Aqui Não Há “Interesse dos Alunos”?

As regras de concessão das refeições nos refeitórios escolares continuam a ser feitas na base da lógica do tostão poupado (a SE Leitão chamar-lhe-ia “otimização dos recursos”). Os resultados são péssimos em mais locais do que seria aconselhável, as queixas são recorrentes, mas… não se passa nada. Se há miudagem que desperdiça comida? Talvez, mas isso justifica alguma da miséria que passa por ser comida para crianças e jovens para estas empresas que funcionam em regime oligopólio?

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E olhem que o prato que se vê à esquerda, mais atrás, ainda parece pior.

Haveria de Concordar

Com o Alexandre Homem Cristo (sim, eu não estou contra tudo o que ele ou outros escrevem, basta que escrevam coisas coerentes e com lógica não ditada por interesses). Estas provas de aferição, criando um corte com o que era passível de comparação a médio prazo, não explicam nada de relevante antes de alguma acumulação de dados ao longo do tempo. Em si mesmo são a tal “fotografia” que capta um momento, sem sequência e com critérios altamente discutíveis, do desempenho dos alunos. Mas como as provas das mesmas disciplinas só acontecerão de quando em vez, dificilmente será possível constituir uma série de dados que sirva mais do que agendas políticas de circunstância. Por exemplo, este ano os resultados foram “maus”, pelo que justificarão a intervenção em curso na gestão do currículo. Para o ano, prognostico melhores resultados (num outro pacote de provas) que, a um ano de eleições, permitirão “provar” a justeza de tal intervenção (tal como os resultados dos PISA 2015 justificaram a priori tal justeza).

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Paulo, Tu Este Ano Andas Esquisito!

E não é que é verdade? Nada como uma colega perspicaz (sem ponta de ironia) para uma observação perspicaz (sem pingo de ironia).

Porque realmente este será o ano em que, depois de tanta porcaria nos últimos 10-15 anos, terei atingido o limite de tolerância para com a idiotice armada em outra coisa, para os pedabobos profissionais, os especialistas na didáctica tuberculina, que nos inundam de teorias da treta, sempre prontos para culpabilizar terceiros pelas suas asneiras e para reclamar a coroa dos louros pelo que corre bem. Sim, a MLR foi um desastre e eu sei o último da fila para o negar; sim o Crato foi o da Direita conservadora e reaccionária no poder (whatever, desde que fiquem bem dispostos). Mas, por isso mesmo, seria de esperar que estes fossem qualquer coisinha de mais decente e não apenas de conversa de chacha contra o “exame da 4ª classe”.

Mas depois das estratégias do sucesso verdascado do ano passado e do pafismo (Projecto Autonomia e Flexibilidade, a que acrescentaram pouco depois “curricular” quando perceberam que o acrónimo lhes caía em cima mesmo à medida) deste ano do secretário Costa, veio o relatório das provas de aferição e a velha conversa de “os resultados dos alunos foram maus, os professores precisam de formação”, porque parece que continuam sem saber transmitir os conhecimentos aos alunos e sem conseguirem desenvolver aprendizagens relevantes para o Iavé. De novo, depois de toda a conversa sobre confiar nos professores e nas escolas, regressou a velha ladaínha do se-os-alunos-não-aprendem-a-culpa-é-dos-professores-e-tomem-lá-mais-formação-da mesma-outra-vez.

Vamos lá a ver uma coisa: o rai’s parta destas formações existe, desde que me lembro, há coisa de uns 25 para 30 anos, seja em forma contínua, seja em inicial, seja em exercício, seja no diabo a sete, ok? E a casta de formador@s nestas matérias das pedagogias fofinhas e dos desenvolvimentos curriculares flexíveis não mudou muito, apenas mudaram uns quantos de lugar, porque há quem tenha subido na hierarquia e agora mande mais e forme menos, quando não se reforma (porque podem e depois continuam a chagar-nos).

Portanto, para serem coerentes com a teoria se-os-alunos-não-aprendem-é-porque-os-professores-não-sabem-ensinar, seria bom que pensassem que se andam há 25-30 anos a espalhar esta fé e a ensinar/formar professores e a coisa não corre bem (é o que el@s dizem, eu discordo), não será porque os professores/formadores de futuros ou actuais docentes (que neste caso são alunos e não têm culpa de não aprender…) não saberão ensinar e transmitir as suas ideias?

Pensem lá nisso. Não será que a culpa é mesmo vossa, por o fim de tanto tempo ainda não terem conseguido espalhar o vosso Verbo por forma a que ele se transforme todo em Sucesso a 101% de saturação da mioleira?

Pensem nisso, mas não muito ou ainda se voz estraga a cremalheira neuronal.

Bunsen

(mas pior, pior mesmo, são aquelas criaturas que ainda acreditam nisto de fé mesmo convicta e acham que andam mesmo a “formar” almas ou quem, por oportunismo circunstancial, finge que acredita o que é pior do que cristão-novos e alheiras…)