Por vezes pode parecer que um tipo está apenas numa do contra e há quem explore essa ideia para tirar crédito a quem discorda do actual pafismo educacional, o da pseudo-autonomia e flexibilidade. Mas não… aquilo em que acredito ou, pelo menos, em que acredito até provas claras em contrário baseia-se na observação directa dos factos e em leituras feitas ao longo do tempo sobre as experiências feitas em outras paragens. Em vez de dizer que “todos sabemos que…” ou “todos os estudos dizem que…” gosto de demonstrar aquilo que efectivamente li e as razões que subjazem às minhas convicções.
Sobre o grande ímpeto que novamente presenciamos a favor da “mudança” e que nos tenta evangelizar sobre o que serão as metodologias certas para o século XXI tenho imensas reservas, pois tudo me parece demasiado datado e com mais retórica do que substância, apesar da demagogia discursiva parecer sedutora e apresentar os seus críticos como impenitentes conservadores.
Nada disso. Em devido tempo li os autores que servem de base ao projecto reformista do SE Costa (até li coisas anteriores, sou mais velhote…), mas também li obras que, mais tarde, fizeram alguma revisão da aplicação de algumas dessas teses e procuraram retirar ilações válidas do que funcionou (ou não), por forma a que a mudança nas escolas seja um processo sustentado e não uma sucessão de remendos.
A obra de que em seguida retiro uns excertos é dos tempos em que entre nós morreu de morte morrida a vaga iniciada dos anos 90 em torno da flexibilidade curricular e da metodologias “de projecto”, influenciadas pelo construtivismno pedagógico e começou a surgir uma nova vaga de mudança, a da “racionalidade dos recursos” (Justino) e depois aquele emaranhado de coisas que foi o mandato da equipa MLR/Valter Lemos/Pedreira com a benção tecnológica do engenheiro.
A obra é originalmente de 2005 (muito mais recente do que quase toda a bibliografia que fundamenta as prédicas de Maria do Céu Roldão e de João Costa pelo país) e é editada pela americana Association for Supervision and Curriculum Development, não é propriamente um ensaio desgarrado de gente sem conhecimentos. E preocupa-se não apenas com a “inovação”, mas com a sua capacidade para ultrapassar diferenças e desigualdades no sentido de melhorar a qualidade.

O autor partilha da ideia da necessidade de construir comunidades de aprendizagens, comunidades em rede, mas sempre com o objectivo claro de alcançar um equilíbrio entre os vários aspectos envolvidos, porque só esse equilíbrio pode dar origem à qualidade desejada e não a aposta numa só dimensão (a tal solução mágica unidimensional que por cá vai mudando com a mudança de capelinhas no poder).
O livro, com menos de 200 páginas é especialmente interessante quando apresenta aquilo que são as metodologias que os estudos (e que estão na bibliografia) demonstram ser mais eficazes para o desempenho dos alunos e que são muito diversas daquelas que por estes tempos nos querem fazer acreditar serem a 5ª essência da pedagogia. Reparemos como o trabalho colaborativo tem o seu lugar, mas está longe de ser a metodologia mais relevante para os alunos, ficando mais ou menos a par dos por cá agora tão maltratados trabalhos de casa. O reconhecimento de semelhanças e diferenças, o resumir a matéria e tirar notas, assim como dar um rápido feedback aos alunos sobre o seu desempenho são metodologias bem mais eficazes do que as associadas vulgarmente às metodologias de “projecto” e nisso se inclui até a criação e teste de hipóteses, algo que alguns dos nossos pedagogos do século XXI consideram ser uma espécie de santo graal do trabalho com os alunos.

Igualmente interessante é ver o que se considera serem os processos fracos, básicos e exemplares relacionados com a definição de objectivos, metodologias, recolha, tratamento e uso da informação disponível. Se tomarem atenção, aquilo que está a ser implementado entre nós fica quase por completo na coluna dos processos “básicos” e quase tudo o que se considera “exemplar” se baseia numa consistência transversal a grupos e níveis de ensino e não na sua adaptação (flexibilização) casuística, porque assim se perdem referenciais comuns para “aferir” (na verdadeira acepção do termo e não como entre nós se está agora a praticar, como mera “descrição”) a efectiva qualidade das aprendizagens.

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