significativas sobre todo este processo. Tem havido uma adesão massiva de professores que lutam, e continuarão a lutar, pela reposição da justiça de todas as formas ao seu alcance. Não somos somente um grupo de professores indignados, como querem fazer crer à opinião pública, somos professores lesados no exercício da sua profissão.

Enquanto professores é nosso dever contribuir para a formação e realização integral dos nossos alunos.

Enquanto pais e encarregados de educação é nosso dever incutir valores de cidadania na ambiência familiar. O mesmo se aplicando enquanto cidadão integrado numa sociedade dita democrática e universal.

E como se alcançam estes objetivos? Dando o exemplo. E é isso que estamos a fazer: garantir a equidade, reivindicar direitos, salvaguardar a aplicação dos mesmos, esclarecer a opinião pública, denunciar a manipulação e a inépcia dos últimos tempos.

Assim:

-No dia 30 de agosto, promovemos uma manifestação e uma vigília junto à Direção- Geral dos Estabelecimentos Escolares, no Porto, de modo a denunciar essas irregularidades e ilegalidades.
– No dia seis de setembro foi apresentada uma Providência Cautelar, em nome de uma professora lesada, mas tendo como “contra interessados todos os candidatos admitidos e ordenados ao concurso de mobilidade interna para a colocação de docentes para o ano escolar de 2017/2018” conforme se lê no articulado apresentado no Tribunal, em Lisboa.
-No dia 8 de Setembro de 2017, às 11 horas, o Ministério da Educação foi citado pelo Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, o que produz, automaticamente a suspensão das referidas listas. Esta suspensão só poderá ser levantada quando o Ministério apresentar uma resolução fundamentada sobre os prejuízos que essa medida provoca ao interesse público, e essa fundamentação for aceite pelo tribunal.

Até lá, pode-se rigorosamente dizer que essas listas, que tanta injustiça criaram, estão efectivamente suspensas e o Ministério deverá contestar apresentado razões para considerar estas colocações como “interesse público”.

Interesse público?

O interesse público deverá obrigar o Ministério a corrigir o erro crasso que cometeu, com uma decisão de secretaria não fundamentada na legislação e que prejudicou seriamente o interesse público do país.

O interesse público deve estar do lado da legalidade e da justiça.

Assim, com esta exposição, pretendemos esclarecer os diversos pontos em debate, e gostaríamos que a verdade fosse reposta. Agradecíamos que este desmentido fosse, de alguma forma, tornado público.

A verdade não conhece perífrases; a justiça não admite reticências. Abílio Guerra Junqueiro

Cumprimentos,

O grupo LUTA POR CONCURSOS de professores MAIS JUSTOS

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Agora Fiquei Baralhado

A Fenprof que a 25 de Agosto, pela palavra de Mário Nogueira, saudou a celeridade das colocações dos professores em mobilidade, sem ter notado o que se estava a passar, e que só alguns dias mais tarde parecia perceber que as regras tinham sido alteradas a meio do processo, agora defende:

Mas vamos lá a ver se nos entendemos: devem ser alterados “aspectos do regime de concursos” ou foram desrespeitadas as regras definidas para esses mesmos concursos? O que devia ser alterado é aquilo das coisas extraordinárias que já anda a fazer de cenoura para alguns e que, em muitos casos, está na origem de grande parte das injustiças… ou bem que abrem vagas “normais” ou bem que isto é uma bandalheira.

Em nome do “interesse público”.

Últimos Dias

Apesar da razia de papelarias em funcionamento onde me abastecia e de uma distribuição algo caótica que me obriga a andar a visitar novas capelinhas a cada semana, continuo fiel às novelas gráficas do Público.

E é aproveitar antes de entrar no período em que imperará a produção de registos do professor para provar que fez o que fez e muito fingirem que fizeram.

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E os chouriços que por aí andam devem ser mesmo para assar.

Carta Aberta – Carla Silva

Carta aberta ao Sr. Ministro da Educação e à Sra. Secretária de Estado da Educação

Exmos. Srs.

Relativamente ao suposto interesse público que têm intenção de alegar para travar a Providência Cautelar que determina a suspensão das listas de colocação de professores em Mobilidade Interna de 25 de agosto do corrente ano tenho a dizer-vos o seguinte:

Interesse público?

Vamos a números, algo que vossas excelências muito apreciam: foram colocados nas referidas listas da Mobilidade Interna 12208 docentes dos quadros – vamos admitir que uma percentagem destas colocações até corresponderiam a uma colocação aproximada com a real e baixar o número de docentes que viram a sua colocação afastar-se significativamente da sua preferência para 10000.

Estes 10000 docentes têm certamente família. Vamos admitir que cada um deles terá um cônjuge/irmão/irmã, um filho e um ascendente sobrevivo, sim Sr. Ministro e Sra. Secretária de Estado, porque a franja afetada por esta vossa arbitrariedade está entre os 40 e 50 anos, pelo que estou a fazer as contas por baixo! Digamos então que esta vossa medida terá afetado diretamente pelo menos 40000 mil pessoas.

40000 mil pessoas que não vão ter a assistência familiar possível porque o docente colocado nas listas de 25 de agosto tem que despender mais de 2 horas diárias para as viagens de 200 ou 300 km que está agora obrigado a fazer.

Agora analisemos a parte dos alunos, aqueles que estão na base da vossa alegação de interesse público. Sim, Sr. Ministro e Sra. Secretária de Estado, porque se pensam só por um minuto que estes vão ter destes docentes a disponibilidade, concentração e dedicação que teriam se o docente mantivesse a sua situação profissional estável como até aqui, estão a deixar de fora a parte mais importante desta equação.

Aos alunos: supondo que cada um destes docentes terá 6 turmas (há grupos disciplinares com mais, outros com menos) e que essas turmas teriam 25 alunos (contas por baixo mais uma vez) temos então 10000 X (6 x 25) = 1.500.000.

Ora 1.500.000 + 30000 (não vamos esquecer agora os familiares destes docentes) + 10000 (docentes) dá nada mais, nada menos do que 1.540.000.

1.540.000 de pessoas afetadas por esta arbitrariedade do Ministério que vossas excelências governam. De que lado está o interesse público?

Qual é a percentagem de pessoas a sacrificar em prol das restantes?

O interesse público obriga vossas excelências a corrigir o erro crasso que cometeram com uma decisão de secretaria não fundamentada na legislação que prejudicou seriamente o interesse público do país.

O interesse público está do lado da legalidade e da justiça. Corrijam as listas.

Carla Alexandra Silva
9 de setembro de 2017

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Obrigado, Pedro…

… por ter resumido de forma fiel (e com muito menos verborreia) o que transmiti sobre o pafismo educacional, em que um quinto das escolas parece estar a admitir que nelas não se sabia ensinar nem fazer trabalho de projecto. No meu caso, como quase todos os anos desenvolvemos projectos interdisciplinares e mesmo inter-escolas, esta conversa diz pouco em matéria de novidade.

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Diário de Notícias, 9 de Setem,ro de 2017

E ainda mais obrigado por não ter dado espaço a quem não diz apenas amén, senhor secretário de Estado.

Só ficou mesmo de fora a provocação que fiz ao propor a semestralização da Educação Física (com 12 anos de obrigatoriedade da disciplina, era capaz de ser possível).