Embora no site oficial do IAVÉ ainda nada esteja, foi escolhido o dia de ontem para divulgar o relatório das provas de aferição do ano lectivo anterior, quase um mês depois do início das aulas e muito mais tempo depois da definição das planificações pelos professores e escolas para este ano.
O resultado foi que hoje – Dia Mundial do Professor – a consequência foi o anúncio de uma espécie de catástrofe nos resultados (cf. Público, RTP, TVI24, etc) e, obviamente, a necessidade de tomar medidas. O interessante é que a realização destas provas de aferição, apresentadas como uma forma soft de avaliar os alunos, sem pressão sobre as escolas e apenas como ferramenta de monitorização das aprendizagens a meio do ciclo, está a transformar-se rapidamente no inverso e num pretexto para o SE Costa aparecer a forçar mais alterações na gestão do currículo e para dar a entender que a culpa é dos professores que precisam de mais “formação”.
Claro que tudo isto podem ser coincidências, notadas apenas por um teórico da conspiração. Mas… a forma e o timing da divulgação, bem como a retórica utilizada. Não deixa de ser curioso que a mesma equipa ministerial que reclamou o sucesso dos resultados dos alunos portugueses no PISA (“Recomendações do PISA estão plasmadas no programa do atual Governo”), agora apareça a legitimar o discurso catastrofista.
“Ninguém pode ficar tranquilo quando se tem um conjunto tão alargado de alunos que não está a aprender com qualidade”, comentou o secretário de Estado da Educação, João Costa, na apresentação dos resultados à comunicação social, acrescentando que estes dados mostram que o ministério teve razão quando antecipou a realização das provas de aferição para anos mais precoces, de modo a permitir “que as intervenções se façam atempadamente”.
Sinceramente, por um momento, sinto saudades de quem escreveu o seguinte sobre a desconformidade entre os resultados das avaliações feitas pelo IAVÉ e pelas entidades internacionais:
Os resultados contraditórios devem alimentar reflexão sobre se se estão a avaliar as mesmas dimensões e sobre a robustez dos diferentes instrumentos. Para referir apenas um exemplo, quando vemos que há uma progressão consistente dos resultados do PISA, mas os alunos portugueses não exibem o mesmo nível de progressão nos exames nacionais de 9-º e 12.º ano, devemos questionar as razões para esta assimetria e até avaliar os nossos próprios instrumentos de avaliação externa – um desafio para o Conselho Científico do IAVE.
E que tal fazer-se um estudo sobre o nível de empenho e preocupação da generalidade dos alunos com estas provas, que a maioria percebia serem de nulas consequências para o seu trajecto escolar? Ou esperar por ter dados suficientes para tirar conclusões, em especial por parte de quem tantas vezes afirmou que um “exame” ou prova num dado dia é apenas um elemento secundário na avaliação do trabalho dos alunos? Não será que apenas mudarem o pretexto para malhar nos do costume?

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