Leia-se, de novo, a peça do Público em que, por exemplo, Ana Benavente exemplifica a existência de racismo na escola:
A ex-secretária de Estado da Educação (1995-2001) não tem “qualquer dúvida” sobre a existência de racismo institucional no sistema de ensino, que continua a ser “um obstáculo àquilo que é a igualdade que a escola deve promover”. Dá o exemplo: “Numa turma de 2.º ciclo, há uma professora que chama um jovem ao quadro e ele, afrodescendente, vem gingando. A professora diz: ‘Achas que isso é maneira de te comportares? Fora.’ Há toda uma cultura e um modo de estar que são castigados pelos preconceitos e modelos dominantes.”
A ver se nos entendemos: se eu chamar um jovem ao quadro (já de si algo arcaico em tempos digitais) e ele, ribatejanodescendente, me vier a dançar o fandango, o mais certo é ficar a desejar que eu o mande sair da sala. O mesmo se aplica a minhotodescendentes e o corridinho, argentinodescendentes e o tango ou a brasileirodescendentes e o samba, para não falar em checodescendentes e a polka.
(ao meu ex-aluno ucraniano nunca parece ter ocorrido dirigir-se a mim a dançar hopak ou kozachok)
Mas há algo mais grave neste tipo de declarações… a ex-secretária de Estado revela nestas suas declarações não apenas desconhecimento mas em especial uma visão estereotipada dos alunos de origem africana (pelos vistos acham que eles andam sempre e naturalmente a gingar, algo que nunca reparei ser assim uma constante…) e muito negativa das professoras do 2º ciclo (deve ter sido algum relato que ela extrapola para uma prática comum, associando-a a “racismo” e não à boa e velha falta de pachorra, um mal que é bem mais comum na classe docente envelhecida como eu). E este tipo de argumentação só torna caricata a causa justa de combater as discriminações existentes efectivamente no sistema de ensino.
Já agora… eu lecciono no concelho da Moita, dita “do Ribatejo” por causa das tradições taurinas. Nem de propósito, a primeira semana de aulas coincide com a “Feira de Setembro” com as suas afamadas touradas e desvairadas largadas vespertinas e nocturnas. Embora eu esteja geograficamente afastado do centro nevrálgico das tradições (de acordo com a Ana B. o mais normal é os meus alunos andarem pela sala numa de funaná, kuduro e kizomba), é de esperar que em algumas turmas, exista uma minoria de jovens a quem, de acordo com a sua “cultura dominante”, possa passar pela cabeça a ideia de “irem ao quadro” em atitude de pega de cernelha. Garanto que, em tal caso, terei um caso grave de xenofobia e intolerância, pois eu sempre preferi os artistas taurinos de quatro patas.
Não mandarei o potencial forcado para fora da sala, mas é capaz de se instalar uma bela tourada. Se ele se sentir mal e discriminado tem sempre uma boa solução… recolha-se ao burladero.